Inovação e tecnologia

Estudo que gera o 1° consenso de diretrizes sobre câncer anal tem a coautoria de especialistas do A.C.Camargo

Linha Fina

Dra. Rachel Riechelmann e Dr. Samuel Aguiar Junior contribuem com novidades sobre tratamento, prevenção, triagem e muito mais para toda a classe oncológica 

Com o intuito de oferecer mais recursos em evidências científicas e compartilhar conhecimento em prol da vida, os nossos médicos oncologistas, Dra. Rachel Riechelmann, head do departamento oncologia clínica e vice-líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais e o Dr. Samuel Aguiar Junior, líder do mesmo Centro de Referência, se uniram a um grupo de pesquisadores para desenvolver o 1º consenso de diretrizes sobre câncer anal, viabilizado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Cirúrgica (SBCO).   

O ponto de estopim para o início do estudo é de que, apesar de ser uma doença relativamente incomum e com baixo potencial metastático somente 15% ela tem se multiplicado nas últimas décadas e criado um alerta para sistemas de saúde do mundo inteiro.  

Após analisarem 121 estudos e se balizarem em 30 tópicos importantes sobre a doença, o trabalho publicado no Journal of Surgical Oncology em abril deste ano, intitulado Guidelines for the management of anal canal cancer, apresenta, através de informações o mais claras e objetivas possíveis, novidades dedicadas para recomendações de rastreamento, prevenção e exames, estratégias de tratamento, avaliação de resposta após quimiorradioterapia, aspectos e recomendações de acompanhamento na técnica cirúrgica, entre outras. 

Nova triagem e grupos de risco 

Entre os destaques, a recomendação para a detecção precoce do câncer de ânus é de que os exames preventivos comecem já aos 35 anos, mesmo não havendo sintomas aparentes, já que estudos epidemiológicos mostraram que esta é uma idade na qual as chances desse tipo de câncer se desenvolver aumentam. 

Afunilando esta parcela populacional para os grupos de risco, o rastreamento da doença é recomendado para pessoas imunossuprimidas, incluindo aquelas que passaram por transplante de órgãos sólidos e de medula óssea, as que vivem com HIV, mulheres com histórico de câncer de vulva e homens que tem relações sexuais com outros homens.  

Vacinação como estratégia de prevenção 

Um dos grandes vilões do câncer de ânus é a infecção viral causada pelo papiloma vírus humano, o HPV e também pelo vírus de imunodeficiência humana, HIV, este mais relacionado a imunossupressão causada no organismo. Além disso, também é possível citar o histórico de doenças sexualmente transmissíveis, entre outras questões. 

Por isso, uma das grandes recomendações da equipe de cirurgiões, oncologistas e radioteraoeutas que realizou o estudo é também a vacinação contra HPV, que pode ser encontrada na rede do SUS (Sistema Único de Saúde) para pessoas entre 9 e 14 anos e também para todo o grupo de risco citado anteriormente. 

Tratamento do câncer anal 

Falando sobre tratamento, o estudo aponta que o principal a ser abordado neste tipo de câncer que, inclusive, é utilizado em experiências realizadas no próprio A.C.Camargo Cancer Center, é a combinação de quimioterapia e radioterapia com a moderna técnica IMRT (Intensidade Modulada de Radiação). "Esta técnica chega a curar mais de 90% dos pacientes tratados", frisa a Dra. Rachel Riechelmann. 

As diretrizes, pela primeira vez, também apontam recomendações de reabilitação pós-tratamento de quimio-radioterapia, como por exemplo, o tratamento preventivo de estenose (estreitamento) vaginal que pode acontecer com mulheres que ficam curadas.   

Em sequência aos estudos, a Dra. Riechelmann têm liderado testes - com participação do Dr. Samuel - dentro da instituição com probióticos pelo objetivo de reduzir efeitos adversos do tratamento.

Live: desafios da inovação em oncologia

Inovação e tecnologia contribuem com a evolução da oncologia no Brasil. Por isso, é muito importante conversar a respeito das experiências e dos desafios da empreender. 

Para debatermos sobre o tema, preparamos uma live com a participação do Supervisor de Inovação aqui do A.C.Camargo, Victor Akira, e dos empresários Luana Raposo, Vinicius Gusmão e Vinícius Ribeiro, reesposáveis por projetos transformadores na área. 

Reserve a data na sua agenda. A live será no dia 4/7, às 18h. Faremos a transmissão em nosso Facebook, LinkedIn e YouTube. 

Superintendente do A.C.Camargo é eleito CDO – Chief Digital Officer do ano

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Inovação e transformação digital são peças fundamentais para evolução da assistência e do modelo Cancer Center.

O modelo Cancer Center adotado pelo A.C.Camargo forma um ambiente propício para o fomento de iniciativas e projetos de inovação que impactam diretamente a qualidade da assistência e o sucesso no desfecho clínico posicionando a instituição como referência internacional em oncologia.

Imagem de Rodrigo GoslingSob forte influência dos avanços tecnológicos que vêm pressionando o setor de saúde, em 2021, o A.C.Camargo Cancer Center redesenhou parte de sua estrutura e criou uma área totalmente dedicada à transformação digital e inovação.

Ao longo desses quatro anos, a equipe de inovação e transformação digital já atuou em mais de 15 frentes de trabalho. Entre as diversas iniciativas que convergem para ensino, pesquisa e assistência, o principal objetivo é impactar a jornada e experiência do paciente, melhorar os índices de produtividade nas operações de saúde e ampliar a relação custo-efetividade.

Além disso, o A.C.Camargo Cancer Center está abrindo suas portas para o ecossistema de inovação recebendo startups de biotecnologia, healthtechs e foodtechs.

O hub de inovação está em formação e é mais um esforço que se soma a iniciativas como a criação do Prêmio JEEM – Inovações pela Vida, que em sua última edição (2022) reuniu mais de 60 projetos de profissionais ligados à oncologia. 

Liderada pelo Chief Digital Officer (CDO), Rodrigo Gosling, a área também viabilizou projetos de telemedicina, transformação digital, automação de processos e utilização de inteligência artificial entre outros.

Nos primeiros dias de março, o executivo foi contemplado pelo grupo CIONET, maior comunidade de líderes digitais da Europa e América Latina, como CDO (Chief Digital Officer) do ano para o Brasil e segundo mais votado na América Latina. A votação, aberta no início de 2023, envolveu lideranças dos mercados de tecnologia e inovação em toda América Latina e Europa e apontou o executivo do A.C.Camargo Cancer Center como destaque do ano em ambas as esferas.

Graduado em administração e marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Gosling possui mais de 25 anos de experiência e já atuou em alguns dos maiores grupos de tecnologia, telecomunicações, varejo e mídia do Brasil até chegar ao A.C.Camargo como CIO em, 2019 e assumir a liderança da área de inovação em 2022.

Parceria entre A.C.Camargo e Insper amplia diagnóstico de câncer de mama

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Dispositivo é feito em impressão 3D e foi desenvolvido por alunos de engenharia mecânica do Insper com auxílio e orientação de médicos do A.C.Camargo
 

As áreas de ensino, pesquisa e inovação do A.C.Camargo Cancer Center produzem e compartilham conhecimento com o objetivo de reduzir custos ampliar o acesso à saúde oncológica em todo o Brasil. Em mais um projeto de inovação aberta, em parceria com o Insper, o A.C.Camargo orientou e auxiliou alunos do curso de engenharia mecânica no desenvolvimento de um dispositivo que permite o posicionamento de pacientes possibilitando a realização de biópsias de lesões nas mamas guiada por tomografia.

Este procedimento é indicado para casos que antes só poderia ser realizado com equipamentos de ressonância magnética, método que não é utilizado em larga escala devido ao alto custo e baixa disponibilidade de equipamentos fora dos grandes centros urbanos.

O novo suporte, que já está em uso no A.C.Camargo, é fabricado em uma impressora 3D e viabiliza o exame de tomografia para procedimentos de biópsia. O novo dispositivo é capaz de reduzir o custo do exame. Além disso, pode ser “impresso” tornando seu custo viável e ser facilmente utilizado em outras instituições, incluindo o SUS (Sistema Único de Saúde).

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que, em 2023, 73.6 mil novos casos de câncer de mama sejam registrados no Brasil, número 11% maior do que no ano anterior. Em 2022, o A.C.Camargo Cancer Center realizou mais de 16.7mil exames de mamografia e mais de 3mil procedimentos cirúrgicos relacionados ao câncer de mama.

Desenvolvimento e inovação

Em alguns casos as lesões na mama não podem ser visualizadas por meio de uma mamografia ou ultrassonografia impossibilitando um diagnóstico preciso ou a biópsia. Para situações como esta, o uso da ressonância magnética seria indicado, no entanto o custo do procedimento e disponibilidade do equipamento impossibilita sua utilização em larga escala. 

Para a realização do exame, a paciente é posicionada de barriga para baixo, deitada sobre o dispositivo que fixa a mama para que a tomografia possa ser realizada pelo médico que localizará o nódulo e fará a biópsia.

Após o desenvolvimento da solução, os testes começaram no segundo semestre de 2022 e foram divididos em duas fases. Na primeira etapa, o dispositivo foi submetido a uma série de testes com um simulador de mama, também conhecido como phantom, que demonstrou o procedimento adequado para localizar a lesão e, na sequência, posicionar a agulha para realizar a biópsia. Já na fase 2, após certificar a segurança, funcionamento e eficácia inicial do equipamento voluntários foram selecionados. 

Cooperação e inovação aberta

Chegar a esta solução foi possível graças ao acordo de cooperação de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico firmado entre o Insper e o A.C. Camargo Cancer Center.

O equipamento foi criado em 2021, no Projeto Final de Engenharia (PFE), de autoria de João Guilherme Coelho Apparecido, Milena Maluli, Pedro Henrique Greco Lopes e Pedro Isidoro Nery Antunes Maciel, alunos do 8º semestre de Engenharia Mecânica do Insper com orientação do professor Raphael Galdino dos Santos e dos doutores Almir Bitencourt e Paula Nicole Barbosa, médicos do Departamento Radiologia do A.C. Camargo Cancer Center.

O acordo prevê apoio mútuo para desenvolvimento de ações relacionadas à pesquisa e diagnóstico e tratamento do câncer. Como parte deste acordo também está o programa científico e tecnológico de cooperação e intercâmbio para execução de atividades de pesquisa e desenvolvimento, capacitação e absorção de recursos humanos e transferência de tecnologia.
 

Pesquisa Clínica, à procura da cura

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Na oncologia, o foco da pesquisa clínica é avaliar a segurança e a eficácia de novos procedimentos e medicamentos contra o câncer
 

Pesquisa clínica, estudo clínico ou ensaio clínico é a forma de estudar novos exames e tratamentos e avaliar sua segurança, seus efeitos e resultados na saúde humana. As pessoas se voluntariam para participar de ensaios clínicos cuja finalidade é testar intervenções médicas, incluindo drogas, células e outros produtos biológicos, além de procedimentos cirúrgicos ou radiológicos, dispositivos, tratamentos comportamentais e cuidados preventivos.

O objetivo é descobrir ou verificar os efeitos positivos e negativos de procedimentos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e outros, bem como reações adversas do item em investigação para garantir a máxima segurança e eficácia. Em outras palavras, um estudo desse garante que os tratamentos disponíveis no mercado hoje já passaram por estudos clínicos e já foram aprovados para sua comercialização. “Enquanto não houver a cura de 100% dos cânceres na totalidade de pacientes, há espaço para a pesquisa clínica seguir com a busca de novas terapias que melhorem cada vez mais o desfecho para os pacientes”, afirma Dr. Helano Carioca Freitas, vice-líder do Centro de Referência de Tumores de Pulmão e Tórax. 

Como esse processo ocorre? Durante o desenvolvimento de uma medicação, há etapas que envolvem seres humanos. Do ponto de vista didático, isso é dividido em quatro fases. “O público leigo tende a achar que o que funciona em laboratório, funciona no organismo humano. Mas não é assim. A enorme maioria do que é testado em laboratório e em animais, não funciona ou não é segura para o ser humano”, diz o especialista.

A fase I (em inglês, first in humans) representa a primeira vez que o produto é testado em humanos. Nessa primeira etapa, os objetivos são definir a segurança e a dose de uso da inovação nas pessoas. Na fase II, a segurança segue sob avaliação, mas o cientista passa a verificar também a eficácia do eventual trata- mento. Essa etapa pode ser comparativa ou não: na Oncologia, por exemplo, são observados o percentual de pacientes que apresentaram redução tumoral, o tempo de controle da doença, o tempo de vida das pessoas.

Por melhor que sejam os resultados, para se ter certeza de que o novo apresenta vantagens frente ao melhor tratamento disponível no mercado, há a necessidade de compará-los. Normalmente, essa comparação é feita na fase III. “Esse é o ensaio clínico verdadeiro, que é randomizado: é decidido em sorteio a parte dos integrantes que receberá o tratamento padrão e a que receberá a inovação em teste”, explica Dr. Freitas.

A fase IV é quando a droga, já aprovada pelas instâncias regulatórias de cada país e já disponível no mercado, é usada nas situações mais parecidas com a vida real. Se se mostrar mais eficaz, passa a ocupar o lugar de novo tratamento padrão. “A partir daí, os novos estudos terão de comparar as futuras inovações com esse novo padrão”, completa o pesquisador.

O paciente precisa de certo altruísmo para o desafio

Na hora de triar os pacientes que vão integrar um ensaio clínico, há critérios de elegibilidade. O primeiro passo é o médico responsável pelo tratamento comunicar a íntegra do estudo, esmiuçar a droga controle ou padrão e tudo que seja conhecido sobre a inovação a ser testada, além das regras da participação. Quando o paciente se sente suficientemente seguro e interessado em participar, ele assina o termo de consentimento.

Durante tais esclarecimentos, segundo Dr. Helano de Freitas, não é raro que os interessados queiram escolher o trata- mento a ser recebido. Por isso a escolha é randomizada (por sorteio). É assim que são garantidas chances iguais de que qualquer um pode receber um tratamento ou outro. Todos os participantes têm de seguir as regras do estudo e podem desistir dele a qualquer momento. É importante refletir e saber que a pesquisa clínica não é feita para salvar pacientes. Ela existe para gerar conhecimento que pode ou não ser útil aos participantes, mas que certamente será aos futuros pacientes. “É por isso que exige uma parcela de altruísmo de cada voluntário”, afirma o pesquisador.

No DNA, assistência, ensino e pesquisa

O A.C.Camargo Cancer Center integra assistência, ensino e pesquisa, básica e translacional, ao tratamento do câncer desde sua fundação. Tripé, aliás, que foi fortalecido com a migração para o modelo de cancer center. Com o recente aumento da pesquisa clínica no Brasil, patrocinada principalmente pela indústria farmacêutica, o A.C.Camargo Cancer Center recupera destaque na área de pesquisa.

Hoje há zero inovação genuinamente brasileira no tratamento oncológico. Essa é uma das razões pelas quais a unidade de pesquisa clínica do A.C.Camargo luta por captar os estudos mais promissores existentes no exterior para testá-los na instituição. “Assim, a gente propicia a nossos pacientes acesso ao que há de mais inovador no mundo”, afirma o vice-líder do Centro de Referência de Tumores de Pulmão e Tórax.

De acordo com Dr. João Paulo Lima, coordenador da Pesquisa Clínica, a instituição realiza estudos nas fases I, II e III. Foram 150 estudos feitos nos últimos 20 anos e mil pacientes tratados. Atualmente, há 21 estudos clínicos abertos para novos pacientes; outros 20 com pacientes em tratamento e 100 reunindo os pacientes tratados em todos os Centros de Referência da instituição. Cada centro de pesquisa é convidado a participar desses ensaios. Todos têm um investigador responsável, seus resultados divulgados em publicações científicas e apresentados em congressos.

Sob coordenação do Dr. Marcelo Petrocchi Corassa, oncologista clínico do Centro de Referência de Pulmão e Tórax, a última reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), teve, como um dos destaques, o estudo: Tumor agnostic efficacy and safety of erdafitinib in patients (pts) with advanced solid tumors with prespecified fibroblast growth factor receptor alterations (FGFRalt) in RAGNAR: Interim analysis (IA) results.

Trata-se de um ensaio de cenário diagnóstico, ou seja, não importa o tumor investigado, mas sim a alteração molecular presente no tumor. A equipe procurava uma alteração molecular específica, a FGFR, e fazia o tratamento a partir dela. Os resultados demonstraram benefícios aos pacientes que já tinham sido tratados extensamente com os recursos disponíveis até aqui. “A nossa expectativa é que os achados tragam grandes possibilidades de adotarmos mudanças nas práticas clínicas para tumores com essa alteração molecuar”, explica Dr. Corassa.

A realização do ensaio teve a participação de três pacientes e a triagem feita pelo A.C.Camargo Cancer Center, de 135. O estudo englobou uma série grande de diagnósticos, embora não fosse a totalidade absoluta, e os pacientes escolhidos precisavam ter exaurido os tratamentos disponíveis. Foram seguidos critérios percentuais específicos de alteração do gene FGFR para cada tipo de tumor.

Feitos os testes moleculares e aprovados pelos critérios, os pacientes receberam a terapia alvo Erdafitinib, hoje, liberada no Brasil somente para casos de câncer de bexiga. Já há registros de pacientes lançando mão desse tratamento há quase dois anos e evoluindo bem.

A taxa de resposta aproximada foi de 30%. Isto significa que 30% dos pacientes teve uma redução significativa no tamanho de seus tumores. O tempo dos pacientes em tratamento - chamado sobrevida livre de progressão foi de 5,2 meses, e o tempo de sobrevida desde o início do estudo foi de 10,9 meses. “Parece pouco, mas estamos falando de casos em que já se tinham esgotado todas as possibilidades existentes de tratamento padrão”, esclarece Dr. Corassa. Além disso, pacientes bem-sucedidos com o tratamento foram os que fizeram uso prolongado da droga, cerca de oito a dez meses.

A pesquisa clínica avalia novos procedimentos, diagnósticos, medicamentos ou cirurgias promissoras por meio de estudos clínicos, que seguem normas muito rígidas, a fim de proteger os participantes das pesquisas. O A.C.Camargo Cancer Center mantém acordos com hospitais e empresas inovadoras (nacionais e internacionais) para desenvolver tais estudos na busca das melhores maneiras de prevenir, diagnosticar e tratar o câncer.

Ensaio de terapia celular na fase 1

No Centro de Referência de Neoplasias Hematológicas, Dr. Jayr Schmidt Filho conduz um estudo internacional, o MINK 1305, para o qual foram escolhidos somente sete centros de pesquisa no mundo. O Brasil trata o sétimo paciente do mundo com a medicação, em um ensaio de terapia celular feito com células vindas dos Estados Unidos. Esse é o primeiro e mais arrojado estudo no Brasil, o qual pretende achar o tratamento para mieloma com células. Segundo Dr. João Paulo Lima, coordenador da Pesquisa Clínica da Instituição, a equipe do A.C.Camargo vai ajudar a definir se o uso das células é seguro, se não atrapalha o organismo e o quanto delas deve ser usado. Esse tipo de ensaio acontece normalmente no Japão, Suíça, Inglaterra, Estados Unidos. “A escolha do A.C.Camargo como um dos poucos centros do mundo a conduzir esse estudo atesta a qualidade e a excelência da instituição”, afirma Dr. João Paulo Lima.

O MINK 1305, patrocinado pela Mink Therapeutics, é um ensaio aberto de fase I de segurança, tolerabilidade e atividade clínica preliminar de células alogênicas invariantes natural killer (intk) não transduzidas (agent-797) em pacientes com mieloma múltiplo recidivante e refratário, já tratados previamente. Esse ensaio trabalha com células NK, e não com células CAR − como o de CAR-T, apresentado no box desta edição − e o primeiro paciente recebeu a infusão em meados de setembro.

O objetivo do MINK 1305 é determinar a dose máxima tolerada em humanos e, nessa etapa, o foco é descobrir se o medicamento é seguro e aceitável para tratar mieloma múltiplo recidivado e refratário. A partir do uso de diferentes doses, em diferentes grupos de pacientes, os cientistas observarão os eventuais efeitos colaterais apresentados. Cada paciente será designado a um pequeno grupo (também denominado coorte) e receberá uma dose específica do produto experimental.

A responsabilidade de lidar com o incerto

Por fim e não menos importante, o vice-líder do Centro de Referência de Tumores de Pulmão e Tórax, Dr. Helano Carioca Freitas, fala sobre a documentação detalhada envolvida no processo para garantir a segurança e o melhor cuidado aos participantes de um estudo clínico. “A pesquisa clínica está mais para sacal do que para divertida, pois precisa de muita burocracia.” Toda a documentação e regulamentação necessária para lidar com o incerto de uma pesquisa clínica demanda muito trabalho. “Até a consulta de uma pesquisa clínica é totalmente diferente de uma consulta ordinária”, completa.

Segundo o pesquisador, numa consulta de pesquisa clínica, é preciso identificar o sintoma de acordo com a classificação internacional específica. Deve-se graduar o sintoma, ter data de início e término, e avaliar se está relacionado com o trata- mento recebido − sim, não, possivelmente ou provavelmente −, além de estabelecer o vínculo com os medicamentos usados até então pelo voluntário, e por quanto tempo estão em uso.

Na prática clínica, só é preciso saber quais são os medicamentos e eventuais causas para agir a fim de reduzir ou eliminar o sintoma. “Em pesquisa é obrigatório documentar minuciosamente os quês e quandos da consulta, pois tudo é auditável”, alerta. A qualquer momento a instituição pode receber inspeção da ANVISA, do FDA ou de auditorias independentes contratadas pelo patrocinador do estudo.

Dados das 16 maiores indústrias farmacêuticas globais dão conta de que os estudos da maioria das drogas morrem na fase II. Somente 18% a 28% das drogas passam para a fase III. Segundo o pesquisador, depois do eco deixado pela COVID-19, as pessoas passaram a ter mais dificuldade para entender isso. “Acham que a partir do que está na teoria já há resultado nas pessoas”, conclui.

Ensaio clínico com CAR-T fez a primeira infusão em paciente

Nova modalidade, que modifica geneticamente células que atacam o tumor, é a base do estudo em fase 3 que está em andamento no Cancer Center

O A.C.Camargo Cancer Center realizou, no último 28 de novembro, a infusão do primeiro produto de terapia celular da história da instituição e a segunda em todo o Brasil. Trata-se do Ensaio Clínico com células CAR-T (células T geneticamente modificadas e reprogramadas em laboratório para destruir os tumores) da Janssen Cilag Farmacêutica. Apenas quatro instituições de saúde foram credenciadas para oferecer o tratamento de alta complexidade no Brasil, e o A.C.Camargo é o único Cancer Center que pode administrar a terapia no país.

A nova modalidade de imunoterapia, que modifica geneticamente os linfócitos (tipo de célula do sistema imunológico presente no sangue) para atuarem contra o tumor, é a base do estudo em fase 3, em andamento no Cancer Center.

Essa nova terapia poderá beneficiar pacientes que sofrem com mieloma múltiplo, uma alteração nas células do sistema imune que provoca disfunção na resposta imunológica, produzindo anticorpos defeituosos, sem atividade e que seguem progredindo, mesmo após o tratamento convencional (quimioterapia ou transplante de medula óssea). Essa é a primeira terapia à base de células CAR-T para tratar esse tipo de câncer. Ela foi aprovada pela ANVISA em março de 2022.

O mieloma múltiplo é mais recorrente em pessoas com mais de 60 anos. Seus sintomas são similares aos das doenças crônicas como, cansaço excessivo, marcas roxas na pelem, confusão, diminuição da força e da sensibilidade dos dedos, dor nos ossos, aumento dos níveis de cálcio no sangue, fraturas frequentes e espontâneas e o aumento no risco de desenvolver anemia, decorrente da diminuição na quantidade plaquetas e glóbulos brancos e vermelhos. No entanto, dificilmente estes sintomas se manifestam ainda na fase inicial da doença.

O diagnóstico pode ser realizado por um hematologista ou oncologista, por meio de testes clínicos, sanguíneos, de urina e biópsia da medula. Por ser considerado relativamente raro, o Instituto nacional do Câncer (INCA), não possui dados precisos. Porém, autoridades americanas estimam que, cerca de 95% dos casos são diagnosticados em fases avançadas da doença nos EUA. Nesse quadro avançado, a taxa de sobrevida de cinco anos é de 51%, podendo chegar a 74% quando diagnosticado em estágio inicial.

O funcionamento da imunoterapia feita no A.C.Camargo

A primeira etapa do processo é colher células do sistema imunológico do paciente a partir da centrifugação do sangue. Este procedimento é conhecido como leucaférese, e é similar a uma hemodiálise.

Em seguida, já em um laboratório, um especialista isola o linfócito T (tipo de leucócito ou célula de defesa do sistema imunológico). Esse linfócito é capaz de reconhecer antígenos (substâncias estranhas ao organismo como vírus, bactérias, tumores ou substâncias tóxicas) existentes no organismo.

O próximo passo é enviar o material coletado a um laboratório que fará a manufatura dessas células, ou seja, fará a modificação genética para programá-las para destruir o tumor. Isso é feito com auxílio de um vetor viral (vírus que tem o material genético alterado em laboratório para reconhecer e combater o tumor). Esse vetor entra no linfócito T, modifica o DNA dele e faz com que aquela célula expresse um receptor que reconheça o antígeno da doença, nesse caso o mieloma múltiplo, e a ataque.

Dentro de sete dias após a infusão das células CAR-T, pode haver uma reação inflamatória, sinal de que os linfócitos modificados estão se reproduzindo dentro do organismo e induzindo a liberação de substâncias para eliminar o tumor. Nesse momento, além de febre, o paciente pode apresentar variações em sua pressão arterial e eventual necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Sobre o estudo CARTITUDE-5

Registrado no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do A.C.Camargo sob o nº:3212/22 e na comissão nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) sob o nº: 48248621.6.2002.5432 o “CARTITUDE-5” é um  estudo de fase 3, randomizado comparando Bortezomibe, Lenalidomida e Dexametasona (VRd) seguidos por Ciltacabtagene Autoleucel, uma Terapia de Células T com receptor de antígeno quimérico (CAR-T) direcionado ao BCMA versus Bortezomibe, Lenalidomida e Dexametasona (VRd) seguidos por terapia com Lenalidomida e Dexametasona (Rd) em participantes da pesquisa com mieloma múltiplo recém-diagnosticado e para os quais o transplante de células-tronco hematopoéticas não está planejado como terapia Inicial. 

Número do Estudo: 68284528MMY3004 
Pesquisador Responsável: Dr. Jayr Schmidt Filho 
Patrocinador: Janssen Cilag Farmacêutica Ltda.

 

Amor à Vida - Espiritualidade no Tratamento Oncológico

 Espiritualidade no Tratamento Oncológico foi o tema do grupo Amor à Vida do A.C.Camargo.

O Grupo Amor à Vida realiza encontros com o objetivo de proporcionar bem-estar físico e mental para pacientes oncológicos, seus familiares e cuidadores, através de programação com temas diversos, que podem ter relação com alguma etapa do tratamento, cotidiano, saúde, vida social, entre outros temas.

Nesses encontros, aqueles que se sentem à vontade podem compartilhar e trocar experiências semelhantes, vividas durante o período de tratamento.

Assista e saiba mais:

Internação Especializada – Mais inovação no acompanhamento e no tratamento dos pacientes em um Cancer Center

Linha Fina

A fim de dar um tratamento ainda mais especializado para cada paciente, a Instituição está segmentando as unidades de internação para o atendimento dos diversos perfis assistenciais, segundo a complexidade de seus diagnósticos

O A.C.Camargo sabe que cada paciente oncológico é único e merece um tratamento personalizado.

Assim, a Instituição implementou o projeto de segmentação dos leitos, isto é, estamos separando as unidades de internação para o atendimento dos diversos perfis de pacientes, de acordo com a complexidade de seus diagnósticos, a fim de trazer ainda mais qualidade e segurança na assistência.. 

Teremos andares especializados para cada característica de atendimento:

•    Andar clínico
•    Andar cirúrgico 
•    Andar hematológico
•    Andar pediátrico (entrega já concluída)

Além dos andares de internação, inauguramos em 04/07 uma ala exclusiva para preparo de pacientes em pré-operatório, onde teremos equipe assistencial especialista na recepção e preparo para o centro cirúrgico. Após a cirurgia, o paciente será encaminhado para o andar de internação especializado. 

ala pré-operatória - Internação Especializada


Além de trazer a inovação do Andar Pré-Operatório, para maior conforto dos familiares, inaugurarmos, também em 04/07, o Lounge do Acompanhante. Nesse espaço, a família do paciente que fará cirurgia poderá acompanhar o status de seu familiar dentro do centro cirúrgico, em tempo real, e a liberação dele para o quarto. Com a liberação do paciente do centro cirúrgico, o serviço de mensageria encaminhará a família até o quarto para poder aguardar seu familiar chegar e conversar com equipe médica.
 

Lounge do Acompanhante - Internação Especializada


Início das atividades com pacientes hematológicos

Foi optado iniciar o projeto de segmentação nos andares de pacientes adultos onco-hematológicos – aqueles que tratam leucemias, linfomas e mielomas –, onde se concentram no 8º andar da unidade Antônio Prudente, com início das atividades em 18/07.

A escolha da especialidade se deu analisando a criticidade da patologia. 

Esta medida reforça o conceito de Centro de Referência implantado no A.C.Camargo, que implementa diretrizes direcionadoras para as especialidades oncológicas.

O objetivo do projeto é proporcionar um atendimento ainda mais focado e direcionado para cada perfil de paciente, concentrando esforços, estreitando a relação com o corpo clínico e com a equipe assistencial, otimizando as condutas e o tempo e, sobretudo, dando a possibilidade de o paciente ser assistido de forma integrada, em um só espaço.

Ou seja, além do corpo clínico, no andar especializado vai haver uma equipe assistencial e multiprofissional totalmente qualificada e focada naquele tipo específico de câncer – no caso, os hematológicos. 

Cada andar terá além da equipe especializada, uma política de proteção aos pacientes que atendem à criticidade do diagnóstico, para que o ambiente seja totalmente seguro e propício para o tratamento. 

Por exemplo, no caso dos pacientes hematológicos, onde no seguimento da doença há grande risco de infecção, existem políticas mais sensíveis para que a estadia do paciente seja segura não apenas para eles, mas também para seus acompanhantes.

Confira aqui as nossas políticas de internação.

Não venha para o A.C.Camargo caso apresente um dos sintomas abaixo:

• Febre
• Falta de ar ou dificuldade de respirar
• Dificuldade de retomar atividades habituais
• Diarreia e dor abdominal
• Dor de garganta
• Perda de olfato ou paladar

Podcast Rádio Cancer Center #62 - Tudo sobre pesquisa clínica

Linha Fina

O que é este tipo de estudo? Os pacientes podem se beneficiar? Há risco ao participar? Entenda tudo neste episódio com o Doutor Rodrigo Taboada e o Doutor Daniel Garcia, oncologistas clínicos do A.C.Camargo

Você sabe o que é pesquisa clínica? Esses estudos de hoje são os tratamentos que salvarão vidas amanhã. Ao participar, um paciente vai contribuir com a ciência do câncer e ainda poder ter evoluções no tratamento. 

Entre as dúvidas, que são esclarecidas neste podcast, estão:

  • O que é pesquisa clínica? Como são as fases de uma pesquisa. 
  • Qual é a importância desses estudos para a comunidade científica e para os pacientes? Como os pacientes podem se beneficiar com a participação? Esses pacientes podem ajudar a salvar vidas no futuro? 
  • O que garante aos pacientes a segurança para eles fazerem parte de um estudo clínico? Muitos acabam com medo de se tornarem cobaias? Estando em um estudo clínico, os pacientes correm algum risco? 
  • Todos os pacientes são elegíveis caso haja uma pesquisa aberta para aquele tipo de câncer que ele trata? O que define a participação ou não de um paciente?
  • O que um paciente tem que fazer para integrar uma pesquisa clínica? Ele deve perguntar para o médico dele se há algum estudo aberto? Caso o paciente desista, ele pode retomar o tratamento sem prejuízos?

Saiba tudo sobre pesquisa clínica neste podcast com o Doutor Rodrigo Taboada e o Doutor Daniel Garcia, oncologistas clínicos do A.C.Camargo:

 

Se preferir, ouça este podcast em nossos agregadores de streaming: Spotify, SoundCloud, Google Podcasts e Deezer.

 

Superação e Braile: Os Desafios na Oncologia Pediátrica

Superação e Braile: Os Desafios na Oncologia Pediátrica foi o tema do grupo Amor à Vida do A.C.Camargo.

O Grupo Amor à Vida realiza encontros com o objetivo de proporcionar bem-estar físico e mental para pacientes oncológicos, seus familiares e cuidadores, através de programação com temas diversos, que podem ter relação com alguma etapa do tratamento, cotidiano, saúde, vida social, entre outros temas.

Nesses encontros, aqueles que se sentem à vontade podem compartilhar e trocar experiências semelhantes, vividas durante o período de tratamento.


Anfitriã e Moderadora:

  • Silvia Voulliéme - Gerente de Experiência do Paciente do A.C.Camargo


Palestrantes:

  • Bianca Chaló, Professora de Braile e mãe da Nicole (paciente do A.C.Camargo Cancer Center)
  • Juliane Santos, Supervisora de Ensino no A.C.Camargo Cancer Center


Assista e saiba mais:

Terapia canabinoide no tratamento do câncer: estudos mostram benefícios

Linha Fina

Entre eles, diminuição de náusea e vômito, ação ansiolítica e anti-inflamatória e redução de dores crônicas e neuropáticas 

A terapia canabinoide no tratamento do câncer é algo comprovado por vários estudos, sobretudo internacionais, inclusive reconhecidos pela ASCO (Sociedade Americana de Oncologia).

Foi esta a temática de uma das aulas de abertura do Next Frontiers to Cure Cancer, congresso internacional organizado pelo A.C.Camargo de 22 a 25 de junho.

No painel Cannabis no Controle de Sintomas em Oncologia, a Doutora Carolina Nocetti, Coordenadora Internacional da Academia Americana de Medicina Canabinoide e que tem larga experiência internacional no assunto, explicou que há mais de 100 fitocanabinoides.

"O sistema canabinoide é complexo e se relaciona com outros sistemas fisiológicos. O CB1 atua no sistema nervoso central e o CB2 nas células imunológicas", diz a médica. 


Terapia canabinoide no tratamento do câncer: não cura, mas melhora a qualidade de vida

Segundo a Doutora Carolina Nocetti, há inúmeros estudos que mostram a associação positiva do uso da terapia canabinoide no manejo de sintomas oncológicos, algo que inclusive é reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina. 

“O CBD pode atuar na diminuição de náusea e vômito induzidos por quimioterápicos, além de atenuar dores crônicas e neuropáticas, ter ação ansiolítica e anti-inflamatória e ajudar no apetite. O CBD não cura, mas pode trazer uma melhor qualidade de vida”, afirma a Doutora Carolina Nocetti.

Doutora Carolina, 40 anos, branca e cabelo curto negro, Terapia canabinoide no tratamento do câncer