Triunfar é recomeçar, ensina a derrota
Triunfar é recomeçar, ensina a derrota
Nesses dias estou experimentando algo que não é raro, eu sei bem, mas é inédito para mim: a sensação de fracasso num procedimento médico. Não é caso de entrar em detalhes, mas fiz uma cirurgia para corrigir um problema, com chances iguais de dar e de não dar certo, porque as condições orgânicas no local não eram totalmente favoráveis. Foi uma aposta que fiz conscientemente, ao concordar em tentar a operação. Mas perdi.
Antes fosse uma aposta de jogo, que leva dinheiro embora, mas a gente pode recuperar. Não é o caso dessa, infelizmente. Perdi e ainda não tenho ideia de como serão as coisas daqui em diante. Só sei que serão incômodas, com toda certeza, porque já eram antes da cirurgia. Porque são assim mesmo, muito chatas, as sequelas de um câncer de cabeça e pescoço, como o talzinho que já saiu do meu corpo e não voltou (aleluia!), mas deixou intermináveis lembranças da sua passagem.
Nesse percurso de cinco anos no A.C.Camargo, agora já no final do seguimento, eu sempre aliviei as minhas angústias com a ideia de que não estou sozinho. Ao contrário, estou sempre muito bem acompanhado. Não apenas pela atenção do pessoal médico e o carinho da família e amigos, mas pela companhia de meus colegas, pacientes oncológicos.
O sofrimento alheio sempre me deu o padrão de medida para o meu próprio. Me fez calçar as "sandálias da humildade" e sempre pensar o meu caso em perspectiva, no contexto geral do câncer. Ele aguçou a minha sensibilidade, reforçou em mim os sentimentos de compaixão e solidariedade. Me fez — e faz — mais humano.
Hoje me vi triste pela aposta perdida, mas logo pensei naqueles em que o fracasso de um procedimento é muito mais grave. Pensei nos que recebem a notícia da recidiva do câncer. Pensei nos que se aplicam nas terapias e elas não resultam como esperado. Pensei nos que têm o tumor em lugar inacessível. Pensei nos que têm sequelas muito mais dramáticas do que as minhas.
Meu coração se encheu de ternura e os olhos, de lágrimas. Estamos juntos, todos, nessa batalha! A experiência de um de nós é também de todos nós.
Foi nesse momento de comoção que o zap me trouxe um vídeo do José Mujica, ex-presidente do Uruguai, talvez o melhor político em ação hoje na América Latina. Um exemplo de ética, modéstia e sabedoria. "Pepe" tem um tumor grave no esôfago e está tranquilo com o que virá. As palavras dele numa entrevista coletiva de imprensa eram tudo que eu precisava ouvir. Todos nós precisamos ouvir.
Quero transmitir aos meninos e meninas deste país que a vida é bela, mas se desgasta e cai. O objetivo de triunfar na vida é recomeçar toda vez que você cair. E que, se há raiva, que a transformem em esperança. E que lutem pelo amor. Que não se deixem enganar pelo ódio. Lutem. A única liberdade que existe está na cabeça e se chama 'vontade'. E se não a utilizarmos, não somos livres. A vida é tão bela, que não tem sentido que a sacrifiquem pela estupidez.
É isso. Triunfar na vida é recomeçar toda vez que cair. Se houver raiva, transformá-la em esperança. A única liberdade que existe está na cabeça e se chama… vontade. Gracias, Don Pepe! Disse tudo que é preciso para as horas difíceis de cada um. Vamos nessa, seguir adiante. Reconfortados e confiantes.
Gabriel Priolli é jornalista radicado em São Paulo. Trabalhou nos principais veículos de imprensa do país, dirigiu e criou canais de televisão e foi professor na PUC, FAAP e FIAM. Hoje, atua como consultor de comunicação.
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