A relação entre a mortalidade por Covid-19 e o câncer

 
Publicado em: 26/06/2021 - 15:06:27
Linha Fina

Epidemiologista do A.C.Camargo apresenta dois estudos que consideram a relação entre as duas doenças em pacientes de São Paulo

No terceiro dia do congresso Next Frontiers to Cure Cancer 2021, do A.C.Camargo Cancer Center, Gisele Aparecida Fernandes, epidemiologista do Grupo de Epidemiologia e Estatística da Instituição, abordou a relação entre mortalidade por Covid-19 e o câncer. Foram apresentados dois artigos de sua autoria publicados sobre o tema: 

Excess mortality by specific causes of deaths in the city of São Paulo, Brazil, during the COVID-19 pandemic

Differences in mortality of cancer patients with COVID-19 in a Brazilian cancer center

O primeiro artigo abordou o excesso de óbitos durante a pandemia de Covid-19 no ano de 2020, comparado ao ano de 2019 na cidade de São Paulo. Decorrente da letalidade da doença, o grande número de óbitos também reflete a sobrecarga dos serviços de saúde com a consequente pior evolução de pacientes com doenças crônicas, como o câncer. 

Segundo Gisele, “como há poucos estudos sobre o tema no Brasil, investigar o efeito da Covid-19 no aumento de mortalidade poderá elucidar o impacto desta doença nas causas de óbito, assim como conhecer o perfil de óbitos permitirá traçar estratégias de redução de mortalidade na população de risco”.

Após analisar dados populacionais e de mortalidade extraídos do DATASUS, o estudo concluiu que no município de São Paulo, o excesso de óbitos no primeiro semestre de 2020 foi de 24,99%. Desses, 94,4% tiveram como causa básica a Covid-19. Para ambos os sexos, houve aumento na mortalidade geral (30% para homens e 20% para mulheres). A mortalidade por Sars-Cov-2 foi o dobro para os homens em relação às mulheres.

“Com estes dados, podemos concluir que é provável que uma parte das mortes classificadas como Covid-19 também possa ter um diagnóstico de câncer e doenças cardiovasculares listado no atestado de óbito, e isso pode ser responsável pela aparente diminuição da mortalidade por câncer, por exemplo”, explica Gisele.

Por isso, é importante que pessoas com comorbidades associadas ao risco de morte pela novo coronavírus busquem ações preventivas e adequações contínuas no tratamento, já que as incertezas sobre a Covid-19 permanecem.

Estudo com pacientes do A.C.Camargo

O estudo Differences in mortality of cancer patients with COVID-19 in a Brazilian cancer center considerou dados apenas de pacientes do A.C.Camargo, a fim de contribuir para delinear o perfil do paciente brasileiro em um dos maiores centros de tratamento do país e, assim, fundamentar políticas de saúde adaptadas à realidade brasileira.

O estudo considerou 411 pacientes com em tratamento oncológico e com Covid-19 e apresentou uma taxa de letalidade de 12,4%. Não houve diferença da mortalidade em relação ao sexo ou tipo de seguro e na sobrevida global dos pacientes.

“Concluímos que os pacientes com câncer não são afetados igualmente pelo novo coronavírus. É preciso realizar mais estudos detalhados para compreender o mecanismo da Covid-19 na mortalidade de pacientes oncológicos, a fim de desenhar estratégias diferenciadas que poderão ajudar a reduzir as chances de morte e não haver interrupção dos tratamentos”, finaliza Gisele.
 

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