Transposição uterina e novos marcadores para câncer de ovário são alguns dos trabalhos produzidos pelos nossos especialistas
A pesquisa torna possível ampliar o acesso a novas terapias, melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida dos pacientes. Além disso, permite o fomento e a disseminação de conhecimento sobre o câncer, que é a nossa prioridade, enquanto um cancer center. De olho nisso, no último ano, tivemos importantes avanços em estudos e tratamentos para o câncer ginecológico liderados pelos nossos especialistas, que ganharam destaque em publicações internacionais. Confira os principais temas de 2018.
Hereditariedade em câncer de mama e ovário: novas regiões dos genes BRCA1 e BRCA2
Já sabemos que existe uma relação entre os genes BRCA 1 e BRCA 2 e a síndrome de câncer de mama e ovário hereditários – o exemplo famoso lembrado por todos é o da atriz Angelina Jolie, que retirou as mamas, as trompas e o ovário quando um teste genético apontou a mutação do BRCA1. O estudo Assessment of the functional impact of germline BRCA1/2 variants located in non-coding regions in families with breast and/or ovarian cancer predisposition (Avaliação do impacto funcional de variantes germinais de BRCA1/2 localizadas em regiões não- codificadoras em famílias com predisposição para câncer de mama e /ou ovário), publicado em dezembro na revista Breast Cancer Research and Treatment, foi mais abrangente e mostrou novas regiões não exploradas desses genes, que podem conter alterações que aumentam o risco de desenvolvimento de tumores.
O estudo é parte da tese de doutorado da Dra. Elizabeth Santana dos Santos, da Oncologia Clínica, que ela desenvolve no Instituto Curie, em Paris, com quem temos uma parceria científica. “Isso abre uma nova perspectiva para o câncer de mama e ovário hereditário por trazer uma metodologia que inclui a investigação de regiões que até então não eram contempladas nos testes de rastreamento. A nossa hipótese é a de que a explicação para famílias cujo mecanismo de predisposição hereditária ao câncer permanece desconhecido esteja relacionada a alterações em regiões regulatórias dos genes BRCA1/2 que não são exploradas nos testes de rotina”, diz a Dra. Elizabeth.
Transposição uterina para preservação de fertilidade
Outro grande destaque do ano foi a primeira transposição uterina para câncer de colo do útero no mundo. O trabalho, que foi liderado pelo Dr. Glauco Baiocchi Neto, Head do Departamento de Ginecologia Oncológica e sua equipe, ganhou manchete em diversas revistas científicas internacionais pelo ineditismo e pela contribuição para a qualidade de vida dos pacientes. O caso clínico foi publicado no artigo Uterine transposition after radical trachelectomy, na Gynecologic Oncology.
Ele descreve que a paciente fez uma traquelectomia radical (cirurgia em que são retirados o colo, a vagina, ligamentos do colo e gânglios da pelve) e o resultado da biópsia do colo do útero sugeriu que ela ainda tinha fatores de risco que necessitavam de radioterapia na pelve. “A radioterapia no corpo do útero e ovários leva à esterilidade. Para preservar a fertilidade da paciente optamos pela transposição uterina”, diz o Dr. Glauco. Após a radioterapia, a paciente é novamente operada para que o útero volte a ser posicionado na vagina.
Novos marcadores genéticos para prognóstico do câncer de ovário
Outro estudo ganhou notoriedade no cenário científico, desta vez, sobre o câncer de ovário, tumor que, na maioria dos casos, quando é detectado já está em fase avançada, diminuindo as chances de cura. No Prognostic value of GRIM-19, NF-κB and IKK2 in patients with high-grade serous ovarian cancer/ (Valor prognóstico de GRIM-19, NF-κB e IKK2 em pacientes com câncer de ovário seroso de alto grau), publicado em dezembro na Pathology, Research and Practice, foram avaliados marcadores que ajudam no prognóstico do câncer de ovário avançado. O objetivo foi reconhecer quais pacientes poderiam ter resistência à quimioterapia baseada em platina. O estudo, que é parte da dissertação de mestrado do biomédico Felipe Ilelis, realizado no departamento de Anatomia Patológica do A.C.Camargo, avaliou mais de 71 pacientes.
Por análise imunohistoquímica (método que analisa tecidos em busca das composições proteicas), Felipe investigou a expressão de três biomarcadores: GRIM-19, GRIM-19, NF-κB e IKK2. “A conclusão é que a presença do GRIM-19 é uma boa notícia, um marcador de bons prognósticos. As pacientes que apresentaram a expressão desse marcador passaram um maior período sem a doença”, diz Felipe. Já os marcadores NF-κB e IKK2 são associados aos piores prognósticos e à resistência à quimioterapia baseada em platina. “A análise imunohistoquímica desses biomarcadores pode ser importante para avaliar de maneira categórica se as pacientes serão resistentes ou sensíveis à quimioterapia no tratamento do carcinoma seroso”, diz Felipe.