Ser oncologista: Dr. Drauzio Varella fala sobre os desafios da profissão na abertura do Next Frontiers to Cure Cancer
Ser oncologista: Dr. Drauzio Varella fala sobre os desafios da profissão na abertura do Next Frontiers to Cure Cancer
No painel Reflexão sobre Carreira, ele deu dicas e relembrou sua trajetória de médico, cujo ponto mais marcante aconteceu em tempos de A.C.Camargo
No painel Reflexão sobre Carreira, ele deu dicas e relembrou sua trajetória de médico, cujo ponto mais marcante aconteceu em tempos de A.C.Camargo
Ser oncologista não era a prioridade de carreira do Dr. Drauzio Varella, conforme ele contou na palestra Reflexão sobre Carreira, que abriu a 5ª edição do congresso Next Frontiers to Cure Cancer. Mas lá se vão cinco décadas e ele ainda atende ao menos 50 pacientes oncológicos por semana.
O médico relata que em sua época de faculdade não havia uma cadeira sobre oncologia, nem mesmo uma que tratasse de medicina preventiva.
“Queria ser um sanitarista, mas a residência previa um rodízio por várias clínicas em diversas especialidades, até obstetrícia. Depois, no segundo ano, estava estudando bactérias no leite, mas queria ver os doentes, me meter na saúde pública. Me vi perdido, não era sanitarista nem cirurgião, apenas dava aula em cursinho”, lembra.
Medicina se aprende no dia a dia
Um encontro com o Dr. Vicente Amato Neto, infectologista e professor que formou uma geração de especialistas, o levou a um estágio no Hospital do Servidor Público. “Foi o meu momento, aprendi mais que na faculdade, pois na medicina é assim, aprende-se no contato diário com os doentes”, analisa o Dr. Drauzio.
Nesta época, nasceu a paixão sobre imunologia. “Me intrigava o fato de uma mesma doença afetar muito uma pessoa e pouco uma outra. Comecei a estudar mais o tema e aprender sobre a imunologia do câncer, cujas teorias até então eram dos anos 1920, mas que estavam renascendo àquela altura”, diz o médico.
A entrada na oncologia
Por intermédio do Dr. Alóis Bianchi, Drauzio começou sua trajetória na oncologia do A.C.Camargo, no então novo serviço de imunologia. Era 1974. Permaneceu por 20 anos.
“Assim, me tornei um dos primeiros clínicos em oncologia com a prática do dia a dia. Neste processo, o Dr. Alois foi fundamental. A oncologia deve muito a ele, que foi um dos primeiros oncologistas pediátricos no Brasil. Ele formou uma geração”, afirma.
O momento mais marcante – no A.C.Camargo
No A.C.Camargo, Dr. Drauzio diz ter vivido a maior experiência na carreira de médico. Foi o caso do Osvaldo, paciente que tinha tido um melanoma no braço e passado por um esvaziamento axilar para retirar linfonodos.
Após ele ter metástases subcutâneas no braço, foi aconselhado a fazer uma desarticulação no órgão.
“Quando ele chegou pra mim, decidi aplicar BCG intratumoral, pois iam aparecendo novos nódulos. Mas, por falta da BCG intradérmica no país, decidi ministrar a BCG oral. Surpreendentemente, os nódulos foram involuindo até desapareceram totalmente. Foi minha maior experiência na carreira de médico”, orgulha-se.
Esse achado foi publicado na revista Cancer e abriu portas para o Dr. Drauzio passar dois meses no Memorial Sloan Kettering, em Nova York.
Estagiar em diferentes realidades
Mesmo sem dinheiro sobrando, o Dr. Drauzio Varella procurou estagiar em diferentes realidades para ver de perto como se faz medicina e oncologia em diferentes lugares.
Mesmo que sejam estágios curtos, como fez na Suécia, por três semanas, e no Memorial Sloan Kettering, em Nova York.
Para ir aos EUA numa época de muita inflação e dólar impraticável, o Dr. Drauzio pegou até empréstimo.
“Era 1983, Nova York era o epicentro da epidemia da aids, e ali vi sua relação com o sarcoma de kaposi. Como se pegava de forma injetável, eu já imaginava que a aids chegaria ao Brasil, onde, na periferia, muita gente usava cocaína injetável”, conta.
Epidemias x fatores de risco
“Acho perigoso enquadrar grupos de risco numa epidemia. No início da aids, ela era conhecida como ‘peste gay’, então a pessoa que não era gay achava que não pegava, e isso contribuiu para que se perdesse o controle, contaminando mulheres e outras populações”, explica o Dr. Drauzio.
Ser oncologista é ter empatia
Esta é uma das características mais importantes, segundo o Dr. Drauzio Varella.
E isso não está atrelado à atuação no sistema carcerário. “Atendo na cadeia há 32 anos porque acho legal, não tem razão política ou filosófica. Fico feliz, ouço histórias e aprendo com doentes de uma realidade de um Brasil que eu não conhecia anteriormente”, explica.
E há outras características fundamentais para um oncologista. “Se a pessoa não gosta de estudar e acompanhar tudo que está rolando, não há nada errado nisso, mas ela não pode ser oncologista”, encerra.
Um Cancer Center não é um hospital, é uma plataforma completa de atendimento, incluindo prevenção, investigação, estadiamento, tratamento, cuidados paliativos e reabilitação. Tudo no mesmo local.