Surpresa com o resultado positivo, sugeriu então para a sua médica na época, a Dra. Fabiana Makdissi, uma ponte para criar aqui no A.C.Camargo o Projeto Superação - o qual integra o Instituto Onco-Superação -, onde adaptaria as práticas de coach e psicologia positiva as pacientes de câncer de mama, as quais concluiu terem funcionado consigo mesma.
Assim, ela começou a entender o papel desse relacionamento de apoio no dia a dia, junto ao da equipe médica multidisciplinar, desenhou e colocou na rua o programa que, em 3 anos, já atendeu mais de 150 mulheres.
Como funciona o Projeto Superação
O Projeto Superação é uma estrutura de apoio emocional à paciente diagnosticada com câncer de mama, como o propósito de possibilitar qualidade de vida e reintegração a vida social e profissional dessa mulher. Ao participar do projeto as pacientes vivenciam 7 módulos (um por mês) e, literalmente, se formam na metodologia, recebendo um certificado no final e podendo até começar a contribuir em outras turmas do programa. “Há um board de coachs profissionais, capacitadas, mas a maioria ou nenhuma delas, tirando eu, passaram por um câncer como este, então mulheres que já passaram pela metodologia podem contribuir voluntariamente como ‘anjos’ para ajudar a humanizar o aprendizado”, explica Gisele.
A divisão da metodologia utiliza cada letra da palavra Superação como um acrônimo para nomear cada uma das 7 etapas. Os encontros são semanais, às sextas-feiras, e duram cerca de 2 horas.
Na letra “S” o autoconhecimento, sonhos e objetivo são trabalhados nestas mulheres, incluindo a vida social e profissional. O módulo é chamado de “Ser humano e sonhos”.
(aspas de destaque) “Quando descobrimos o câncer, por muitas vezes pensamos que não podemos mais sonhar, então a proposta é, além de levar qualidade de vida para elas, resgatar o quão possível é que elas ainda vivam seus sonhos”. Gisele Gengo, coach idealizadora do projeto.
Já na letra “U”, trabalha-se a “União e o engajamento”, resgatando os propósitos e valores destas mulheres.
Chegando à letra “P”, fala-se de “Previsibilidade e engajamento”, o que a Gisele chama de “hora de aterrissar”. “A gente trabalha a organização das agendas delas, porque toda a agenda da mulher desestabiliza, então precisa haver outras coisas em meio a consultas e tratamentos. Organização financeira e um roadmap de metas, por exemplo”, contextualiza.
Na letra “E”, há uma imersão em "Energia e emoções positivas”, com o intuito de recuperar a vitalidade, os afetos e o entendimento deles.
Próxima letra: R. Neste momento, se começa a trabalhar a qualidade dos “Relacionamentos”. Fala-se sobre o relacionamento com os filhos, maridos, mães e todo o grupo de suporte a essa mulher, assim como se ensinam técnicas de comunicação.
"É difícil para estas mulheres pedir ajuda, principalmente para aquelas com diversas responsabilidades dentro da família, elas se sentem como se estivessem recebendo um certificado de incompetência. Inclusive, é uma sensação que acende o nosso cérebro no mesmo lugar da dor física”, contextualiza a coach.
Na sequência, temos a letra “A” que atua na “Autonomia para a solução de problemas” das participantes, visando por um viés de identificá-los e solucioná-los com mais agilidade e clareza.
No último R, os encontros são voltados para “Ressignificação emocional e cognitiva” e, por fim, ainda aproveitando a palavra AÇÃO, leva consigo a filosofia raiz do coaching, na qual, com base no aprendizado e treinamento, você amplia a consciência para a visualização de novas perspectivas, pensamentos e comportamentos. A cada sessão há uma variação de ações para que este novo olhar e modo de viver se expanda, fixe e fortaleça.
A ressignificação emocional e cognitiva vem como um passo para tornar essa jornada mais leve. Rompendo crenças, o processo de superação passa a ser focado não na superação do câncer, porque isso é a medicina que faz, mas na superação de todos os desafios que o tratamento impõe.
Curiosidades
Você já ouviu falar que muitos relacionamentos terminam com a descoberta de um câncer de mama?
Esta é uma questão muito levantada quando se fala em câncer de mama. Por isso, pensando em coletar uma pequena amostra sobre o tema e, junto a isso, aproveitar para entender como essas relações estavam se dando dentro, não só do Projeto Superação, mas do Instituto Onco-Superação, uma pesquisa foi realizada em conjunto com o A.C.Camargo Cancer Center.
O intuito então era entender melhor o comportamento das relações de apoio entre as pacientes do Instituto Onco-Superação, conversando com 116 mulheres.
Confira alguns dos surpreendentes resultados:
46,1% das pessoas consideram o marido como seu ponto de apoio.
76% das respondentes dizem que o parceiro NÃO se distanciou durante o tratamento.
82,6% dos casamentos se mantiveram e 56,9% das pacientes alegaram que o relacionamento se fortaleceu durante o tratamento, sendo que 62,5% destes matrimônios foram considerados saudáveis ainda antes do diagnóstico.
Estes resultados de longe não comprovam um comportamento massificado destas relações, seja no país ou no mundo, mas acendem uma luz sobre a questão.