Pesquisa

Novos testes moleculares promovem evolução no tratamento do câncer de endométrio

Linha Fina

Um avanço para toda a classe, tanto na classificação dos tumores, quanto em medicamentos e tratamentos

 

 

Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de corpo do útero ou câncer de endométrio é o 7º mais incidente entre as mulheres e tem como estimativa 7.840 novos casos para cada ano deste triênio (2023-2025). O principal sintoma da doença é o sangramento vaginal após a menopausa (+60 anos, sendo incomum em mulheres com menos de 45 anos), o que leva milhares de mulheres a procurar auxílio médico.  

O principal tratamento para o câncer de endométrio é o cirúrgico e entre as terapias complementares após a cirurgia, entra a quimioterapia e/ou radioterapia. A maioria dos diagnósticos é feito em estágio inicial e tem altos índices de cura, refletida em excelentes taxas de sobrevida. Por outro lado, há uma parcela significativa que apresenta características adversas, incluindo um cenário biologicamente mais agressivo. 

Por isso, identificar o câncer de endométrio o quanto antes é importante para garantir que as mulheres recebam os cuidados adequados baseados em evidências e evitem o retorno da doença.

Dr. Ronaldo Pereira Souza
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“Ao mesmo tempo, também evita danos e custos de tratamentos desnecessários para aquelas com menor risco”
Dr. Ronaldo Pereira Souza

Os parâmetros atuais para descobrir informações como o estadiamento, grau da doença, nível de agressividade, entre outras, infelizmente, ainda leva a uma estimativa imprecisa sobre o risco de recorrência e morte. Para ajudar a evoluir este cenário, recentemente, o TCJA (The Cancer Genome Atlas) propôs, via testes moleculares, um esforço para caracterizar grupos de cânceres de endométrio com alterações genéticas e prognósticos distintos.  

“Hoje, a classificação molecular é considerada uma ferramenta valiosa para selecionar pacientes que precisarão de mais intervenções de tratamento, devido ao maior risco de recorrência, como no p-53 aberrante. Por outro lado, grupos de melhor prognóstico, como o POLE ultramultado, podem não precisar de quimioterapia em estágios iniciais. As pacientes MSI-H também representam o subgrupo de maior benefício da imunoterapia na doença metastática”, explica Dr. Ronaldo Pereira Souza

Além disso, novos medicamentos estão sendo testados em estudos clínicos, de acordo com essa classificação molecular. Também é importante mencionar que algumas pacientes deverão passar por avaliação genética para rastreio de síndrome Lynch, uma doença hereditária que predispõe risco de cânceres como colorretal e endométrio, caracterizando assim mais um avançando na medicina de precisão neste tipo de câncer.

Diagnóstico e tratamento oncológico de adolescentes e jovens adultos é abordado por especialista do A.C.Camargo

Você sabia que as neoplasias malignas são a principal causa de morte entre pacientes AYAs (Adolescents and Youngs Adults), quando excluído suicídio e acidentes inesperados? 

Foi sobre o desdobramento deste tema que a Dra. Viviane Sonaglio, líder do Centro de Referência em Tumores Pediátricos e Head da Pediatria do A.C.Camargo Cancer Center, abordou em uma das palestras realizadas na edição de 2023 do Next Frontiers to Cure Cancer

Como um dos principais ganchos, a Dra. Viviane falou sobre o grau de especificidade de tumores cerebrais em AYAs, que apresentam problemas adicionais, como comprometimento e deterioração cognitiva, deficiência e deterioração hormonal e alteração na aparência dos tumores e o alerta para o fato de que o cuidado oncológico deles, normalmente, não é uniforme. "Eles frequentemente ficam entre os serviços pediátricos e adultos em muitos países, levando a uma entrada deficiente em ensaios clínicos, a uma sobrevida mais pobre e a muitos problemas psicossociais", relata a médica oncologista. 

Ela alertou também o quanto isso reflete a falta de melhoria na sobrevivência geral entre adolescentes e jovens adultos desde a década de 1970 até o início dos anos 2000, em relação às melhorias observadas em crianças e adultos mais velhos. Frente a crianças, por exemplo, foi relatada sobrevida inferior para AYAs para vários tipos de câncer, aumento da frequência e gravidade da toxicidade relacionada ao tratamento. 

Há defasagem na inscrição destes pacientes em ensaios clínicos, já que os protocolos têm sido tradicionalmente desenvolvidos por oncologistas pediátricos ou adultos, normalmente com pouca ou nenhuma colaboração entre os dois grupos. A biologia do tumor e o seu resultado clínico diferem entre as faixas etárias e, com isso, sugerem diferentes abordagens para cada idade 

Linha Aspas Simples
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Não há diretrizes de diagnóstico ou tratamento consensuais definidas para pacientes nesta faixa etária

Dra. Viviane Sonaglio

Estes quadros geram uma clara necessidade de cuidados multidisciplinares, envolvendo neuro-oncologistas pediátricos e adultos, neurocirurgiões, oncologistas de radiação e neuropatologistas. No A.C.Camargo Cancer Center, por exemplo, temos uma unidade dedicada ao paciente adulto, que conta com suporte integrado e hiperespecializado. 

Embora as taxas de mortalidade entre AYAs com câncer como um todo tenham diminuído em aproximadamente 0,8% ao ano, a taxa de sobrevivência de AYAs com tumores do SNC não melhorou.

Next Frontiers 2023: especialista do A.C.Camargo fala sobre apoio a tomada de decisão de pacientes com glioma recorrente de alto grau

Em uma palestra de extrema importância para a evolução da oncologia, intitulada "A vida e o câncer do sistema nervoso central", a Dra. Valesca Tanaka, especialista em cuidados paliativos no A.C.Camargo, abordou na edição de 2023 do evento Next Frontiers to Cure Cancer, um estudo recente que aborda o desenvolvimento de um auxílio a decisões tomadas por pacientes com glioma recorrente de alto grau, quando a mesma é compartilhada. 

"Cerca da metade dos pacientes que sofrem com tumores cerebrais tem comprometimento da capacidade de consentimento logo após o diagnóstico, indicando que esta é uma questão crucial para a prática clínica", frisa a especialista e reforça que o funcionamento neuro cognitivo destes pacientes pode piorar ao longo do tempo e ter implicações relevantes em diferentes fases da doença, até mesmo no processo de tomada de decisão em fim de vida. 

Em decorrência ao tema, o artigo publicado em 2022, chamado "Development of a Patient Decision Aid to Support Shared Decision Making for Patients with Recurrent High-Grade Glioma", apresenta o desenvolvimento de um auxílio à decisão do paciente, através de um processo interativo, com base em conhecimentos existentes, nos Padrões Internacionais de Apoio à Decisão do Paciente, o PtDA, e em testes com usuários potenciais para avaliar sua aceitabilidade e usabilidade. 

Em seu abstract, os pesquisadores defendem que "quando os gliomas de alto grau recorrem, os pacientes, suas famílias e os médicos enfrentam decisões médicas difíceis. Não existe tratamento curável e todas as opções de tratamento apresentam risco de complicações e efeitos adversos. Os pacientes são frequentemente afetados cognitivamente e precisam de apoio à decisão". Após onze pacientes, nove familiares e onze médicos avaliarem o PtDA ele foi considerado aceitável. 

Linha Aspas Simples
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A capacidade de tomar decisões é fundamental para que o direito a autonomia possa ser exercido.

Dra. Valesca Tanaka

Confira ainda mais conteúdos que fizemos na nossa cobertura exclusiva que fizemos do Next Frontiers to Cure Cancer 2023 especialmente para vocês! 

Fapesp seleciona projeto do A.C.Camargo para financiamento

Linha Fina

A.C.Camargo Cancer Center é a única instituição privada contemplada pela iniciativa que financiará mais de R$2 milhões em aquisição de equipamentos.
 

Na última semana de agosto a Fapesp – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, contemplou alguns centros de pesquisa com uma série de recursos para aquisição de equipamentos. Ao todo, 13 unidades receberam os valores, sendo o A.C.Camargo a única instituição privada.

Este resultado confirma, mais uma vez, a excelência do Centro Internacional de Pesquisa e Ensino (CIPE) do A.C.Camargo Cancer Center que é referência nacional em produção científica e formação médica oncológica no Brasil.

O resultado da “Chamada para Equipamentos Multiusuários para Uso Tecnológico e em Inovação”, promovido pela agência de fomento beneficiou instituições como Butantã, Hospital das Clínicas (HCFMUSP), Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e ITA.

O projeto apresentado pelo A.C.Camargo contemplado foi o “EMU de Inovação: Aquisição de plataforma de análise de modelos ex-vivo para oncologia de precisão”, submetido pela pesquisadora principal do grupo de Genômica e Biologia Molecular e responsável pela divisão de pesquisa e desenvolvimento do núcleo de genômica, Dra. Dirce Carraro.

O que a Fapesp financiará?

Ao todo são mais de R$ 2 milhões em investimentos que serão utilizados para a aquisição de um sistema “Mica Widefield Live Cell”, fabricado pela Leica Microsystems, no valor de US$ 326.865,70 (R$ 1.627.791,69 - na cotação do dólar em 11/9), três bolsas técnicas de 24 meses (72 meses total) no valor de R$ 274.348,80 e recursos para reserva técnica no valor de R$ 247.600,76.

“O sistema Mica, adquirido nesse processo, será o único em atividade no Brasil. Esse equipamento, um microhub extremamente automatizado, de fácil manuseio e com interface compatível com inteligência artificial (IA), que pode ser treinada para reconhecer estruturas nas células vivas analisadas, garantindo consistência e imparcialidade na avaliação”, explica a pesquisadora. 
 

Dra. Dirce Carraro
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O estabelecimento dessa plataforma visa, de forma inovadora, impulsionar a precisão do tratamento oncológico, principalmente dos pacientes diagnosticados em estágios avançados
Dra. Dirce Carraro

Além disso, o equipamento tem uma série de aplicações, entre elas, e a mais importante no projeto do centro de pesquisas do A.C.Camargo é que o equipamento permitirá precisão, reprodutibilidade, rapidez, a avaliação simultânea de várias réplicas do mesmo tumor que foram expostas a diferentes fármacos, assegurando a seleção confiável dos fármacos mais eficientes.

A aquisição destes equipamento ampliará a capacidade do centro de pesquisas do A.C.Camargo no campo da biologia do câncer e possibilitará a criação de uma plataforma de alto desempenho para testar de forma simples e precisa diferentes tratamentos oncológicos em réplicas de tumores derivados de pacientes possibilitando a escolha da melhor terapia, de forma ex-vivo, aumentando a chance de resposta do paciente oncológico. 

“O estabelecimento dessa plataforma visa, de forma inovadora, impulsionar a precisão do tratamento oncológico, principalmente dos pacientes diagnosticados em estágios avançados com baixa expectativa de cura ou de controle de doença, com tumores raros ou apresentações raras”, conclui Dirce.  
 

Câncer de reto: pesquisa revela que protetores gástricos não afetam a eficácia da quimioterapia oral capecitabina

Linha Fina

Quando ingeridos de forma controlada, eles ajudam a proteger o paciente de um dos sintomas mais recorrentes no tratamento

 

Ocupando o segundo lugar no ranking de neoplasias mais incidentes no Brasil, o câncer colorretal, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), poderá aparecer em cerca de 45.630 novos diagnósticos neste triênio (2023-2025), sendo mais recorrente em mulheres (23.660) do que em homens (21.970). 

Apesar da estimativa, as taxas de cura são muito altas quando o diagnóstico é feito de forma precoce, tendo como tratamento a cirurgia (na maioria dos casos) e também a quimioterapia e radioterapia. 

Quando a indicação segue para a quimioterapia, o medicamento mais recorrente é a capecitabina, administrada de forma oral, tendo como um dos seus principais efeitos colaterais a queimação estomacal. Por isso, em muitos casos, os pacientes optam por ingerir protetores gástricos. 

Mas, a questão é que, há anos, estes medicamentos vêm sendo apontados como detratores da eficácia desta

quimioterapia e até responsáveis por maiores chances de a doença voltar. Mas, recentemente, a pesquisa "Influence of proton pump inhibitors on the pathological response of rectal cancer: a multicentre study", que contou com a presença da nossa head de oncologia clínica, Dra. Rachel Riechelmann, do líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais, Dr. Samuel Aguiar Jr e da Dra. Marcelle Goldner no board de pesquisadores, veio para mostrar que não é bem assim. 

"Fizemos um estudo com pacientes da América Latina que estavam tratando câncer de reto como capecitabina e radioterapia ingerindo protetores gástricos - remédios da classe do omeprazol, os chamados bloqueadores de bomba de prótons - e a nossa interpretação é de que foi seguro, não interferiu na eficácia do tratamento de quimio-radioterapia. Isto é, as taxas de cura foram semelhantes quando comparamos os grupos de pacientes que usaram ou não os protetores gástricos", resume a Dra. Rachel.  

É importante destacar que há uso indiscriminado de protetores gástricos, por se acreditar que são drogas seguras. Porém, o uso crônico desses remédios pode levar a problemas sérios, como osteoporose e efeitos tóxicos para o fígado, além de poder interferir na eficácia de outros remédios. Assim, seu uso deve ser sempre orientado por um(a) médico(a). 

Foram 251 casos analisados, de 2007 a 2020, dezenas de médicos pesquisadores envolvidos e um resultado que impacta fortemente toda a classe oncológica e os pacientes que hoje poderão contar com mais este auxílio para amenizar os efeitos colaterais e melhorar sua qualidade de vida enquanto fazem o tratamento. 
 
 

Estudo que gera o 1° consenso de diretrizes sobre câncer anal tem a coautoria de especialistas do A.C.Camargo

Linha Fina

Dra. Rachel Riechelmann e Dr. Samuel Aguiar Junior contribuem com novidades sobre tratamento, prevenção, triagem e muito mais para toda a classe oncológica 

Com o intuito de oferecer mais recursos em evidências científicas e compartilhar conhecimento em prol da vida, os nossos médicos oncologistas, Dra. Rachel Riechelmann, head do departamento oncologia clínica e vice-líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais e o Dr. Samuel Aguiar Junior, líder do mesmo Centro de Referência, se uniram a um grupo de pesquisadores para desenvolver o 1º consenso de diretrizes sobre câncer anal, viabilizado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Cirúrgica (SBCO).   

O ponto de estopim para o início do estudo é de que, apesar de ser uma doença relativamente incomum e com baixo potencial metastático somente 15% ela tem se multiplicado nas últimas décadas e criado um alerta para sistemas de saúde do mundo inteiro.  

Após analisarem 121 estudos e se balizarem em 30 tópicos importantes sobre a doença, o trabalho publicado no Journal of Surgical Oncology em abril deste ano, intitulado Guidelines for the management of anal canal cancer, apresenta, através de informações o mais claras e objetivas possíveis, novidades dedicadas para recomendações de rastreamento, prevenção e exames, estratégias de tratamento, avaliação de resposta após quimiorradioterapia, aspectos e recomendações de acompanhamento na técnica cirúrgica, entre outras. 

Nova triagem e grupos de risco 

Entre os destaques, a recomendação para a detecção precoce do câncer de ânus é de que os exames preventivos comecem já aos 35 anos, mesmo não havendo sintomas aparentes, já que estudos epidemiológicos mostraram que esta é uma idade na qual as chances desse tipo de câncer se desenvolver aumentam. 

Afunilando esta parcela populacional para os grupos de risco, o rastreamento da doença é recomendado para pessoas imunossuprimidas, incluindo aquelas que passaram por transplante de órgãos sólidos e de medula óssea, as que vivem com HIV, mulheres com histórico de câncer de vulva e homens que tem relações sexuais com outros homens.  

Vacinação como estratégia de prevenção 

Um dos grandes vilões do câncer de ânus é a infecção viral causada pelo papiloma vírus humano, o HPV e também pelo vírus de imunodeficiência humana, HIV, este mais relacionado a imunossupressão causada no organismo. Além disso, também é possível citar o histórico de doenças sexualmente transmissíveis, entre outras questões. 

Por isso, uma das grandes recomendações da equipe de cirurgiões, oncologistas e radioteraoeutas que realizou o estudo é também a vacinação contra HPV, que pode ser encontrada na rede do SUS (Sistema Único de Saúde) para pessoas entre 9 e 14 anos e também para todo o grupo de risco citado anteriormente. 

Tratamento do câncer anal 

Falando sobre tratamento, o estudo aponta que o principal a ser abordado neste tipo de câncer que, inclusive, é utilizado em experiências realizadas no próprio A.C.Camargo Cancer Center, é a combinação de quimioterapia e radioterapia com a moderna técnica IMRT (Intensidade Modulada de Radiação). "Esta técnica chega a curar mais de 90% dos pacientes tratados", frisa a Dra. Rachel Riechelmann. 

As diretrizes, pela primeira vez, também apontam recomendações de reabilitação pós-tratamento de quimio-radioterapia, como por exemplo, o tratamento preventivo de estenose (estreitamento) vaginal que pode acontecer com mulheres que ficam curadas.   

Em sequência aos estudos, a Dra. Riechelmann têm liderado testes - com participação do Dr. Samuel - dentro da instituição com probióticos pelo objetivo de reduzir efeitos adversos do tratamento.

Avanços no tratamento do câncer gástrico, classificação molecular e novas terapias

Linha Fina

Confira esta edição da coluna Fala, Doutor" com o Dr. Felipe Coimbra e Dr. Tiago Felismino

O câncer gástrico ocupa o quinto lugar em incidência global e é a quarta principal causa de morte relacionada ao câncer. Trata-se de uma doença distinta em diferentes regiões geográficas e isso é demonstrado pela variabilidade nos fatores de risco e prognóstico.  

Anteriormente, a classificação desses tumores se baseava apenas na caracterização histológica, ou seja, avaliação do tipo celular identificado apenas por exame mais superficial ao microscópio, o que limitava a interpretação do prognóstico e predição de resposta, por exemplo. 

Porém, em 2014, um estudo chamado The Cancer Genome Atlas (TCGA) publicou uma análise abrangente com a caracterização molecular do DNA, RNA e proteínas de 295 casos de câncer gástrico diagnosticados e ressecados, gerando um conhecimento ainda mais detalhado e, associado a outros progressos, um dos responsáveis pelo aumento dos resultados de sobrevida ao longo das últimas décadas. As amostras foram classificadas em quatro subgrupos de acordo com a classificação molecular, que são: 

  • Subgrupo positivo para vírus Epstein-Barr (EBV) (8,8%): relacionado à infecção pelo EBV, esses tumores exibem hipermetilação do DNA, superexpressão de PDL1 e mutações não silenciosas no gene PIK3CA. 
  • Instabilidade de microssatélites (MSI) (21,6%): mais comum em pacientes idosos e caracterizado por alta carga mutacional do tumor (TMB) e hipermetilação (incluindo o promotor do gene MLH1). 
  • Genomicamente estáveis (GS) (19,6%): caracterizados por um baixo número de mutações e fusões do gene CLDN-18. 
  • Instabilidade cromossômica (CIN) (49,8%): apresentam amplificações significativas de receptores tirosina quinase. 

Essa classificação revelou diferenças no prognóstico e levou a estratégias de tratamento mais personalizadas. Por exemplo, o subgrupo CIN frequentemente apresentou amplificação do fator de crescimento endotelial vascular A (VEGFA), que funciona como um alvo para determinados medicamentos, tornando-o mais sensível ao tratamento com Ramucirumab, por exemplo, um anticorpo monoclonal anti-VEGFR2, em pacientes com câncer gástrico metastático. 

O gene do receptor 2 do fator de crescimento epidermal humano (HER2) foi amplificado em 14-22% dos cânceres gástricos, principalmente em tumores CIN na junção gastroesofágica.  

Terapias direcionadas a HER2, como trastuzumabe e trastuzumabe-deruxtecan, mostraram eficácia clínica em estágios avançados. Além disso, a amplificação do receptor do fator de crescimento de fibroblastos (FGFR) é prevalente no subtipo CIN e recentemente mostrou-se tratável com o anticorpo anti-FGFR, bemarituzumabe, em tumores com amplificação ou superexpressão do FGFR2B. 

Nos demais subgrupos gástricos, tumores EBV e MSI frequentemente apresentam superexpressão de PDL1 e alta TMB, demonstrando benefício clínico da imunoterapia em doença avançada. A claudina 18-2 é superexpressa em 20-30% dos tumores gástricos, mais frequentemente em tumores GS. O tratamento com zolbetuximabe, um anticorpo monoclonal anti-claudina 18, mostrou eficácia clínica em ensaios clínicos de fase III em câncer gástrico metastático. 

Em suma, a classificação molecular do câncer gástrico pelo TCGA teve um grande impacto na implementação de novas terapias direcionada, permitindo tratamentos mais personalizados.

 

Dr. Tiago Cordeiro Felismino
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É importante notar que os subgrupos TCGA não são estáticos, pois o tratamento pode desencadear mudanças moleculares ao longo do tempo, o que será relevante no futuro para entender essa evolução.
Dr. Tiago Cordeiro Felismino, vice-líder do Centro de Referência em Tumores do Aparelho Digestivo Alto


Temos observado um ganho significativo de sobrevida para pacientes com câncer de estômago e isso se deve também ao desenvolvimento da ciência em outras áreas, assim como a interação da pesquisa básica com a prática clínica. Também é importante ressaltar o enorme desenvolvimento dos tratamentos cirúrgicos, com o uso cada vez maior de cirurgias laparoscópicas e robóticas associadas a protocolos de recuperação precoce e pré-habilitação cirúrgica.   

Esses protocolos ainda pouco utilizados em centros não especializados e permitem uma recuperação mais rápida e segura, com menor risco de sangramento e ganho de qualidade de vida no pós-operatório imediato. O desenvolvimento de uma rede interdisciplinar com as diversas especialidades médicas e multiprofissionais permitiu também que o paciente ganhasse os melhores benefícios de cada área. 

Dr. Felipe José Fernández Coimbra
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A integração da estrutura física e cultural alavancaram este desenvolvimento em conjunto com assistência, pesquisa e ensino no nosso cancer center, refletindo em maiores chances de cura para pacientes com câncer esôfago-gástrico e hepatobiliopancreáticos.
Dr. Felipe José Fernández Coimbra, líder do Centro de Referência em Tumores do Aparelho Digestivo Alto


Recentemente, o setor de registro hospitalar, coordenado pela Dra. Maria Paula Curado e Diego Rodrigues Silva, demonstraram esta mudança, com um ganho de 100% de sobrevida nos últimos 17 anos para o câncer gástrico tratados na instituição.  Abaixo, confira os dados do nosso Observatório do Câncer, que comprova o aumento da probablidade de sobrevida global em cinco anos para ambos os sexos.

Dados do Observatório do Câncer

 

A.C.Camargo desenvolve estudo que pode ampliar imunoterapia para câncer de pâncreas

Linha Fina

Pesquisadores identificaram estrutura celular capaz de aumentar a resposta do organismo a tumores de pâncreas
 

Em maio, o grupo de imuno-oncologia translacional do Centro Internacional de Pesquisa (CIPE) do A.C.Camargo Cancer Center, Dr. Tiago Medina, Dra. Gabriela Kinker e equipe, publicaram um artigo científico que pretende ampliar as opções terapêuticas para pacientes com câncer de pâncreas. O objetivo do estudo é dar uma nova perspectiva sobre o papel do sistema imune durante o tratamento de tumores de pâncreas. A iniciativa também contou com a participação do Centro de Referência de Tumores do Aparelho Digestivo Alto, liderado pelo Dr. Felipe Coimbra”. 

O estudo, denominado “Mature tertiary lymphoid structures are key niches of tumour-specific immune responses in pancreatic ductal adenocarcinomas”, é do tipo básico-translacional — pesquisas realizadas em laboratório para entender em detalhes o comportamento de cada tumor por meio de análises de dados experimentais.

Os resultados revelam que as estruturas linfoides terciárias maduras (mTLS) agem como compartimentos fundamentais para ampliar a resposta imune voltada para adenocarcinomas ductais pancreáticos (tumores de alta agressividade no pâncreas). “Essas estruturas são muitas vezes formadas em regiões contíguas ao tumor, o que favorece a organização do sistema imunológico e propicia a eliminação das células tumorais”, explica Medina.

Vale ressaltar que o câncer de pâncreas é considerado extremamente agressivo e possui poucas opções de tratamento. Além disso, possui uma taxa de sobrevivência notoriamente baixa. Por isso, a compreensão da relação entre esses tumores e o sistema imunológico é crucial para desenvolver novas terapias eficazes.
 

Dr. Tiago Medina
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A grande descoberta do trabalho é a resposta do sistema imunológico é muito mais potente e vantajosa quando as células se organizam nessas estruturas
Dr. Tiago Medina

 

Como a estrutura descoberta funciona contra o câncer de pâncreas?

A publicação demonstra que em adenocarcinomas ductais pancreáticos a organização de células do sistema imunológico em estágio maduro são “estruturas-chave” para o desencadeamento de respostas imunes contra o tumor. Elas abrigam um rico emaranhado de células imunes – linfócitos B e T – que colaboram para identificar e atacar os tumores. 

“Quando estes linfócitos atuam de maneira organizada, a comunicação entre eles é mais eficiente. O linfócito B tem como principal função a secreção de anticorpos que vão combater melhor o tumor. Já o linfócito T, da mesma maneira, se beneficia dessa estrutura gerando uma resposta capaz de eliminar direta e adequadamente o tumor”, acrescenta o Dr. Tiago Medina.

Nessa organização espacial foi identificada na área central uma maior concentração de linfócitos B, enquanto na área externa, ficam localizados somente linfócitos T. Ao atingir um estágio de organização mais maduro, foi identificado pelos pesquisadores o ponto alto da estrutura no combate à célula tumoral, onde há maior resposta imune contra o tumor e maior eficácia do organismo do paciente em resposta à imunoterapia. 

A estrutura possui diferentes etapas de desenvolvimento e maturação. Dedicados ao projeto conduzido no laboratório de Imuno-oncologia Translacional do CIPE, os pesquisadores notaram que as respostas imunes contra o tumor são desenvolvidas somente quando as estruturas estão completamente maduras. O processo de amadurecimento é gradual, complexo e envolve diferentes etapas que culminam na formação do centro germinativo, uma região necessária para a formação de anticorpos contra o tumor.

Dra. Gabriela Kinker
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A ideia é induzir, de alguma maneira, a formação dessas estruturas para beneficiar uma parcela maior de pacientes.
Dra. Gabriela kinker

Este entendimento pode abrir um precedente histórico para o desenvolvimento de novas estratégias de tratamento que visam aprimorar a formação e função das mTLS, com o objetivo de amplificar a resposta imunológica contra o tumor. Ele pode ensinar a combinar eficientemente diferentes tipos de imunoterapias que poderiam ser administradas simultaneamente. Deste modo, é possível transformar um diagnóstico normalmente preocupante em uma condição mais controlável e, eventualmente, curável para mais de 20% dos pacientes diagnosticados.
Próximos passos

“Sobre os desdobramentos clínicos deste estudo, notamos que os pacientes que formam espontaneamente essas estruturas respondem melhor às quimioterapias e imunoterapias”, acrescenta Medina. Após essa descoberta, os próximos passos são evoluir a pesquisa e desenvolver medicamentos imunobiológicos que induzam o organismo dos pacientes a gerar esse tipo de estrutura de maneira artificial para os pacientes que não conseguem criar as estruturas naturalmente. 

“Essa seria uma alternativa para os pacientes refratários – que não respondem à imunoterapia – passarem a responder ao tratamento. A grande descoberta do trabalho é: a resposta do sistema imunológico é muito mais potente e vantajosa quando as células se organizam nessas estruturas”, conclui Medina.

Para Gabriela Kinker, o maior objetivo agora é desenvolver algum fármaco que faça com que essas estruturas apareçam em pacientes incapazes de desenvolvê-las naturalmente. “A ideia é induzir, de alguma maneira, a formação dessas estruturas para beneficiar uma parcela significativamente maior de pacientes. A partir daí, terapias combinatórias podem ser uma solução para aumentar a taxa de pacientes que responderão eficientemente ao tratamento.”

A.C.Camargo Cancer Center participa da Best of ASCO 2023

Linha Fina

Especialistas do A.C.Camargo são escalados para moderar e discutir sobre as novidades apresentadas no ASCO Annual Meeting 2023, durante a Best of ASCO
 

A participação em congressos nacionais e internacionais é uma boa ferramenta para desenvolver o corpo clínico atualizado além de compartilhar e atualizar conhecimento com outras instituições oncológicas mundo a fora. Este é o caso da participação do A.C.Camargo Cancer Center na Best of ASCO 2023, edição Brasil, que ocorrerá em São Paulo, nos dias 16 e 17 de junho.

Fundada em 1964, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (American Society of Clinical Oncology – ASCO) é uma organização com protagonismo mundial para médicos e profissionais de oncologia. Todos os anos, desde 2013, a Best of ASCO é organizado pela Latin American Cooperative Oncology Group e o Instituto Ética onde uma banca de especialistas seleciona os abstracts mais relevantes e com impacto na prática clínica apresentados no ASCO Annual Meeting 2023, que ocorre em Chicago, EUA, para discussão durante o evento.
Este propósito vai de encontro a missão do A.C.Camargo Cancer Center em manter seu corpo clínico na vanguarda do conhecimento científico sobre o câncer e atuando de maneira hiperespecializada em prol da saúde oncológica da população.

Conteúdos discutidos na Best of ASCO 2023

No primeiro dia de encontro, o vice-líder do Centro de Referência em Tumores de Cabeça e Pescoço, do A.C.Camargo Cancer Center, Dr. Thiago Bueno de Oliveira, será o responsável pela moderação de uma discussão entre especialistas no módulo dedicado a tumores de cabeça e pescoço.

Abrindo a plenária do encontro, no dia 17, o líder do Centro de Referência em Tumores Ginecológicos, Dr. Glauco Baiocchi Neto, apresentará, ao lado de oncologistas de outras instituições, os recentes trabalhos recentemente discutidos no evento anual da entidade americana na especialidade de ginecologia.

Encerrando o encontro, também em 17 de junho, a Head da Oncologia Clínica do Centro de Referência de Tumores Colorretais da instituição, Dra. Rachel Riechelmann, será uma das palestrantes a também debatedora no módulo dedicado aos trabalhas apresentados na área gastrointestinal. 


 

A.C.Camargo é a única instituição brasileira a apresentar aula na ASCO 2023

Linha Fina

Dra. Rachel Riechelmann apresentará aula durante ASCO Annual Meeting 2023. Médicos convidados para dar aulas estão entre os principais profissionais de suas especialidades no mundo
 

Ter um corpo clínico hiperespecializado e referência internacional em sua área de atuação é um dos diferenciais que faz do A.C.Camarco Cancer Center uma dos principais centros de excelência em tratamento oncológico no Brasil e no mundo. Entre estes profissionais está a head da Oncologia Clínica do Centro de Referência de Tumores Colorretais, Dra. Rachel Riechelmann, única médica brasileira convidada, que ministrará uma aula durante o ASCO Annual Meeting 2023, que ocorrerá entre os dias 2 e 6 de junho, em Chicago, nos EUA.

Em sua aula, a Dra. Riechelmann discutirá “as escolhas no tratamento e sequenciamento para pacientes com tumores neuroendócrinos gastroenteropancreáticos avançados bem diferenciados”. Ela ocorrerá durante o painel “What the NET? Advances and Challenges in Neuroendocrine Cancers”, em 4 de junho.

O objetivo desta sessão é auxiliar os participantes do congresso a obter uma melhor compreensão sobre os antecedentes, classificação e opções para tomada de decisão terapêutica, incluindo a escolha das modalidades de radiologia, para pacientes com neoplasias neuroendócrinas gastroenteropancreáticas avançadas.

ASCO Annual Meeting 2023

Fundada em 1964, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (American Society of Clinical Oncology – ASCO), é uma organização com protagonismo mundial para médicos e profissionais de oncologia. Desde 1965, o ASCO Annual Meeting é realizado e, ao longo dos anos, tornou-se o mais importante encontro sobre oncologia do mundo onde são apresentadas as discussões, pesquisas e aulas mais relevantes e com impacto direto na prática clínica oncológica em todo o mundo.

A Dra. Rachel Riechelmann também está a frente do capítulo sobre Tratamentos de Tumores Neuroendocrinos do livro da associação, o ASCO - Educational Book 2023.