O corpo humano está diariamente exposto a diversos agentes, como bactérias e vírus, e precisa de uma barreira defensiva para se proteger. Essa é a função do sistema imunológico, que detecta células estranhas ao organismo para poder eliminá-las, tornando-se um importante mecanismo de proteção ao surgimento e progressão de diversas doenças, entre elas o câncer.
De acordo com Dr. Fábio Nasser, médico titular da Oncologia Cínica do A.C.Camargo, uma célula normal pode sofrer mutações em seu DNA que alterem suas funções originais e se transformar em uma célula cancerígena, que normalmente é reconhecida e eliminada pelo organismo. No entanto, em alguns casos, falhas do sistema imunológico permitem a sobrevivência dessa célula, possibilitando o desenvolvimento de alguns tipos de câncer.
Conhecer profundamente os mecanismos das células tumorais e como elas agem no organismo permite o desenvolvimento de medicações para o tratamento do câncer. Com base nesse princípio, estão sendo desenvolvidos novos tipos de condutas terapêuticas, como a imunoterapia. "O objetivo da imunoterapia é ensinar o sistema imunológico a reconhecer o tumor como algo a ser combatido e, assim, reduzir os mecanismos de resistência da célula tumoral", explica o especialista.
Entre as décadas de 1980 e 1990, quando passaram a ser utilizados no tratamento de melanoma e tumores renais, os medicamentos de imunoterapia disponíveis (interferon e interleucina-2) eram indicados para poucos pacientes devido aos efeitos colaterais provocados. Novas pesquisas, contudo, proporcionaram terapias menos tóxicas e mais eficazes, como os anticorpos anti-CTLA4 e anti-PD1. "Teoricamente, por não se tratar de uma ação direta da medicação no tumor, mas sobre o sistema imunológico do paciente, a imunoterapia pode ser aplicada para vários tipos de câncer e não somente no melanoma e nos tumores renais", afirma. "Publicações recentes demonstram sucessos importantes dessa estratégia em tumores de pulmão, além de ser objetos de estudos em diversos outros tipos de câncer, como mama, estômago, bexiga e linfoma".
O principal desafio da imunoterapia, além do seu importante papel no tratamento do câncer, é evitar efeitos autoimunes, nos quais o organismo atua contra as próprias células sadias. O risco, embora menor quando comparado aos primeiros tratamentos com interferon e interleucina, ainda existe. "Hoje estamos conseguindo medicamentos mais eficazes e seguros, porque entendemos melhor como funciona o sistema imunológico", enfatiza o oncologista.
Dr. Fábio Nasser Santos - CRM 121353
Médico Titular da Oncologia Clínica