Números são equivalentes aos de centros norte-americanos; tumor nesse órgão é um dos mais complexos
Ainda que seja apenas o 14º entre os tumores de maior incidência no mundo, o câncer de pâncreas sempre chamou a atenção por ser de difícil detecção e alta complexidade, aparecendo como o sétimo entre os que mais matam, com 432 mil óbitos. No Brasil, segundo o Inca, a enfermidade responde por cerca de 10 mil mortes a cada ano e o alerta é que, com o envelhecimento da população, o aumento do sedentarismo e da obesidade, este número deve continuar crescendo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, para 2030, a incidência no mundo irá dobrar e a mortalidade, aumentar em 70%.
Assim, ainda mais relevante é o estudo epidemiológico conduzido por médicos da Oncologia Clínica e Cirurgia Abdominal do A.C.Camargo. A análise envolveu todos os 739 pacientes com adenocarcinoma de pâncreas atendidos na instituição entre 2008 e 2016. A idade média do diagnóstico foi de 64 anos.
Números animadores
O Journal of Surgical Oncology, um dos mais importantes da oncologia, publicou recentemente a pesquisa. Aos que viam com ceticismo as possibilidades de sucesso no tratamento dos tumores de pâncreas, os dados apontam que um em cada três pacientes tratados com cirurgia (177 deles, o equivalente a 23,9%) tiveram uma sobrevida maior que cinco anos – em média, apenas uma entre dez pessoas permanece viva após cinco anos.
Eles aferiram ainda a sobrevida em dois anos: 63%. E observaram também que 40% dos pacientes tinham diabetes, 90% apresentavam sintomas da doença no diagnóstico e 5% relataram ter familiares já acometidos por tumores no pâncreas. Os pacientes submetidos à cirurgia no A.C.Camargo apresentaram média de sobrevida de 35 meses, superior à de 26,6 meses apresentada por estudo multicêntrico internacional.
"Além de animadores, os dados mostram que temos resultados equivalentes ou até superiores quando comparamos aos dos principais centros internacionais de tratamento do câncer. E as variáveis do estudo nos auxiliam na caracterização e tratamento personalizado do paciente", diz um dos coordenadores do estudo, o cirurgião oncológico Felipe Coimbra, responsável pela Cirurgia Abdominal do A.C.Camargo Cancer Center.
"Também, de certa forma, desmonta a tese de que o câncer de pâncreas não tem soluções terapêuticas", complementa o especialista, que também é presidente da Americas Hepato-Pancreato-Biliary Association (AHPBA).