Ilustração azul de 2 rins, parecem 2 feijões

Câncer de rim: estudos do A.C.Camargo são o trunfo para personalizar ainda mais o tratamento de cada pessoa

 
Publicado em: 17/06/2021 - 06:06:00
Linha Fina

No Dia Mundial do Câncer de Rim, saiba como o modelo integrado de um Cancer Center, que une assistência, ensino e pesquisa, está produzindo achados inéditos mundialmente – que deixam o cuidado cada vez mais individualizado 

O câncer de rim apresenta graus diversos de agressividade e formas de apresentação, definidas através do estadiamento clínico. Curiosamente, há casos de pacientes que têm tumores que estão no mesmo estadiamento, mas evoluem de forma diferente – um apresenta boa evolução e o outro, não.

Para marcar o Dia Mundial do Câncer de Rim, que neste 2021 está marcado para 17/6, mostramos que o combate a esse tipo de tumor tem evoluído graças a achados significativos da equipe do A.C.Camargo Cancer Center, que trabalha de forma integrada entre assistência, ensino e pesquisa.

São achados (veja o box no fim da matéria) que deixam o tratamento cada vez mais personalizado para cada paciente, que é um ser humano único. 


Características do indivíduo

Segundo o Dr. Stênio Zequi, líder do Centro de Referência em Tumores Urológicos do A.C.Camargo, alguns pacientes com o mesmo estadiamento tumoral – este vai de 1 a 4, de acordo com a gravidade – evoluem de formas diferentes porque há características que são individuais de uma pessoa, como suas comorbidades e sua região de nascimento.

O especialista conta que, desde 2010, sua equipe tem estudado muito o tema com casos de pacientes do A.C.Camargo e do banco de dados do Latin American Renal Cancer Group, o LARCG, entidade a qual ele é cofundador e coordenador – reúne mais de 6 mil casos vindos de países latino-americanos e da Espanha, além do Brasil. 

“Identificamos alguns fatores de risco presentes na nossa população que são inéditos na literatura científica ou muito pouco explorados por autores dos EUA e Europa como fatores prognósticos importantes”, afirma o Dr. Stênio.

Ou seja, existem fatores prognósticos para câncer de rim iguais aos dos países desenvolvidos, como o tabagismo e a obesidade, mas há outros inerentes a pacientes ibero-latino-americanos. 

“Estes vêm da nossa miscigenação racial, que acarreta características genéticas, bem como da dieta. Notamos isso em 21 artigos que publicamos internacionalmente de 2014 para cá, quando começamos no LARCG, que mostram fatores prognósticos clínicos e biomoleculares”, explica o Dr. Stênio. 

Um exemplo de achado inédito tem a ver com pacientes com câncer de rim metastático. “Na Europa e nos EUA, sempre se apontou que a metástase no pulmão garante maior sobrevida que a metástase nos ossos, mas nossos dados hispano-latino-americanos mostraram o contrário, desde que essa metástase não atinja a coluna”, acrescenta o médico. 


Vigilância ativa x comorbidades

Outro fator importante são as comorbidades. Para definir, por exemplo, se um paciente pode ser ou não operado, leva-se em conta a classificação de riscos anestésicos da ASA, American Society Anesthesiology

Esta classificação, que vai de 1 a 5, considera se a pessoa é sadia (1), se tem poucas doenças controláveis como diabetes e hipertensão mas está apta à cirurgia (2), até chegar ao grau 5, designado para pacientes que estão em estado bem grave. 

“Quando operar é um risco, seja por comorbidades ou pela faixa etária avançada, analisamos alguns fatores prognósticos e podemos adotar a chamada vigilância ativa, monitorando o paciente com consultas e exames periódicos”, explica o Dr. Walter Henriques da Costa, urologista que também integra o Centro de Referência em Tumores Urológicos do A.C.Camargo e o LARCG.

“Esses fatores incluem o tamanho do tumor, o grau de agressividade, entre outros”, conta o médico. 


Marcadores e hormônios 

Órgão endócrino, o rim produz hormônios que servem como marcadores que ajudam a entender melhor aquele tumor renal e, assim, ajudam os médicos a propor a melhor estratégia de tratamento. 

No entanto, poucos centros do mundo olham para a questão endócrina como fator prognóstico para o câncer de rim. 

Dois desses hormônios são importantes marcadores: renina, associada ao controle da pressão arterial; e eritropoetina, ligada à produção de glóbulos vermelhos. 

Publicamos vários estudos internacionais sobre isso. Uma dessas pesquisas mostrou que a menor expressão da renina está associada a uma sobrevida global pior e a mais chances de metástase. Outro estudo nosso demonstrou o mesmo resultado em relação à eritropoetina.

“Um aluno do nosso doutorado, que analisou renina e eritropoetina num mesmo estudo, viu que pacientes com boa expressão desses dois hormônios vivem mais, melhor e têm menos riscos metástase do que as pessoas que perdem expressão de um desses hormônios”, conta o Dr. Stênio Zequi.


Câncer de rim, pesquisas e tratamento mais personalizado

Todas essas informações anatomopatológicas associadas às informações clínicas dos pacientes são empregadas para definir a melhor estratégia de tratamento, para fazer com que ele seja mais personalizado. 

“E, nos últimos anos, além de todas essas informações clássicas, temos utilizado ferramentas adicionais que são as variáveis biomoleculares. Estamos entendendo melhor a biologia do tumor, as vias de sinalizações envolvidas em toda a biologia dele, ao utilizar marcadores proteicos. Dependendo do perfil da expressão do tumor, a gente tem como prever melhor”, explica o Dr. Walter Henriques da Costa.

“Nestes anos, conseguimos identificar marcadores que são ferramentas úteis na predição do avanço da doença ser ou não mais rápido, isso nos ajuda a traçar a estratégia mais eficaz”, acrescenta o Dr. Walter.

O médico também destaca que tudo isso resulta da forte tradição do A.C.C. no volume de pesquisas publicadas. “Somos o grupo que mais publica estudos sobre câncer de rim no Brasil, talvez um dos que tenha a maior produção mundial na área de identificação de biomarcadores em câncer renal”, afirma. 

“Trabalhamos para tentar identificar fatores moleculares prognósticos em câncer renal, tanto marcadores e moléculas presentes no tumor primário como no tecido metastático. Temos um banco de dados com mais de 750 pacientes com tumores de células claras, o subtipo mais comum, e também um banco grande com amostras de tecidos metastáticos”, diz o Dr. Walter. 


Dia Mundial do Câncer de Rim 2021: "Precisamos falar sobre como estamos nos sentindo"

Este é o mote da campanha de conscientização sobre o câncer de rim da International Kidney Cancer Coalition, a IKCC (Coalizão Internacional do Câncer de Rim, em tradução livre). Uma campanha atrelada ao Dia Mundial do Câncer de Rim.

Quando se tem câncer de rim, a vida pode soar angustiante e solitária. Quadros de ansiedade, depressão e medo de piora são comuns. A IKCC publicou uma pesquisa global que mostrou que 96% dos pacientes sofrem de problemas psicossociais, mas menos da metade se abre sobre isso com a família, amigos ou profissionais da saúde.

O lado bom é que outros estudos concluem que aqueles que se abrem sobre essas emoções costumam se sentir melhor, sem contar que essas conversas também podem levar a mudanças simples no estilo de vida e transformar sua jornada no enfrentamento do câncer de rim.

Stenio Zequi, homem branco, cavanhaque, cabelo preto e jaleco do A.C.Camargo
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Poucos centros do mundo olham para a questão endócrina como fator prognóstico para o câncer de rim. Estamos trabalhando muito há mais de 10 anos para mostrar esses resultados com validação da literatura internacional.
Doutor Stênio Zequi, líder do Centro de Referência em Tumores Urológicos do A.C.Camargo
Câncer de rim: achados importantes da equipe do A.C.Camargo e do LARCG

Estas descobertas contribuem para que se entenda melhor cada paciente individualmente e, logo, se adote a melhor estratégia de tratamento:

- Um dos achados inéditos é sobre o câncer de rim metastático. Na Europa e nos EUA, sempre apontou-se que a metástase no pulmão garante maior sobrevida que nos ossos, mas nossos dados hispano-latino-americanos mostraram o contrário, desde que essa metástase não atinja a coluna.

- Tumores de rim com necrose são fatores de risco para outros tumores.

- Metastáticos: um trabalho com o LARCG mostrou que dos 550 pacientes com metástase que fizeram cirurgias de nefrectomia, 511 tiraram o rim – uma informação que normalmente os oncologistas clínicos não têm. 

- Cirurgias: estudo feito em parceria com o México mostrou que é possível fazer nefrectomias parciais e remover tumores renais em pacientes com mais de 75 anos sem maiores complicações se compararmos a pacientes na faixa dos 65 anos.

- Um aluno do doutorado do A.C.C. publicou um artigo em que avaliou mais de 1600 casos com nefrectomia parcial, que é a cirurgia na qual se remove o tumor sem tirar o rim. O trabalho revelou que operar pacientes com mais de 65 anos pode resultar em melhora na sobrevida deles. Muitas vezes, os cirurgiões ficam com medo de fazer a operação neles. 

- Hormônios: a menor expressão da renina está associada a uma sobrevida global pior e a mais chances de metástase. Outro estudo demonstrou o mesmo resultado em relação à eritropoetina. Um terceiro estudo, que analisou esses dois hormônios ao mesmo tempo, mostrou que pacientes com boa expressão de renina e eritropoetina vivem mais, melhor e têm menos riscos metástase do que as pessoas que perdem expressão de um desses hormônios.

- Com base num banco com mais de 700 casos do A.C., 5500 do banco do LARCG e outros 350 do Hospital Italiano de Buenos Aires, notou-se que tumores com invasão da gordura perirrenal, que é a gordura fica ao redor do rim, têm pior prognostico tanto em um tumor localizado como nos metastáticos. 

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