Pioneiro no campo da onco-hematologia, ele foi desenvolvido em estudo multicêntrico internacional, que teve a liderança de médico do A.C.Camargo Cancer Center
Quando um paciente é diagnosticado com leucemia mieloide aguda, os médicos usam uma variedade de métricas para determinar a gravidade da doença. As classificações de risco genético são uma maneira importante de distinguir pacientes com quadro de alto e baixo risco, mas isso pode ser uma tarefa desafiadora.
Daí a importância de se desenvolver um método pioneiro que avalie o quadro com mais precisão.
Algo que foi estabelecido em um estudo publicado no periódico Blood Advances, intitulado Integrating Clinical Features with Genetic Factors Enhances Survival Prediction for Adults with Acute Myeloid Leukemia (A Integração de Características Clínicas com Fatores Genéticos Melhora a Previsão de Sobrevida para Adultos com Leucemia Mieloide Aguda).
As ferramentas inovadoras
A ferramenta mais amplamente usada para avaliar os quadros de leucemia mieloide aguda (LMA) é a classificação citogenética-molecular do consórcio European LeukemiaNet 2017 (ELN 2017), que utiliza marcadores moleculares para criar uma avaliação de risco genético.
A ELN 2017 é precisa, mas há um problema: os tipos de informações moleculares e citogenéticas necessários para fazer o modelo funcionar nem sempre estão disponíveis, sobretudo em países com menos recursos.
Primeiro autor do estudo, o Dr. Douglas Rafaele Almeida Silveira, médico hematologista do Centro de Referência em Tumores Hematológicos do A.C.Camargo Cancer Center, conta que, para suprir essa carência, eles incorporaram duas ferramentas de avaliação prognóstica ao campo de estudo da LMA:
- Risco genético adaptado (AGR): é uma classificação citogenética-molecular que acomoda algum grau de dados faltantes, permitindo que mais pacientes tenham uma informação prognóstica precisa e validada de seu quadro;
- Escore de sobrevida em LMA (SAMLS): incorpora o AGR a variáveis clínico-laboratoriais (idade, albumina sérica e contagem de leucócitos) em um cálculo simples. “Ele refina a estratificação, prediz a sobrevida em cinco anos com precisão de aproximadamente 80%. É algo pioneiro no campo da onco-hematologia”, afirma o Dr. Douglas.
O desenvolvimento da inovação
O modelo biológico foi construído sobre conhecimento prévio, no caso, a classificação da ferramenta European LeukemiaNet 2010 (ELN 2010).
A seguir, os médicos pesquisadores pensaram em simplificações probabilísticas no intuito de acomodar eventuais dados faltantes de forma racional.
“O último passo foi a comparação do AGR com o padrão ouro (ELN 2017), utilizando os dados de 167 pacientes tratados no Hospital das Clínicas da FMUSP, evidenciando que AGR e ELN 2017 possuíam virtualmente a mesma acurácia em predizer o desfecho. Depois, houve a validação em duas outras coortes independentes: 145 pacientes tratados no Hospital das Clínicas da FMUSP de Ribeirão Preto e 157 pacientes tratados nos hospitais da Universidade de Oxford, no Reino Unido”, explica o Dr. Douglas.
Simples implementação
Normalmente, inovações como essa exigem mais testes e custos adicionais, ao contrário das ferramentas AGR e SAMLS.
“Essa talvez seja a parte mais surpreendente. As nossas ferramentas AGR e SAMLS necessitam somente dos testes rotineiramente solicitados e amplamente disponíveis, portanto elas são de fácil implementação, inclusive aqui no A.C.Camargo. Elas foram idealizadas para flexibilizar e facilitar”, analisa o Dr. Douglas.
Impacto para pacientes e comunidade científica
É possível avaliar o impacto dessa inovação à luz de duas perspectivas: a do pesquisador e a do paciente com LMA e seu respectivo clínico assistente.
“Quanto ao pesquisador, ao decidir utilizar o AGR/SAMLS em seu trabalho, ele terá uma ferramenta que aumenta em até 30% o número de pacientes classificados e simplifica a modelagem estatística. Já estamos utilizando em nossos projetos e, claramente, isso aumentou o poder estatístico da nossa análise”, diz o Dr. Douglas Rafaele Almeida Silveira.
Em relação ao dueto paciente / clínico-assistente, ele terá uma ferramenta de acurácia boa e validada para avaliar o risco de recaída pela doença. O mais importante: sem aumentar o custo do tratamento, que já é elevado.
“Outro aspecto que vale ser ressaltado é que o AGR/SAMLS precisa ainda ser validado prospectivamente antes que possamos utilizá-lo para guiar decisões terapêuticas. No entanto, uma análise de subgrupo do nosso estudo demonstrou o potencial do SAMLS para discriminar quais pacientes precisariam e quais não precisariam de transplante de medula óssea precoce no curso do tratamento da leucemia mieloide aguda”, finaliza o médico.
Adicionalmente, os médicos do Centro de Referência em Tumores Hematológicos têm trabalhado em parceria com o time da pesquisadora Dirce Carraro, no Centro Internacional de Pesquisa (CIPE), para o desenvolvimento de painéis de pesquisa de mutações a custos acessíveis, a fim de disponibilizá-los aos pacientes tratados no complexo do A.C Camargo e, eventualmente, em outros centros hospitalares.
Para conferir o artigo completo (em inglês), clique aqui.
Saiba mais:
- Veja se seus sinais e sintomas precisam de avaliação médica