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Discussão dos benefícios da cirurgia para pacientes com câncer de mama metastático ao diagnóstico

 
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Discussão dos benefícios da cirurgia para pacientes com câncer de mama metastático ao diagnóstico

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Por Solange Sanches, oncologista clínica e vice-coordenadora do Centro de Referência em Tumores da Mama

Na literatura, não existe consenso se mulheres que fazem o diagnóstico com o câncer de mama já com metástase teria benefício ou não de operar a mama. Existem alguns estudos que não apresentam o mesmo resultado: alguns mostram que tirar o câncer da mama mesmo com doença à distância tem benefício na sobrevida; já outros mostram que não.

Um novo estudo incluiu 256 pacientes que faziam tratamento sistêmico com a quimioterapia mais moderna, baseada em antraciclinas e taxanos. Se a doença não progredia no intervalo de quatro a oito meses, elas eram randomizadas para continuar nesse tratamento sistêmico ou para fazer uma terapia local, que era a retirada do tumor com objetivo de ter margens livres junto com radioterapia da mama.

Esse estudo mostrou que não teve diferença em sobrevida global. Essas mulheres alcançaram 54 meses de sobrevida global, mas não tiveram benefício. Porém, fazer a retirada da doença da mama diminui o risco de recorrência local, ou seja, de voltar o tumor nessa mesma mama. E isso é 2,5 vezes versus quem só fez a terapia sistêmica.

Para os tumores triplo negativos (um subtipo mais agressivo), quem fez tratamento sistêmico evoluiu melhor do que quem fez tratamento local. Mas a gente tem que ter muito cuidado para avaliar esse resultado visto que o número de pacientes era muito pequeno (apenas 20 pacientes). Já para os tumores do tipo HER2 e receptor hormonal positivo foi igual em sobrevida fazer tratamento sistêmico ou tratamento local.

Em termos de qualidade de vida também não houve muita diferença. Numa primeira avaliação 18 meses após a randomização, quem fez a cirurgia teve melhores índices de qualidade de vida, mas ficou igual em todas as outras medidas.

Então, trazendo para a prática clínica, o resultado desse estudo mostra que operar todas as mulheres com câncer de mama metastático no diagnóstico não é adequado. Eventualmente, algumas mulheres, mesmo tendo o controle da doença fora da mama, progridem na mama ou aquele tumor traz resultado, essa sim poderia ser oferecida a cirurgia. Mas, para todas as outras, agora fica claro que não existe benefício desta cirurgia, considerando os avanços dos tratamentos sistêmicos que fizeram com que a sobrevida dessas mulheres aumentassem mesmo sem a retirada do tumor primário.

Ainda na discussão do estudo, restava dúvida sobre um subgrupo específico de pacientes que tem só uma metástase óssea: para essas, um estudo direcionado deveria ser realizado antes, a fim de saber se essas pacientes que já têm um prognóstico excelente, fazendo a cirurgia ou ablação dessa doença oligometastática que tivesse somente um local de metástase (além da mama), se poderia ser feito. Mas, a rigor, esse estudo afasta a necessidade de operar a mama de pacientes metastáticos.

 

Solange Moraes Sanches

 

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