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Novos tratamentos para tumores colorretais

Linha Fina

Confira o vídeo com a Dra. Rachel Riechelmann, oncologista clínica, explicando quais são os novos tratamentos já disponíveis ou que ainda estão em fase de testes

O câncer colorretal é um dos tumores que mais afetam a população no mundo. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), é o segundo tipo mais incidente em homens e mulheres, com estimativa de 45.630 novos casos previstos para cada ano do triênio 2023-2025.

Apesar de muito incidente na população, as taxas de cura são altas para este tipo de câncer quando diagnosticados precocemente.  

Para os casos mais avançados ou com mutações raras, novos tratamentos estão surgindo, trazendo novas perspectivas de aumento de sobrevida ou, até mesmo, de cura da doença.

No vídeo abaixo, a Dra. Rachel Riechelmann, head da Oncologia Clínica e vice-líder do Centro de Referência em Tumores Colorretais, comenta as principais novidades em tratamento para este tipo de câncer. 

Quer saber mais sobre tumores colorretais? Clique aqui e confira uma seleção de conteúdos sobre o tema. 

 

 

Médicos do A.C.Camargo são alguns dos autores mais citados em artigos científicos no mundo

Linha Fina

Com quatro décadas de experiência, Dr. Luiz Paulo Kowalski já realizou mais de 10mil cirurgias, publicou mais de 650 artigos e é considerado um dos autores da área de cabeça e pescoço mais citados no mundo em 2022
 

Possuir um corpo clínico superespecializado, que contribui com a ciência, com o compartilhamento de conhecimento e o desenvolvimento de novas práticas assistenciais em prol da saúde e tratamento oncológico está no DNA do A.C.Camargo desde sua fundação em 1953. Por esse motivo, com muito orgulho a instituição recebe a notícia de que o Dr. Luiz Paulo Kowalski foi anunciado como um dos profissionais mais citados no mundo em artigos relacionados a cabeça e pescoço no ano de 2022 com o artigo “Prognostic role of intraparotid lymph node metastasis in primary parotid cancer: Systematic review.”

Dr. Luiz Paulo KowaskiGraduado em medicina pela Universidade Federal do Paraná, Kowalski teve os primeiros contatos com a cirurgia de cabeça e pescoço ainda no período de residência no A.C.Camargo Cancer Center, concluída em 1983. Com mestrado e doutorado em Otorrinolaringologia na UNIFESP, a área de cabeça e pescoço sempre despertou seu interesse devido à complexidade dos casos cirúrgicos que demandam técnicas apuradas em oncologia e reconstrução.

Com mais de 650 artigos publicados ao longo de sua carreira, Dr. Kowalski já foi citado mais de 20mil vezes em artigos de outros profissionais em todo o mundo tornando-se uma referência acadêmica e científica na área onde atua. Além disso, por atuar nos campos de ensino, pesquisa e assistência, seu perfil vai diretamente de encontro com o de um Cancer Center como o A.C.Camargo, onde ele encontrou o espaço ideal para o fomento de sua formação e produção científica.
Desde 1990 ele dirige o Núcleo de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo que é, sem dúvida, um serviço de excelência internacional no tratamento e pesquisa, onde os indicadores de taxa de cura giram em torno de 60%, com uma experiência para tratamento de tumores de boca, por exemplo, compatível com a do Memorial Sloan Kettering, de Nova Iorque, considerado um dos maiores centros do mundo em oncologia.

Kowalski possui quatro décadas de experiência e compromisso com o desenvolvimento científico, pacientes e a formação de novos profissionais, onde foi orientador de mais de 100 alunos de mestrado, doutorado e pós doutorado pela Fundação Antônio Prudente, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP-UNICAMP).
Ao longo de sua carreira, já realizou mais de 10mil cirurgias de cabeça e pescoço e sempre defendeu o trabalho multidisciplinar para potencializar resultados, sejam eles em pesquisas ou nas práticas assistenciais. 

Na liderança de seus times, busca a excelência e colaboração levando o A.C.Camargo ao mesmo patamar dos melhores Cancers Centers do mundo. Em geral, seus grupos de trabalho sempre foram voltados para a adequação da radicalidade oncológica com redução da morbidade e sequelas causadas pelo tratamento como é feito atualmente em procedimentos de esvaziamento cervical seletivo, tireoidectomias parciais, cirurgias endoscópicas e robóticas. Nesse sentido, um dos outros artigos mais citados em 2022 foi de autoria do Dr Renan B Lira, do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringolgia abordando o tema bem atual de cirurgia transoral para tratamento de doenças da tireoide.
 

Parceria entre A.C.Camargo e Insper amplia diagnóstico de câncer de mama

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Dispositivo é feito em impressão 3D e foi desenvolvido por alunos de engenharia mecânica do Insper com auxílio e orientação de médicos do A.C.Camargo
 

As áreas de ensino, pesquisa e inovação do A.C.Camargo Cancer Center produzem e compartilham conhecimento com o objetivo de reduzir custos ampliar o acesso à saúde oncológica em todo o Brasil. Em mais um projeto de inovação aberta, em parceria com o Insper, o A.C.Camargo orientou e auxiliou alunos do curso de engenharia mecânica no desenvolvimento de um dispositivo que permite o posicionamento de pacientes possibilitando a realização de biópsias de lesões nas mamas guiada por tomografia.

Este procedimento é indicado para casos que antes só poderia ser realizado com equipamentos de ressonância magnética, método que não é utilizado em larga escala devido ao alto custo e baixa disponibilidade de equipamentos fora dos grandes centros urbanos.

O novo suporte, que já está em uso no A.C.Camargo, é fabricado em uma impressora 3D e viabiliza o exame de tomografia para procedimentos de biópsia. O novo dispositivo é capaz de reduzir o custo do exame. Além disso, pode ser “impresso” tornando seu custo viável e ser facilmente utilizado em outras instituições, incluindo o SUS (Sistema Único de Saúde).

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que, em 2023, 73.6 mil novos casos de câncer de mama sejam registrados no Brasil, número 11% maior do que no ano anterior. Em 2022, o A.C.Camargo Cancer Center realizou mais de 16.7mil exames de mamografia e mais de 3mil procedimentos cirúrgicos relacionados ao câncer de mama.

Desenvolvimento e inovação

Em alguns casos as lesões na mama não podem ser visualizadas por meio de uma mamografia ou ultrassonografia impossibilitando um diagnóstico preciso ou a biópsia. Para situações como esta, o uso da ressonância magnética seria indicado, no entanto o custo do procedimento e disponibilidade do equipamento impossibilita sua utilização em larga escala. 

Para a realização do exame, a paciente é posicionada de barriga para baixo, deitada sobre o dispositivo que fixa a mama para que a tomografia possa ser realizada pelo médico que localizará o nódulo e fará a biópsia.

Após o desenvolvimento da solução, os testes começaram no segundo semestre de 2022 e foram divididos em duas fases. Na primeira etapa, o dispositivo foi submetido a uma série de testes com um simulador de mama, também conhecido como phantom, que demonstrou o procedimento adequado para localizar a lesão e, na sequência, posicionar a agulha para realizar a biópsia. Já na fase 2, após certificar a segurança, funcionamento e eficácia inicial do equipamento voluntários foram selecionados. 

Cooperação e inovação aberta

Chegar a esta solução foi possível graças ao acordo de cooperação de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico firmado entre o Insper e o A.C. Camargo Cancer Center.

O equipamento foi criado em 2021, no Projeto Final de Engenharia (PFE), de autoria de João Guilherme Coelho Apparecido, Milena Maluli, Pedro Henrique Greco Lopes e Pedro Isidoro Nery Antunes Maciel, alunos do 8º semestre de Engenharia Mecânica do Insper com orientação do professor Raphael Galdino dos Santos e dos doutores Almir Bitencourt e Paula Nicole Barbosa, médicos do Departamento Radiologia do A.C. Camargo Cancer Center.

O acordo prevê apoio mútuo para desenvolvimento de ações relacionadas à pesquisa e diagnóstico e tratamento do câncer. Como parte deste acordo também está o programa científico e tecnológico de cooperação e intercâmbio para execução de atividades de pesquisa e desenvolvimento, capacitação e absorção de recursos humanos e transferência de tecnologia.
 

Pesquisa Clínica, à procura da cura

Linha Fina

Na oncologia, o foco da pesquisa clínica é avaliar a segurança e a eficácia de novos procedimentos e medicamentos contra o câncer
 

Pesquisa clínica, estudo clínico ou ensaio clínico é a forma de estudar novos exames e tratamentos e avaliar sua segurança, seus efeitos e resultados na saúde humana. As pessoas se voluntariam para participar de ensaios clínicos cuja finalidade é testar intervenções médicas, incluindo drogas, células e outros produtos biológicos, além de procedimentos cirúrgicos ou radiológicos, dispositivos, tratamentos comportamentais e cuidados preventivos.

O objetivo é descobrir ou verificar os efeitos positivos e negativos de procedimentos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e outros, bem como reações adversas do item em investigação para garantir a máxima segurança e eficácia. Em outras palavras, um estudo desse garante que os tratamentos disponíveis no mercado hoje já passaram por estudos clínicos e já foram aprovados para sua comercialização. “Enquanto não houver a cura de 100% dos cânceres na totalidade de pacientes, há espaço para a pesquisa clínica seguir com a busca de novas terapias que melhorem cada vez mais o desfecho para os pacientes”, afirma Dr. Helano Carioca Freitas, vice-líder do Centro de Referência de Tumores de Pulmão e Tórax. 

Como esse processo ocorre? Durante o desenvolvimento de uma medicação, há etapas que envolvem seres humanos. Do ponto de vista didático, isso é dividido em quatro fases. “O público leigo tende a achar que o que funciona em laboratório, funciona no organismo humano. Mas não é assim. A enorme maioria do que é testado em laboratório e em animais, não funciona ou não é segura para o ser humano”, diz o especialista.

A fase I (em inglês, first in humans) representa a primeira vez que o produto é testado em humanos. Nessa primeira etapa, os objetivos são definir a segurança e a dose de uso da inovação nas pessoas. Na fase II, a segurança segue sob avaliação, mas o cientista passa a verificar também a eficácia do eventual trata- mento. Essa etapa pode ser comparativa ou não: na Oncologia, por exemplo, são observados o percentual de pacientes que apresentaram redução tumoral, o tempo de controle da doença, o tempo de vida das pessoas.

Por melhor que sejam os resultados, para se ter certeza de que o novo apresenta vantagens frente ao melhor tratamento disponível no mercado, há a necessidade de compará-los. Normalmente, essa comparação é feita na fase III. “Esse é o ensaio clínico verdadeiro, que é randomizado: é decidido em sorteio a parte dos integrantes que receberá o tratamento padrão e a que receberá a inovação em teste”, explica Dr. Freitas.

A fase IV é quando a droga, já aprovada pelas instâncias regulatórias de cada país e já disponível no mercado, é usada nas situações mais parecidas com a vida real. Se se mostrar mais eficaz, passa a ocupar o lugar de novo tratamento padrão. “A partir daí, os novos estudos terão de comparar as futuras inovações com esse novo padrão”, completa o pesquisador.

O paciente precisa de certo altruísmo para o desafio

Na hora de triar os pacientes que vão integrar um ensaio clínico, há critérios de elegibilidade. O primeiro passo é o médico responsável pelo tratamento comunicar a íntegra do estudo, esmiuçar a droga controle ou padrão e tudo que seja conhecido sobre a inovação a ser testada, além das regras da participação. Quando o paciente se sente suficientemente seguro e interessado em participar, ele assina o termo de consentimento.

Durante tais esclarecimentos, segundo Dr. Helano de Freitas, não é raro que os interessados queiram escolher o trata- mento a ser recebido. Por isso a escolha é randomizada (por sorteio). É assim que são garantidas chances iguais de que qualquer um pode receber um tratamento ou outro. Todos os participantes têm de seguir as regras do estudo e podem desistir dele a qualquer momento. É importante refletir e saber que a pesquisa clínica não é feita para salvar pacientes. Ela existe para gerar conhecimento que pode ou não ser útil aos participantes, mas que certamente será aos futuros pacientes. “É por isso que exige uma parcela de altruísmo de cada voluntário”, afirma o pesquisador.

No DNA, assistência, ensino e pesquisa

O A.C.Camargo Cancer Center integra assistência, ensino e pesquisa, básica e translacional, ao tratamento do câncer desde sua fundação. Tripé, aliás, que foi fortalecido com a migração para o modelo de cancer center. Com o recente aumento da pesquisa clínica no Brasil, patrocinada principalmente pela indústria farmacêutica, o A.C.Camargo Cancer Center recupera destaque na área de pesquisa.

Hoje há zero inovação genuinamente brasileira no tratamento oncológico. Essa é uma das razões pelas quais a unidade de pesquisa clínica do A.C.Camargo luta por captar os estudos mais promissores existentes no exterior para testá-los na instituição. “Assim, a gente propicia a nossos pacientes acesso ao que há de mais inovador no mundo”, afirma o vice-líder do Centro de Referência de Tumores de Pulmão e Tórax.

De acordo com Dr. João Paulo Lima, coordenador da Pesquisa Clínica, a instituição realiza estudos nas fases I, II e III. Foram 150 estudos feitos nos últimos 20 anos e mil pacientes tratados. Atualmente, há 21 estudos clínicos abertos para novos pacientes; outros 20 com pacientes em tratamento e 100 reunindo os pacientes tratados em todos os Centros de Referência da instituição. Cada centro de pesquisa é convidado a participar desses ensaios. Todos têm um investigador responsável, seus resultados divulgados em publicações científicas e apresentados em congressos.

Sob coordenação do Dr. Marcelo Petrocchi Corassa, oncologista clínico do Centro de Referência de Pulmão e Tórax, a última reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), teve, como um dos destaques, o estudo: Tumor agnostic efficacy and safety of erdafitinib in patients (pts) with advanced solid tumors with prespecified fibroblast growth factor receptor alterations (FGFRalt) in RAGNAR: Interim analysis (IA) results.

Trata-se de um ensaio de cenário diagnóstico, ou seja, não importa o tumor investigado, mas sim a alteração molecular presente no tumor. A equipe procurava uma alteração molecular específica, a FGFR, e fazia o tratamento a partir dela. Os resultados demonstraram benefícios aos pacientes que já tinham sido tratados extensamente com os recursos disponíveis até aqui. “A nossa expectativa é que os achados tragam grandes possibilidades de adotarmos mudanças nas práticas clínicas para tumores com essa alteração molecuar”, explica Dr. Corassa.

A realização do ensaio teve a participação de três pacientes e a triagem feita pelo A.C.Camargo Cancer Center, de 135. O estudo englobou uma série grande de diagnósticos, embora não fosse a totalidade absoluta, e os pacientes escolhidos precisavam ter exaurido os tratamentos disponíveis. Foram seguidos critérios percentuais específicos de alteração do gene FGFR para cada tipo de tumor.

Feitos os testes moleculares e aprovados pelos critérios, os pacientes receberam a terapia alvo Erdafitinib, hoje, liberada no Brasil somente para casos de câncer de bexiga. Já há registros de pacientes lançando mão desse tratamento há quase dois anos e evoluindo bem.

A taxa de resposta aproximada foi de 30%. Isto significa que 30% dos pacientes teve uma redução significativa no tamanho de seus tumores. O tempo dos pacientes em tratamento - chamado sobrevida livre de progressão foi de 5,2 meses, e o tempo de sobrevida desde o início do estudo foi de 10,9 meses. “Parece pouco, mas estamos falando de casos em que já se tinham esgotado todas as possibilidades existentes de tratamento padrão”, esclarece Dr. Corassa. Além disso, pacientes bem-sucedidos com o tratamento foram os que fizeram uso prolongado da droga, cerca de oito a dez meses.

A pesquisa clínica avalia novos procedimentos, diagnósticos, medicamentos ou cirurgias promissoras por meio de estudos clínicos, que seguem normas muito rígidas, a fim de proteger os participantes das pesquisas. O A.C.Camargo Cancer Center mantém acordos com hospitais e empresas inovadoras (nacionais e internacionais) para desenvolver tais estudos na busca das melhores maneiras de prevenir, diagnosticar e tratar o câncer.

Ensaio de terapia celular na fase 1

No Centro de Referência de Neoplasias Hematológicas, Dr. Jayr Schmidt Filho conduz um estudo internacional, o MINK 1305, para o qual foram escolhidos somente sete centros de pesquisa no mundo. O Brasil trata o sétimo paciente do mundo com a medicação, em um ensaio de terapia celular feito com células vindas dos Estados Unidos. Esse é o primeiro e mais arrojado estudo no Brasil, o qual pretende achar o tratamento para mieloma com células. Segundo Dr. João Paulo Lima, coordenador da Pesquisa Clínica da Instituição, a equipe do A.C.Camargo vai ajudar a definir se o uso das células é seguro, se não atrapalha o organismo e o quanto delas deve ser usado. Esse tipo de ensaio acontece normalmente no Japão, Suíça, Inglaterra, Estados Unidos. “A escolha do A.C.Camargo como um dos poucos centros do mundo a conduzir esse estudo atesta a qualidade e a excelência da instituição”, afirma Dr. João Paulo Lima.

O MINK 1305, patrocinado pela Mink Therapeutics, é um ensaio aberto de fase I de segurança, tolerabilidade e atividade clínica preliminar de células alogênicas invariantes natural killer (intk) não transduzidas (agent-797) em pacientes com mieloma múltiplo recidivante e refratário, já tratados previamente. Esse ensaio trabalha com células NK, e não com células CAR − como o de CAR-T, apresentado no box desta edição − e o primeiro paciente recebeu a infusão em meados de setembro.

O objetivo do MINK 1305 é determinar a dose máxima tolerada em humanos e, nessa etapa, o foco é descobrir se o medicamento é seguro e aceitável para tratar mieloma múltiplo recidivado e refratário. A partir do uso de diferentes doses, em diferentes grupos de pacientes, os cientistas observarão os eventuais efeitos colaterais apresentados. Cada paciente será designado a um pequeno grupo (também denominado coorte) e receberá uma dose específica do produto experimental.

A responsabilidade de lidar com o incerto

Por fim e não menos importante, o vice-líder do Centro de Referência de Tumores de Pulmão e Tórax, Dr. Helano Carioca Freitas, fala sobre a documentação detalhada envolvida no processo para garantir a segurança e o melhor cuidado aos participantes de um estudo clínico. “A pesquisa clínica está mais para sacal do que para divertida, pois precisa de muita burocracia.” Toda a documentação e regulamentação necessária para lidar com o incerto de uma pesquisa clínica demanda muito trabalho. “Até a consulta de uma pesquisa clínica é totalmente diferente de uma consulta ordinária”, completa.

Segundo o pesquisador, numa consulta de pesquisa clínica, é preciso identificar o sintoma de acordo com a classificação internacional específica. Deve-se graduar o sintoma, ter data de início e término, e avaliar se está relacionado com o trata- mento recebido − sim, não, possivelmente ou provavelmente −, além de estabelecer o vínculo com os medicamentos usados até então pelo voluntário, e por quanto tempo estão em uso.

Na prática clínica, só é preciso saber quais são os medicamentos e eventuais causas para agir a fim de reduzir ou eliminar o sintoma. “Em pesquisa é obrigatório documentar minuciosamente os quês e quandos da consulta, pois tudo é auditável”, alerta. A qualquer momento a instituição pode receber inspeção da ANVISA, do FDA ou de auditorias independentes contratadas pelo patrocinador do estudo.

Dados das 16 maiores indústrias farmacêuticas globais dão conta de que os estudos da maioria das drogas morrem na fase II. Somente 18% a 28% das drogas passam para a fase III. Segundo o pesquisador, depois do eco deixado pela COVID-19, as pessoas passaram a ter mais dificuldade para entender isso. “Acham que a partir do que está na teoria já há resultado nas pessoas”, conclui.

Ensaio clínico com CAR-T fez a primeira infusão em paciente

Nova modalidade, que modifica geneticamente células que atacam o tumor, é a base do estudo em fase 3 que está em andamento no Cancer Center

O A.C.Camargo Cancer Center realizou, no último 28 de novembro, a infusão do primeiro produto de terapia celular da história da instituição e a segunda em todo o Brasil. Trata-se do Ensaio Clínico com células CAR-T (células T geneticamente modificadas e reprogramadas em laboratório para destruir os tumores) da Janssen Cilag Farmacêutica. Apenas quatro instituições de saúde foram credenciadas para oferecer o tratamento de alta complexidade no Brasil, e o A.C.Camargo é o único Cancer Center que pode administrar a terapia no país.

A nova modalidade de imunoterapia, que modifica geneticamente os linfócitos (tipo de célula do sistema imunológico presente no sangue) para atuarem contra o tumor, é a base do estudo em fase 3, em andamento no Cancer Center.

Essa nova terapia poderá beneficiar pacientes que sofrem com mieloma múltiplo, uma alteração nas células do sistema imune que provoca disfunção na resposta imunológica, produzindo anticorpos defeituosos, sem atividade e que seguem progredindo, mesmo após o tratamento convencional (quimioterapia ou transplante de medula óssea). Essa é a primeira terapia à base de células CAR-T para tratar esse tipo de câncer. Ela foi aprovada pela ANVISA em março de 2022.

O mieloma múltiplo é mais recorrente em pessoas com mais de 60 anos. Seus sintomas são similares aos das doenças crônicas como, cansaço excessivo, marcas roxas na pelem, confusão, diminuição da força e da sensibilidade dos dedos, dor nos ossos, aumento dos níveis de cálcio no sangue, fraturas frequentes e espontâneas e o aumento no risco de desenvolver anemia, decorrente da diminuição na quantidade plaquetas e glóbulos brancos e vermelhos. No entanto, dificilmente estes sintomas se manifestam ainda na fase inicial da doença.

O diagnóstico pode ser realizado por um hematologista ou oncologista, por meio de testes clínicos, sanguíneos, de urina e biópsia da medula. Por ser considerado relativamente raro, o Instituto nacional do Câncer (INCA), não possui dados precisos. Porém, autoridades americanas estimam que, cerca de 95% dos casos são diagnosticados em fases avançadas da doença nos EUA. Nesse quadro avançado, a taxa de sobrevida de cinco anos é de 51%, podendo chegar a 74% quando diagnosticado em estágio inicial.

O funcionamento da imunoterapia feita no A.C.Camargo

A primeira etapa do processo é colher células do sistema imunológico do paciente a partir da centrifugação do sangue. Este procedimento é conhecido como leucaférese, e é similar a uma hemodiálise.

Em seguida, já em um laboratório, um especialista isola o linfócito T (tipo de leucócito ou célula de defesa do sistema imunológico). Esse linfócito é capaz de reconhecer antígenos (substâncias estranhas ao organismo como vírus, bactérias, tumores ou substâncias tóxicas) existentes no organismo.

O próximo passo é enviar o material coletado a um laboratório que fará a manufatura dessas células, ou seja, fará a modificação genética para programá-las para destruir o tumor. Isso é feito com auxílio de um vetor viral (vírus que tem o material genético alterado em laboratório para reconhecer e combater o tumor). Esse vetor entra no linfócito T, modifica o DNA dele e faz com que aquela célula expresse um receptor que reconheça o antígeno da doença, nesse caso o mieloma múltiplo, e a ataque.

Dentro de sete dias após a infusão das células CAR-T, pode haver uma reação inflamatória, sinal de que os linfócitos modificados estão se reproduzindo dentro do organismo e induzindo a liberação de substâncias para eliminar o tumor. Nesse momento, além de febre, o paciente pode apresentar variações em sua pressão arterial e eventual necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Sobre o estudo CARTITUDE-5

Registrado no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do A.C.Camargo sob o nº:3212/22 e na comissão nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) sob o nº: 48248621.6.2002.5432 o “CARTITUDE-5” é um  estudo de fase 3, randomizado comparando Bortezomibe, Lenalidomida e Dexametasona (VRd) seguidos por Ciltacabtagene Autoleucel, uma Terapia de Células T com receptor de antígeno quimérico (CAR-T) direcionado ao BCMA versus Bortezomibe, Lenalidomida e Dexametasona (VRd) seguidos por terapia com Lenalidomida e Dexametasona (Rd) em participantes da pesquisa com mieloma múltiplo recém-diagnosticado e para os quais o transplante de células-tronco hematopoéticas não está planejado como terapia Inicial. 

Número do Estudo: 68284528MMY3004 
Pesquisador Responsável: Dr. Jayr Schmidt Filho 
Patrocinador: Janssen Cilag Farmacêutica Ltda.

 

O match perfeito entre os pacientes e os centros de pesquisa

Linha Fina

Em artigo publicado na Veja, Dr. Victor Piana de Andrade, CEO do A.C.Camargo, e Dr. José Humberto Fregnani, superintendente de Ensino e Pesquisa, expõe o papel e a importância da pesquisa clínica na oncologia 

A Covid-19 assombrou o mundo por sua impressionante velocidade de disseminação e o rastro de doentes e de mortos que deixou desde dezembro de 2019, quando o primeiro caso foi oficialmente reportado na China. Até agora, a Organização Mundial da Saúde (OMS) contabilizou 650 milhões de infectados e 6,7 milhões de mortes em decorrência dela.

A situação seria ainda pior se um programa mundial de vacinação em massa não tivesse sido implementado a partir de 2021. Essa reação só foi possível porque a comunidade científica internacional mobilizou-se rapidamente em busca de um imunizante. Em tempo recorde, a vacina contra o coronavírus foi desenvolvida, testada e implementada em diversos países. 
Em virtude dessa movimentação, nunca se discutiu tanto sobre a pesquisa clínica e sua contribuição para a sociedade quanto na pandemia.

O esforço para desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas não ocorre de maneira tão rápida quanto o que observamos com a Covid-19. O ciclo de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) de uma medicação leva anos, podendo chegar a bem mais de uma década.

Antes de um produto farmacêutico chegar ao mercado, ele passa por quatro fases de pesquisa, sendo a primeira realizada exclusivamente em laboratório (fase pré-clínica), e as outras três com seres humanos para verificar os efeitos farmacológicos, a segurança e a eficácia (fases clínicas I, II e III).

Depois de aprovado para comercialização, o novo medicamento é continuamente monitorado (fase clínica IV), sobretudo para verificar o efeito em condições de mundo real. Todo o ciclo de P&D exige investimentos substanciais, que chegam a cifras de milhões de dólares.

A maior parte dos investimentos relacionados à pesquisa clínica de medicamentos e vacinas vem da indústria farmacêutica, que destina um percentual significativo da receita anual em programas robustos de P&D. Afinal de contas, a sobrevivência delas depende da descoberta de produtos que gerem inovação e manutenção do negócio.

A pesquisa clínica é particularmente importante no cenário da oncologia. Apesar de todos os avanços extraordinários observados no tratamento do câncer ao longo das últimas décadas, casos avançados (por exemplo, com metástase) são desafiadores porque têm chance limitada de cura, mesmo com o mais moderno arsenal terapêutico disponível em instituições especializadas em câncer.

É nessa fronteira do conhecimento que a pesquisa clínica pode ajudar, oferecendo ao paciente oncológico, sem alternativa terapêutica, a oportunidade de receber um novo tratamento não disponível no mercado com potencial de controlar a doença.

Uma nova era no tratamento do câncer

Ainda que os benefícios sejam incertos, a pesquisa clínica é uma alternativa atraente para os pacientes que têm pouca (ou nenhuma) opção terapêutica à disposição. Em instituições que adotam o modelo “cancer center”, como o Princess Margaret (Canadá) e MD Anderson (Estados Unidos), o número de pacientes incluídos em estudos clínicos é impressionante.

Isso porque há uma variedade de estudos no portfólio dessas instituições. O MD Anderson, por exemplo, tinha um portfólio com mais de 1 200 estudos clínicos em 2017, tendo, à época, incluído quase 11 000 pacientes no programa de pesquisa clínica. O Princess Margaret tem em seu portfólio quase 800 estudos ativos, permitindo que um em cada cinco pacientes da instituição seja incluído em pesquisas.

No Brasil, são raros os centros de pesquisa que tenham em seu portfólio mais de 100 estudos clínicos ativos em câncer.
O objetivo dos estudos clínicos é testar o efeito de novos tratamentos em seres humanos, mas isso não significa que os pacientes são cobaias. As investigações passam por um minucioso ritual de aprovação antes de serem iniciadas. Um comitê de especialistas analisa se a pesquisa está alinhada com os princípios éticos internacionais e se o bem-estar, a dignidade e os direitos dos participantes estão assegurados.

Além da aprovação ética, os estudos com novos medicamentos também passam pelo crivo de agências regulatórias, como a Anvisa, no caso do Brasil. É somente após esses cuidados que a pesquisa pode ter início e, mesmo assim, nenhum paciente pode ser incluído sem conceder formalmente o seu consentimento.

Outro pressuposto é comparar o novo medicamento ao melhor tratamento disponível, o que significa dizer que o paciente receberá ou o novo medicamento experimental ou a melhor opção terapêutica atual. Portanto, afirmar que os pacientes são cobaias humanas em experimentos é reduzir a importância da pesquisa clínica e seus potenciais benefícios, além de desprezar todos os cuidados éticos e sanitários que foram tomados previamente.

Nosso país vem ganhando espaço na pesquisa clínica internacional. Até poucos anos atrás, os prazos regulatórios brasileiros eram proibitivos para a indústria farmacêutica. Levavam-se muitos meses (em alguns casos, mais de um ano) para que a Anvisa e a Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde) autorizassem o início de um único protocolo de pesquisa.

Essa lentidão tirava a vantagem competitiva do Brasil, fazendo o país entrar tardiamente no circuito internacional de estudos. Não foram raras as vezes que a aprovação do protocolo por aqui ocorreu após o encerramento mundial do estudo ou a poucos dias desse prazo, reduzindo a oportunidade de incluir participantes brasileiros.

Nos últimos anos, o cenário regulatório nacional melhorou consideravelmente, embora haja espaço para avanços substanciais. Desde 2015, tramita no Congresso o projeto de lei que define o marco regulatório da pesquisa clínica no Brasil.

Apesar das discussões e polêmicas envolvendo o projeto, a expectativa é que ele traga maior segurança jurídica e celeridade na tramitação das pesquisas clínicas, o que atrairia mais investimentos para o país.

De acordo com a base dados do Clinica Trials, mantida pelo governo americano, hoje existem aproximadamente 9 500 estudos clínicos (fase I a IV) patrocinados pela indústria farmacêutica em etapa de recrutamento, dos quais 60% estão disponíveis nos Estados Unidos, 30% em países europeus e 40% na China e no Japão.

No Brasil, este percentual é de apenas 4%, demonstrando a oportunidade de crescimento desse setor no país.

Estar inserido no cenário internacional da pesquisa clínica não é apenas uma questão de oportunidade aos pacientes brasileiros, mas também de assegurar a diversidade étnica da pesquisa. A maioria dos estudos com novos medicamentos é realizada em populações norte-americanas, europeias e asiáticas, e, em menor proporção, na América Latina.

Sabe-se que, por questões genéticas, a resposta aos medicamentos pode variar conforme a etnia, fazendo com que as conclusões de um estudo não sejam universalmente aplicáveis a todas as populações no mundo. Garantir a representatividade do nosso país nessa esfera permite conhecer a resposta do tratamento tendo em vista a genética dos brasileiros.

As maiores inovações médicas brasileiras de 2022

O Brasil não dispõe de uma base de dados pública, de abrangência nacional, que reúna o cadastro de todos os centros de pesquisa e os estudos clínicos que estão sendo executados em cada um deles. Essa limitação deixa médico e paciente desamparados quando há necessidade de encontrar um centro que tenha um estudo que se encaixe perfeitamente à necessidade.

Imagine, por exemplo, um paciente com câncer que não tivesse mais opções de tratamento e a chance de controlar a doença fosse participar de um estudo clínico com um novo medicamento. Se esse paciente estivesse matriculado em uma instituição com um centro de pesquisa, com sorte, ele poderia ser incluído em um dos estudos clínicos, caso os critérios de elegibilidade da pesquisa fossem compatíveis com a sua condição.

Mas, se esse centro de pesquisa não tivesse um estudo clínico no qual o paciente pudesse participar, onde mais haveria oportunidade? Quais centros teriam em seu portfólio de estudos compatíveis com a condição do paciente? Infelizmente, não há respostas. Em geral, o médico consulta a sua rede de relacionamento à procura de um lugar que possa acolher o paciente em um estudo ou, então, recorre ao sítio eletrônico dos centros de pesquisa que eventualmente publicam a lista de pesquisas em aberto.

Hoje alguns sites já disponibilizam ferramentas de busca que promovem o “match” entre a condição dos pacientes e os estudos clínicos disponíveis, informando os centros de pesquisa envolvidos. Contudo, a abrangência desses recursos e a regularidade de atualização das informações são incertas.

A consequência é que, em muitos dos estudos clínicos, os centros de pesquisa não conseguem utilizar a totalidade de vagas disponíveis para os pacientes. Não se trata de desbalanço entre a oferta e a demanda, porque há certamente pacientes candidatos a todos os experimentos. O que não existe é a visibilidade das vagas disponíveis.


Tal problema poderia ser mitigado se fosse criado um sistema de regulação nacional para a pesquisa clínica à semelhança do que existe na área assistencial. No estado de São Paulo, por exemplo, há a Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (CROSS), que propõe regular o fluxo de novos pacientes para serviços hospitalares e ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SUS).

O princípio é simples: os pacientes são cadastrados pelos médicos em um sistema informatizado de acordo com a sua condição clínica e a central tem a responsabilidade de encontrar um serviço de saúde próximo do paciente que atenda a sua necessidade no menor prazo possível. Trata-se de uma plataforma que conecta de forma eficiente o usuário e os serviços de saúde.

Como prevenir o tumor mais frequente entre os brasileiros?

A mesma ideia poderia ser adotada para o cenário da pesquisa clínica, em que os médicos cadastrariam os pacientes em uma plataforma de acordo com a condição clínica e os centros de pesquisa registrariam no mesmo sistema os estudos em andamento. A central de regulação faria as conexões para atender às demandas.

O cadastro dos estudos em tal plataforma seria compulsório, sem o qual o centro não poderia conduzir a pesquisa. Isso garantiria uma base de dados acurada e atualizada, além de dar transparência e visibilidade das vagas disponíveis nos estudos clínicos em todo o Brasil.

As vantagens de um sistema regulado para a pesquisa clínica são inequívocas para todas as partes. Os pacientes encontrarão mais facilmente as vagas disponíveis em estudos e, consequentemente, terão os benefícios associados à participação na pesquisa.

Os centros aproveitarão melhor as vagas da pesquisa, com ganho da receita e possibilidade de investimentos em pessoas e infraestrutura. A indústria farmacêutica alcançará mais rapidamente a meta de recrutamento de pacientes, reduzirá o tempo do estudo e otimizará os custos. E, por fim, operadoras de saúde e o próprio SUS terão redução de despesas, haja vista que, ao longo de toda participação do paciente no estudo, o cuidado será financiado prioritariamente pela indústria.

Além do mais, ao oferecer acesso a tratamentos de ponta no âmbito da pesquisa, podemos reduzir a judicialização na área da saúde. Em última análise, um sistema regulado para a pesquisa clínica trará vantagens competitivas ao Brasil no cenário internacional, fortalecendo a economia e o desenvolvimento tecnológico. Resta saber como viabilizar a proposta.

A ideia foi lançada. Fica aqui o convite para os empreendedores que vislumbram nessa iniciativa a oportunidade de inovar e contribuir com o desenvolvimento da pesquisa clínica no Brasil. Aos gestores públicos e privados, #ficaadica. Quem agradece são os pacientes e a sociedade.
 

Conheça os vencedores do 1º Prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes: Inovações pela Vida

É com muito orgulho que o A.C.Camargo Cancer Center e a família José Ermírio de Moraes Neto anunciaram na noite de ontem (15/12) os vencedores do 1º Prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes: Inovações pela Vida. 

Na categoria “Iniciativas científicas de potencial empreendedor”, o vencedor foi Luana Raposo de Melo Moraes, com o projeto "Imunoterapia contra o câncer do colo uterino e outras doenças associadas ao HPV". Já na categoria “Iniciativas/soluções de saúde de base tecnológica”, venceu a dupla Marco Kohara e Daniella Castro Araujo, com o projeto "Painel de marcadores sanguíneos utilizando exames laboratoriais de rotina baseados em inteligência artificial para rastreamento do câncer de mama" (veja mais abaixo).

Durante o evento, os finalistas de cada categoria apresentaram os projetos para uma banca avaliadora. As iniciativas foram analisadas conforme adesão a três critérios: relevância, viabilidade e potencial de negócio e impacto no segmento de saúde.

A primeira edição do prêmio contou com mais de 60 projetos submetidos, criados por empreendedores de todas as regiões do Brasil, membros da Rede Alumni e residentes do A.C.Camargo, além de pesquisadores, professores e estudantes externos de graduação e pós-graduação de instituições de ensino superior brasileiras.

Finalistas: categoria "Iniciativas científicas de potencial empreendedor"

  • Luana Raposo de Melo Moraes (Cajamar/SP) 

Foi desenvolvida uma nova geração de imunoterapia capaz de ensinar o sistema imune a combater o câncer e prevenir recidivas da doença. Na forma de uma proteína recombinante (TERAH-7), a imunoterapia apresentou 100% de eficácia terapêutica no modelo de tumores associados ao HPV, baixa toxicidade e sinergismo com quimioterapia.  

  • Caroline Brunetto de Farias (Araras/SP) 

A solução desenvolvida possibilita o rastreamento e o combate do câncer de colo do útero, auxiliando na racionalização de recursos e democratização da saúde. 

  • Domingos Alves Rade (São José dos Campos/SP) 

A solução é um produto que consiste em um novo dispositivo implantável destinado a melhorar as condições de vida de pacientes ostomizados. Isso é feito permitindo ao paciente total controle de evacuação, por meio de um mecanismo cujo acionamento permite contenção ou liberação das fezes e gases intestinais. 

Finalistas: categoria "Iniciativas ou soluções de saúde de bases tecnológicas"

  • Daniella Castro Araujo e Marco Kohara (São José dos Campos/SP) 

A solução tem intenção de avançar no desenvolvimento de um teste pouco invasivo e na implementação de uma estratégia de saúde digital, desenvolvendo uma aplicação comercial para rastreamento de câncer de mama baseada em IA aplicada aos analitos sanguíneos. 

  • Isabel Bichucher Opice (São Paulo/SP) 

O Impulso Previne é uma plataforma virtual desenvolvida para auxiliar as autoridades de saúde de cada um dos 5.570 municípios do Brasil a gerenciar o Previne Brasil, a nova política de financiamento da Atenção Primária de Saúde.  

 

  • Jefferson Almoualem Plentz (São Paulo/SP) 

O Projeto Saúde da Mulher impulsiona a aplicação de protocolos efetivos de assistência ao câncer de mama, digitaliza a linha de cuidado completa da prevenção, diagnóstico e tratamento da doença para mulheres entre 50 e 69 anos - idade preconizada para rastreio, conforme protocolo do Ministério da Saúde. Assim, é possível identificar os fatores de riscos da população para o desenvolvimento do câncer de mama, rastrear casos da doença, identificá-los de forma precoce e acelerar o acesso das pacientes ao sistema de saúde.  


 

 

 

Quem foi José Eduardo Ermírio de Moraes

Duda, como gostava de ser chamado, é membro da 5ª geração da família Moraes, proprietária da Votorantim e de uma história empreendedora centenária. Era um incansável buscador pelo conhecimento e extremamente dedicado ao trabalho, que acreditava ser capaz de gerar valor tanto para os negócios, como também para as pessoas e para a sociedade.

José Eduardo partiu muito jovem, em fevereiro de 2013, mas tendo vivido a vida com intensidade, em sua máxima potência. Isso lhe permitiu deixar um legado emocional de valores sólidos para os que o conheceram e um patrimônio financeiro, construído a partir do seu trabalho e, que com este prêmio está a serviço de outros empreendedores para expansão do legado.

Duda era uma pessoa ambiciosa, que buscava referências não só no Brasil, mas também em outros países. Era um cidadão do mundo. Como ele transitava entre pessoas de todas as idades e classes sociais e se comunicava com elas com facilidade, conquistou grandes mentores, com quem teve a oportunidade de se aconselhar em momentos de decisões importantes de sua vida profissional. 

Quando o prêmio foi idealizado, a família pensou em fazer uma aliança entre a personalidade de Duda e o que ele sempre defendeu e buscou na vida pessoal para servir de inspiração àqueles que tenham em si o desejo de fazer a diferença.

 

Sobre o Prêmio JEEM

Aqui no A.C.Camargo Cancer Center, não nos conformamos com o impossível. Desde nossa fundação nos propomos a ser melhores diariamente. O câncer não nos assusta, ele nos desafia. 

Foi na inquietude do José Eduardo e do A.C.Camargo que mais uma vez uniu a família José Ermírio de Moraes Neto e a instituição para desafiar a fronteira do que é possível, da inovação e reconhecer tantos outros mundo a fora com o mesmo inconformismo. Assim, nasceu o prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes – Inovações pela Vida.

Duda tinha o sonho de o Brasil ser respeitado e admirado mundialmente nas áreas de finanças e economia, como a potência que tem condições de ser. Com este prêmio, a família deseja contribuir para a realização desse sonho, incentivando cada vez mais pessoas a realizar mudanças positivas e inovadoras em nosso país, com toda a seriedade e dedicação que isso requer.

Duda estaria extremamente empolgado em ver e conhecer os candidatos que concorreram ao prêmio, bem como por encontrar pessoas que já estejam fazendo a diferença!


 

 

A.C.Camargo realiza primeira infusão de células CAR-T

Linha Fina

Nova modalidade que modifica geneticamente células que atacam o tumor é a base do estudo em fase 3 que está em andamento no Cancer Center

O A.C.Camargo Cancer Center realizará no próximo dia 28 de novembro, a infusão do primeiro produto de terapia celular da história da instituição, e a segunda em todo o Brasil, de células CAR-T (células T geneticamente modificadas e reprogramadas em laboratório para destruir os tumores) da Janssen Cilag Farmacêutica. Apenas quatro instituições de saúde foram credenciadas para oferecer esse tratamento de alta complexidade no Brasil, e o A.C.Camargo é o único Cancer Center que poderá administrar essa terapia no país.

Essa nova modalidade de imunoterapia, que modifica geneticamente os linfócitos – tipo de célula do sistema imunológico presente no sangue – contra o tumor, é a base do estudo em fase 3 que está em andamento no Cancer Center.

Essa nova terapia poderá beneficiar pacientes que sofrem com mieloma múltiplo, que é uma alteração nas células do sistema imune que provoca disfunção na resposta imunológica, produzindo anticorpos defeituosos, sem atividade e que continua progredindo mesmo após o tratamento convencional (quimioterapia ou transplante de medula óssea), e é a primeira à base de células CAR-T para tratar esse tipo de câncer. Ela foi aprovada pela ANVISA em março de 2022.

O mieloma múltiplo é mais recorrente em pessoas com mais de 60 anos. Seus sintomas são similares aos das doenças crônicas como, cansaço excessivo, marcas roxas na pelem, confusão, diminuição da força e da sensibilidade dos dedos, dor nos ossos, aumento dos níveis de cálcio no sangue, fraturas frequentes e espontâneas e o aumento no risco de desenvolver anemia, decorrente da diminuição na quantidade plaquetas e glóbulos brancos e vermelhos. No entanto, dificilmente estes sintomas se manifestam ainda na fase inicial da doença.

O diagnóstico pode ser realizado por um hematologista ou oncologista, por meio de testes clínicos, sanguíneos, de urina e biópsia da medula. Por ser considerado relativamente raro, o Instituto nacional do Câncer (INCA), não possui dados precisos. Porém, autoridades americanas estimam que, cerca de 95% dos casos são diagnosticados em fases avançadas da doença nos EUA. Nesse quadro avançado, a taxa de sobrevida de cinco anos é de 51%, podendo chegar a 74% quando diagnosticado em estágio inicial.

Como funciona imunoterapia feita no A.C.Camargo?

A primeira etapa do processo é colher células do sistema imunológico do paciente a partir da centrifugação do sangue. Este procedimento é conhecido como leucaférese, e é similar a uma hemodiálise.

Em seguida, já em um laboratório, um especialista isola o linfócito T (tipo de leucócito ou célula de defesa do sistema imunológico). Esse linfócito é capaz de reconhecer antígenos (substâncias estranhas ao organismo como vírus, bactérias, tumores ou substâncias tóxicas) existentes no organismo.

O próximo passo é enviar o material coletado a um laboratório que fará a manufatura dessas células, ou seja, fará a modificação genética para programá-las para destruir o tumor. Isso é feito com auxílio de um vetor viral (vírus que tem o material genético alterado em laboratório para reconhecer e combater o tumor). Esse vetor entra no linfócito T, modifica o DNA dele e faz com que aquela célula expresse um receptor que reconheça o antígeno da doença, nesse caso o mieloma múltiplo, e a ataque.

Dentro de sete dias após a infusão das células CAR-T, pode haver uma reação inflamatória, sinal de que os linfócitos modificados estão se reproduzindo dentro do organismo e induzindo a liberação de substâncias para eliminar o tumor. Nesse momento, além de febre, o paciente pode apresentar variações em sua pressão arterial e eventual necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Sobre o estudo CARTITUDE-5

Registrado no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do A.C.Camargo sob o nº:3212/22 e na comissão nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) sob o nº: 48248621.6.2002.5432 o “CARTITUDE-5” é um  estudo de fase 3, randomizado comparando Bortezomibe, Lenalidomida e Dexametasona (VRd) seguidos por Ciltacabtagene Autoleucel, uma Terapia de Células T com receptor de antígeno quimérico (CAR-T) direcionado ao BCMA versus Bortezomibe, Lenalidomida e Dexametasona (VRd) seguidos por terapia com Lenalidomida e Dexametasona (Rd) em participantes da pesquisa com mieloma múltiplo recém-diagnosticado e para os quais o transplante de células-tronco hematopoéticas não está planejado como terapia Inicial. 

Número do Estudo: 68284528MMY3004 
Pesquisador Responsável: Dr. Jayr Schmidt Filho 
Patrocinador: Janssen Cilag Farmacêutica Ltda.
 

A.C.Camargo participa de estudo global publicado no The New England Journal of Medicine

Linha Fina

Grupo de trabalho formado por 25 cientistas, de 14 países, avaliou as evidências levantadas por uma série de estudos sobre prevenção primária e secundária de câncer bucal. A revisão é fundamental para a construção de políticas públicas de saúde e orientação de tratamentos e prevenção

Entre os meses de setembro e dezembro de 2021, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC em inglês), agência intergovernamental ligada a Organização Mundial da Saúde (OMS) reuniu um grupo de trabalho formado por 25 cientistas, de 14 países, avaliou as evidências levantadas por uma série de estudos sobre prevenção primária e secundária de câncer bucal.

Luiz Paulo Kowalski, Líder do Centro de Referência em Tumores de Cabeça e PescoçoO grupo de cientistas, entre eles o Dr. Luiz Paulo Kowalski, líder do Centro de Referência em Tumores de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo Cancer Center, revisou uma série de estudos relevantes publicados e avaliou as evidências de acordo com os preâmbulos atualizados dos manuais de prevenção do câncer criados pela IARC.

A participação em estudos desse porte reforça o compromisso do A.C.Camargo com a melhoria do ecossistema oncológico mundial além de auxiliar na produção científica que contribuirá para a construção de políticas públicas de tratamento e prevenção baseadas em ciência e informação.

Em 2020, os cânceres de lábio e cavidade oral ocuparam a 16ª posição como tipos de câncer que mais mataram no mundo e uma das principais causas de mortalidade entre homens no Sul e Sudeste Asiático e no Pacífico Ocidental (Austrália, Melanésia, Micronésia, Nova Zelândia).

Muitos fatores genéticos, ambientais e comportamentais contribuem para o aumento no risco desses tipos de câncer. Entre eles estão atribuídos o tabagismo (ativo e passivo) e consumo excessivo de álcool. No Sudeste Asiático e no Oeste das Ilhas do Pacífico, onde a incidência de câncer oral é mais alta, os principais fatores de risco são tabagismo passivo e o consumo de produtos à base de nozes de areca (uma espécie de palmeira típica dos continentes asiático e africano).

Uma pequena porcentagem de câncer bucal em todo o mundo – aproximadamente 2% do total – é causada por outro fator, a infecção pelo papilomavírus humano, principalmente HPV16’5.

Toda a revisão e avaliações científicas foram publicadas no The New England Journal of Medicine em outubro. 

Comitê de Ética no Uso de Animais - CEUA

O Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) é um comitê regulador local, sob supervisão do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), que garante a aplicação do princípio dos três Rs (Reduzir, Reutilizar e Refinar) em todos os projetos relacionados a animais. O comitê é composto por membros com diversas formações, representante da sociedade protetora dos animais e segue leis e diretrizes brasileiras específicas.

Entre em contato pelo e-mail: [email protected]

Muitos pacientes que deixam a UTI com cuidados paliativos sobrevivem e retomam o tratamento do câncer

Linha Fina

Estudo revela que aproximadamente 20% dos pacientes receberam alta para casa e até voltaram às terapias contra o câncer

Alguns pacientes internados em UTI e que não apresentam melhora no quadro deixam esse serviço em cuidados paliativos. 

Há, no entanto, pouca amostragem sobre o que acontece com eles após a alta da UTI. E foi isso que motivou uma pesquisa do corpo clínico do A.C.Camargo Cancer Center, que foi publicada na revista científica Critical Care Medicine. Nela, identificou-se que mais da metade consegue retomar o tratamento.

Intitulado Outcomes of Cancer Patients Discharged from ICU After a Decision to Forgo Life-Sustaining Therapies (Resultados de Pacientes com Câncer Saídos da UTI Após Decisão de Abrir Mão de Terapias de Manutenção de Vida), o estudo avaliou 507 pessoas que receberam alta com doenças terminais e incuráveis. 

Entre as conclusões do trabalho, a primeira é que um a cada cinco pacientes que passaram pela UTI e receberam alta com cuidados paliativos consegue voltar para casa.

A segunda é bem melhor: mais de 50% destes pacientes que recebem alta para casa conseguem retomar seu tratamento oncológico, o que lhes confere aumento da sobrevida. 

 

Cuidados paliativos: o que se analisa

O cuidado é paliativo, pois, como esses pacientes têm doenças terminais e incuráveis, essas medidas extremas e invasivas de suporte avançado da vida – caso de hemodiálise ou ventilação mecânica – costumam ser desproporcionais. Elas apenas acrescentam sofrimento ao paciente. 

É importante ressaltar que a decisão de limitar o suporte avançado da vida é sempre consensual entre médicos, pacientes e responsáveis. Se não houver concordância de todas as partes, a decisão não é tomada. E quem decide pela alta da UTI é o médico da UTI em consenso com o oncologista clínico ou cirúrgico. A decisão é 100% centrada no paciente.

Em todo o mundo, aproximadamente 10% dos pacientes internados em UTI recebem a determinação de abrir mão de medidas extremas e invasivas de suporte avançado da vida – seja por diretriz da família ou por protocolos médicos.


Fonte: Dr. Pedro Caruso, head do Departamento de UTI Adulto do A.C.Camargo