Acolhimento, no ambiente do hospital
Acolhimento, no ambiente do hospital


O que você acha dos ambientes que frequenta no A.C.Camargo? Os saguões, as salas de atendimento, os corredores de espera, os consultórios, qualquer ambiente? Como você avalia a acomodação que eles têm e as sensações que despertam nos usuários? Em torno dessas questões, o Conselho Consultivo de Pacientes e Acompanhantes realizou a sua terceira reunião deste ano, em 25 de junho. Foi uma ótima conversa, mais uma vez reveladora de como nós, pacientes, somos múltiplos e como temos visões diferentes de coisas que compartilhamos e, em tese, seriam iguais para todos.
O tema da reunião, Ambientes Acolhedores, já embutia o seu propósito. Discutir o que está pegando nos espaços do hospital e o que é bom fazer neles, para que fiquem mais amigáveis, confortáveis, agradáveis de estar. Quem procurou a opinião dos conselheiros foram Thais Arruda e Natália Raquel, da área de Comunicação e Marketing, e Caroline Nóvoa, de Infraestrutura. Elas estão trabalhando num projeto de sinalização interna do hospital e precisam entender como nós, os fregueses, sentimos e avaliamos as instalações.
Natália apresentou fotos de diversos espaços e pediu aos conselheiros que respondessem, especificamente, a três questões:
- Em uma palavra, qual a sensação que esses espaços trazem?
- Do que você sente mais falta ao olhar essas imagens?
- Se você pudesse escolher três itens que deixariam os espaços mais acolhedores, quais seriam?
Bom, nós até que tentamos a síntese pretendida por ela, mas a nossa eloquência falou mais alto. Foi difícil resumir a sensação numa única palavra, cada um sentiu falta de alguma coisa nas imagens e todos escolheram pencas de itens. Mas foi isso, na visão geral, que fez a reunião ainda mais rica do que as nossas convidadas esperavam.
Os conselheiros foram unânimes apenas em concordar que as instalações da Pires da Mota são melhores que as da Antônio Prudente e da Tamandaré. Normal, elas são mais novas e têm uma concepção mais ajustada às necessidades da oncologia moderna. Que não são as de 1953, obviamente, quando o hospital foi inaugurado na Prudente, com projeto assinado pelo grande Rino Levi, o que representa hoje um patrimônio arquitetônico valioso. Caroline nos disse que o prédio está sendo restaurado com o cuidado de modernizar os espaços sem descaracterizar as suas linhas, preservando esse patrimônio.
Mas, se fomos unânimes quanto à Pires da Mota, no mais cada um considerou aspectos distintos nas instalações. Um de nós sente falta de música ambiente nas recepções e acha as cadeiras desconfortáveis. Outra diz que falta espaço nos ambulatórios Fairbanks e Fernando Gentil, o que causa aglomerações. Outra ainda diz que as fotos das salas de conversa, onde os médicos e profissionais da saúde às vezes têm de dar más notícias, passam um sentimento de tristeza. Quer que elas tenham mais cor ou uma imagem de paisagem, que traga paz ao paciente e o ajude a aguentar o tranco.
Alguém que comparou as fotos de Natália acha que a Pires da Mota é diferenciada por ter janelas grandes, que permitem ver o sol e a cidade, enquanto os ambientes das outras unidades parecem estar todos no subsolo ou térreo, e têm janelas pequenas, que deixam os ambientes deprimentes. A pessoa recomenda uma iluminação diferente e plantas, para fazer o local mais acolhedor.
Um colega acha recepção da quimioterapia um pouco fria e sugere móveis orgânicos, quadros e música no local. Outro usuário de lá diz que as cadeiras são baixas, um incômodo para quem tem problemas na bacia. Também atendido na unidade Tamandaré, ele reparou que as poltronas agora estão mais confortáveis por lá. Já um usuário da Antônio Prudente sente falta de tomadas de energia, porque precisa trabalhar durante os atendimentos e não tem onde ligar o notebook. Ele também acha difícil a visualização do painel de chamada e considera a máquina de café complicada de operar. Sugere ainda que o jardim existente na unidade seja aberto aos pacientes.
Outro colega nosso diz que a recepção do Fairbanks é sempre lotada e dificilmente se consegue lugar para se sentar. Ele também cobra poltronas mais confortáveis na Emergência. Quando precisa receber transfusão de sangue fica horas no local e os bancos são duros, não reclinam e nem há lugar adequado ali para os acompanhantes.
Uma de nós define os ambientes do A.C.Camargo com a palavra "dignidade", diz que é isso que eles trazem ao paciente oncológico. Mas reclama que a recepção barulhenta do Fairbanks dificulta ouvir a chamada da senha. Observa que muitos pacientes exageram no número de acompanhantes e acha que algumas especialidades que atendem no Fairbanks deveriam ir para outros locais.
Consumidora de sorvetes, recomendados ao seu tratamento, essa conselheira pede que o hospital dê espaço a franquias de sorveteria. Outra sugere mais plantas nos ambientes e brinquedos novos para os pacientes infantis. Outra ainda discorda dos colegas e diz que não convém por música nos ambientes, pois é difícil algum gênero agradar a todos.
Enfim, como se vê, é uma imensa diversidade de visões, demandas e sugestões. Foi com essa palavra, aliás, que defini os espaços que utilizamos. Eles são diversos em si, na finalidade; diversos entre si, na localização; e diversos no conteúdo humano que abrigam. Sugeri que, em vez de painéis fotográficos nos espaços, eles sejam decorados com obras de arte — pinturas, gravuras e esculturas — que, além de embelezar e entreter, fazem a gente refletir e sonhar.
Em qualquer caso, você há de concordar comigo, como terá concordado com alguns dos colegas acima, ou todos. Sejam mais ou menos confortáveis, tenham ou não um café fácil de tirar, sejam as paredes cobertas de painéis relaxantes ou de arte intrigante, os ambientes de hospital são e serão sempre… hospitalares. Locais onde esperamos o melhor tratamento aos nossos males, é claro, mas de onde queremos sair o mais rápido possível, curados. Portanto, acolhedor mesmo é o jogo rápido no atendimento. Rolando isso, pode deixar tudo branco e sem graça, que o paciente nem vai perceber.
Gabriel Priolli é jornalista radicado em São Paulo. Trabalhou nos principais veículos de imprensa do país, dirigiu e criou canais de televisão, e foi professor na PUC, FAAP e FIAM. Hoje atua como consultor de comunicação.
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