Saiba como se prevenir, diagnosticar e tratar esse tipo de câncer
Fevereiro Laranja é o mês da conscientização sobre as leucemias.
Leucemia é o câncer que tem origem na medula óssea, onde são produzidas as células do sangue.
Da medula, essas células alcançam o sangue e, a partir dele, podem atingir os gânglios linfáticos, o baço, o fígado, o sistema nervoso central (cérebro e coluna vertebral), os testículos e outros órgãos.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa para este ano é de 10.810 novos casos, sendo 5.920 homens e 4.890 mulheres.
Mulheres com leucemia, aliás, foram objeto de um estudo que contou com o corpo clínico do A.C.Camargo Cancer Center: Management of chronic myeloid leukemia during pregnancy: a retrospective analysis at a single center (em tradução livre, Manejo da leucemia mieloide crônica durante a gravidez: uma análise retrospectiva em um único centro). A pesquisa mostrou que não houve eventos adversos maternos, malformação fetal ou óbito em nenhuma das gestações, mas, claro, são necessários cuidados muito especiais.
Fevereiro Laranja: o podcast
Neste podcast, a Doutora Marina de Mattos Nascimento, hematologista do Centro de Referência em Tumores Hematológicos do A.C.Camargo, fala tudo sobre:
O que são as leucemias e quais são os seus subtipos
Fatores de risco e sinais e sintomas importantes para o adulto fazer o diagnóstico precoce
Tratamentos como as revolucionárias células car-t (ou car-t cells)
Mitos e verdades: por exemplo, se a anemia pode se tornar leucemia
Fazer o diagnóstico precoce de um câncer hematológico é fundamental para o sucesso do tratamento
Leucemia, linfoma e mieloma são tumores hematológicos que merecem total atenção.
Sim, a pandemia de Covid-19 permanece em curso, mas o câncer não espera. Por isso, o A.C.Camargo Cancer Center conta com um Atendimento Oncológico Protegido, para que seus pacientes possam vir à Instituição para fazer consultas, exames e outros procedimentos com total segurança.
Algo muito importante. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa é que 5.920 homens tenham sido diagnosticados com leucemia em 2020. Ao considerarmos as mulheres, o câncer hematológico mais recorrente foi o linfoma não Hodgkin, com 5.450 novos casos.
Para isso, veja a seguir os sinais e sintomas dos tumores hematológicos e aprenda a detectar os indícios.
Leucemia
• Febre inexplicável
• Sensação de fraqueza e fadiga persistente
• Perda de apetite
• Perda de peso inexplicável
• Sangramentos e hematomas que aparecem com facilidade e sangramentos nasais
• Dificuldade para respirar
• Petéquias, pequenos pontos vermelhos que aparecem na pele por causa de sangramentos
• Anemia
• Suores noturnos
• Inchaço dos gânglios linfáticos
• Dor nos ossos ou nas juntas
• Infecções recorrentes
• No caso da Leucemia Linfocítica Aguda (LLA), os sintomas podem incluir o aparecimento de nódulos indolores sob a pele na virilha, nas axilas ou no pescoço e/ou dor na região abaixo das costelas
Linfomas
Linfoma Hodgkin
• Dor nos gânglios inflamados
• Suores noturnos intensos, com ou sem febre
• Febre ou calafrios à noite ou mesmo durante o dia
• Perda de apetite
• Perda de peso inexplicável
• Fadiga ou perda de energia
• Pele seca e com coceira
• Erupção cutânea avermelhada, disseminada pelo corpo
• Tosse e dificuldade para respirar ou desconforto no peito, causados por um gânglio linfático grandemente aumentado nessa região
• Aumento do fígado ou do baço
Linfoma não Hodgkin
Os sintomas dos linfomas não Hodgkin variam de pessoa para pessoa, mas costumam apresentar:
• Inchaço indolor dos gânglios linfáticos da virilha, axilas e pescoço
• Suores noturnos intensos, com ou sem febre
• Febre
• Erupção cutânea avermelhada, disseminada pelo corpo
• Náusea, vômitos ou dor abdominal
• Perda de peso inexplicável
• Cansaço
• Coceira
• Tosse ou dificuldade para respirar
• Dor de cabeça e dificuldade de concentração
As formas mais agressivas dos linfomas não Hodgkin podem ter estes e outros sintomas, que incluem:
• Dor no pescoço, nos braços ou no abdome
• Dificuldade para respirar
• Fraqueza nos braços e/ou nas pernas
• Confusão mental
Mieloma múltiplo
O mieloma múltiplo é o câncer de um tipo de células da medula óssea chamadas de plasmócitos, responsáveis pela produção de anticorpos que combatem vírus e bactérias.
No mieloma múltiplo, os plasmócitos são anormais e se multiplicam rapidamente, comprometendo a produção das outras células do sangue.
Por isso, os pacientes podem ter anemia e ficam sujeitos a infecções.
Os plasmócitos cancerosos também produzem uma proteína anormal, chamada de proteína monoclonal, que se acumula no sangue e na urina. As células doentes também podem afetar os ossos, causando dores e fraturas espontâneas.
Assista ao vídeo e conheça mais sobre essa terapia que reprograma as células do paciente
O A.C.Camargo Cancer Center é um dos centros brasileiros autorizados para a realização do tratamento com células CAR-T.
Grande novidade no tratamento de cânceres hematológicos, caso de linfomas e leucemias, as células CAR-T são uma modalidade de terapia celular que utiliza as células do próprio paciente.
Trata-se de células de defesa do organismo, que são extraídas do paciente e moldadas em laboratório para combater o tumor.
Depois, são infundidas de volta no paciente. Ou seja, elas atuam reprogramando as próprias células do paciente contra a doença.
Veja:
O A.C.Camargo conta com uma equipe multidisciplinar altamente especializada para acompanhar esse tipo de tratamento, incluindo médicos onco-hematologistas, hemoterapeutas, infectologistas, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos.
Outro diferencial é a estrutura física com ambulatório de quimioterapia, enfermaria dedicada a pacientes onco-hematológicos, pronto socorro oncológico e UTI. Se for necessário, é possível realizar exames complementares.
Atualmente, o tratamento com células CAR-T está disponível para:
- Pacientes pediátricos e adultos jovens de até 25 anos de idade com leucemia linfoblástica aguda (LLA) de células B que é refratária, em recidiva pós-transplante, ou em uma segunda ou posterior recidiva;
- Pacientes adultos com linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) recidivado ou refratário, após duas ou mais linhas de terapia sistêmica.
Assista e conheça as diferenças entre os tipos linfoide e mieloide, seus sinais, sintomas, formas de diagnóstico e tratamento
Leucemia é o câncer que tem origem na medula óssea, onde são produzidas as células do sangue.
Muita gente diz que a leucemia é o câncer dos glóbulos brancos, que são as células de defesa do organismo, mas a doença pode atingir outros tipos de célula também.
Da medula, essas células alcançam o sangue e, a partir dele, podem atingir os gânglios linfáticos, o baço, o fígado, o sistema nervoso central (cérebro e coluna vertebral), os testículos e outros órgãos.
Para entender o que acontece de errado no sangue quando a pessoa tem leucemia, é importante entender o que faz sangue e medula serem normais.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa para 2022 é de 10.810 novos casos, sendo 5.920 homens e 4.890 mulheres.
A doença também é conhecida por acometer crianças com frequência.
Assim, entenda a diferença entre os tipos linfoide e mieloide neste vídeo a seguir: com a palavra, a Dra. Marina de Mattos Nascimento, médica titular do Centro de Referência em Tumores Hematológicos do A.C.Camargo Cancer Center.
Entenda mais sobre este tipo de tratamento e sobre as CAR-T Cells com o Doutor David Maloney, norte-americano da Universidade de Washington e do Fred Hutchinson Cancer Research Center
As CAR-T Cells – em português, células CAR-T – são uma modalidade de imunoterapia que promete revolucionar o tratamento do câncer, sobretudo tumores hematológicos.
Trata-se de terapias personalizadas que agem em alvos específicos, usando células do paciente e não medicamentos sintéticos.
Nela, as células de defesa do organismo são extraídas do paciente e moldadas em laboratório para combaterem seu próprio tumor. Depois, são infundidas de volta no paciente. Ou seja, elas atuam reprogramando as próprias células do paciente contra a doença.
Essa modalidade de tratamento imunoterápico foi discutida não apenas em painéis do Next Frontiers to Cure Cancer, congresso internacional organizado pelo A.C.Camargo: foi o assunto da aula magna Terapias com células CAR-T na prática clínica, dada pelo Doutor David Maloney, norte-americano da Universidade de Washington e do Fred Hutchinson Cancer Research Center.
CAR-T Cells e imunoterapia: futuro promissor
“A imunoterapia está mudando o tratamento do câncer e o futuro parece bem iluminado”, comemora o Doutor David Maloney, sem se esquecer que ainda há desafios importantes, principalmente em relação às CAR-T Cells.
“Há vários estudos em andamento nos quais estamos discutindo o poder das CAR-T Cells para acabar com as células cancerígenas, mas é difícil, precisamos compreender melhor como os receptores funcionam e cuidar da questão da toxicidade”, acrescenta o médico.
O Doutor David Maloney explicou que os estudos demonstram que há melhores respostas em leucemias, linfomas e mieloma múltiplo, mas ainda é preciso avançar, por exemplo, em compreensão para tumores sólidos e de pulmão.
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Para avançarmos para este futuro iluminado, há estudos em andamento que discutem o poder das CAR-T Cells para acabar com as células cancerígenas, mas precisamos compreender melhor como os receptores funcionam e cuidar da questão da toxicidade.
Doutor David Maloney, da Universidade de Washington e do Fred Hutchinson Cancer Research Center
Confira o que acha o Doutor Ryan Cassaday, norte-americano que deu uma aula no Next Frontiers to Cure Cancer, congresso internacional organizado pelo A.C.Camargo
As CAR-T Cells, também conhecidas como células CAR-T, são uma grande novidade no tratamento de tumores hematológicos, embora seja um tratamento que não esteja disponível para o grande público.
No painel Neoplasias Hematológicas - Leucemia Linfoide Aguda - O futuro da terapia com células CAR-T: será o fim do transplante alogênico?, o Doutor Ryan Cassaday, norte-americano que é professor na Universidade de Washington e no Fred Hutchinson Cancer Research Center, diz que ainda são necessários alguns avanços.
CAR-T Cells: o que são
As CAR-T Cells são terapias personalizadas e agem em alvos específicos, usando células do paciente e não medicamentos sintéticos.
Trata-se de células de defesa do organismo, que são extraídas do paciente e moldadas em laboratório para combaterem seu próprio tumor.
Depois, são infundidas de volta no paciente. Ou seja, elas atuam reprogramando as próprias células do paciente contra a doença.
Segundo o Doutor Ryan Cassaday, precisamos responder a perguntas para as quais ainda não temos respostas.
"Precisamos conseguir respostas mais rápidas, eficazes e seguras. Temos diferentes prognósticos, como fatores de pré-tratamento, o peso das doenças e terapias anteriores. Também precisamos de mais centros realizando as terapias com CAR-T Cells no mundo para entender mais sobre quais pacientes respondem melhor às CAR-T Cells. Enquanto não tivermos isso, o transplante pode seguir como uma opção interessante”, analisa o médico.
Quais tipos de tumores exigem mais cuidados? Como evitar a contaminação? Quem pode tomar a vacina? Regras para utilizar o repelente? Como saber se tenho dengue? Descubra tudo a seguir
A dengue em pacientes com câncer é uma questão que pede a atenção de todos, ainda mais para tumores hematológicos (leucemias, linfomas e mieloma múltiplo) e no fígado.
Há um perigo sobretudo se a dengue atingir sua forma mais grave, a hemorrágica.
É que a dengue hemorrágica diminui as plaquetas de forma que o sangue passa a ter dificuldade de coagulação, então a doença causa muitos sangramentos – e risco de vida.
Perigo para tumores hematológicos e no fígado
No caso dos pacientes com um câncer hematológico ou hepático com alteração de função no fígado, já existe algum tipo de distúrbio de baixa de plaquetas ou anemia, por causa da doença crônica.
E a dengue pode agravar tudo isso, além de causar eventos hemorrágicos graves.
A dengue também pode acometer as células do fígado e provocar lesões hepáticas, algo mais perigoso para quem tem um câncer de fígado e uma disfunção do órgão do que para a população comum.
Dengue em pacientes com câncer: como prevenir
Primeiramente, sabendo que você vive em uma área endêmica, que abriga o Aedes aegypit, mosquito que espalha a dengue pela picada e que já se disseminou pelas regiões urbanas, redobre os cuidados para não favorecer sua multiplicação.
Como se defender:
Não permitia água parada nos vasos de planta, pneus, no quintal e na piscina, por exemplo;
Use repelente: existem alguns comprovadamente eficazes contra o mosquito, compostos por ao menos 20% de icaridina;
O Aedes aegypit costuma circular mais durante o final da tarde, período do dia em que o paciente oncológico não pode se esquecer de repassar o repelente.
Como utilizar o repelente
Os repelentes com icaridina são recomendados por comprovação de eficácia e proteção, porém, se o produto não for tolerado, também podem ser aplicados na pele aqueles à base de DEET, IR3535 e óleo de citronela.
Já os repelentes com vitamina B e óleo de alho não se mostraram eficazes para insetos e devem ser evitados.
Regras para a aplicação do repelente:
Durante o tratamento oncológico, a pele tende a ficar mais ressecada e o uso diário de hidratante é muito importante, pois ajuda no restauro da pele, evita pequenas fissuras e mantém o manto lipídico, evitando que o repelente cause irritações;
Cuidado para não passar o repelente na região dos olhos, mucosas e áreas com feridas;
O repelente deve ser aplicado sobre a roupa e não na pele que será coberta. Exemplo: se for colocar uma calça, vista essa peça de roupa e somente depois aplique o repelente sobre a calça. Nas áreas que não serão cobertas pelas roupas, basta aplicar o repelente sobre a pele descoberta;
O aparecimento de uma alergia causada pelo uso de repelente é raro, mas pode acontecer. Ao sinal de prurido (coceira) e urticária (placas vermelhas pelo corpo), suspenda o uso do repelente e fale com o seu médico.
Vacina para a dengue? Quem pode tomar?
Para começar, saiba que só uma pessoa que já teve dengue pode tomar a vacina contra a dengue, seja ela paciente oncológico ou não.
A vacina da dengue contém o vírus vivo atenuado, então ela é contraindicada para pessoas com qualquer tipo de imunossupressão, caso dos pacientes oncológicos com doença ativa – por exemplo, em tratamento de quimioterapia ou radioterapia.
Essas pessoas só podem tomar a vacina contra a dengue em pelo menos seis meses após o tratamento de controle do câncer.
Se esse é o seu caso, ainda assim, não deixe de consultar seu médico antes de tomar a vacina.
Como saber se tenho dengue?
Um dos sinais mais comuns é a febre, acompanhada de dores de cabeça, no corpo e nas articulações.
A dor de cabeça costuma aparecer na região atrás dos olhos, mas pode ocorrer de outras maneiras, a depender do paciente. O surgimento de lesões avermelhadas na pele com descamação residual pode acontecer em alguns casos.
Não há como prevenir ou tratar as manifestações cutâneas, que tendem a regredir com a resolução da doença.
Também podem haver manifestações hemorrágicas discretas como pontos avermelhados, sangramento nasal e gengival. Se isso acontecer, vá ao serviço médico para uma reavaliação.
Fontes: Doutora Anna Claudia Turdo, infectologista do A.C.Camargo + Doutor Marco Antonio de Oliveira, dermatologista do A.C.Camargo
Nova modalidade de imunoterapia, que modifica geneticamente os linfócitos contra o tumor, será utilizada no A.C.Camargo Cancer Center
O A.C.Camargo Cancer Center foi um dos centros mundiais especializados no tratamento do câncer escolhidos para a utilização da nova imunoterapia com células CAR-T no Brasil.
Trata-se de modalidade da imunoterapia que lança mão de células geneticamente modificadas e reprogramadas em laboratório para destruir os tumores.
Os cientistas a estão chamando de droga viva, e ela trata, por enquanto, linfoma difuso de grandes células, leucemia linfoide aguda e mieloma múltiplo.
“Mas há a expectativa de que logo sejam identificados alvos de outras doenças oncológicas para ampliar as indicações”, afirmou o Dr. Jayr Schmidt, responsável pela imunoterapia na Instituição.
Células CAR-T, um avanço grandioso
A imunoterapia por células CAR-T representa avanço tamanho para o tratamento do câncer, que pode render um novo Nobel de Medicina à área, na opinião de Dr. Martín Bonamino, pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e da Fiocruz.
O último Nobel à área veio em 2018, para o americano James P. Allison, do MD Anderson Cancer, uma das instituições parceiras do A.C.Camargo Cancer Center, e para o japonês Tasuku Honjo, da Universidade de Kyoto.
Numa outra modalidade de imunoterapia, chamada de bloqueio de checkpoints imunológicos, os premiados desenvolveram pesquisas sobre duas proteínas produzidas por tumores – a CTLA-4 e a PD-1 – que paralisavam o sistema imune do paciente durante o desenvolvimento do câncer. Eram as proteínas chamadas de checkpoints, que bloqueavam o sistema imune, para que não atacasse o tumor.
As drogas pesquisadas por Allison e Tasuku retiram esse bloqueio e recuperam o poder de ataque do sistema imunológico.
A história da imunoterapia tem mais de um século. De acordo com Dr. Martín Bonamino, ela tem início no fim do século XIX, com o cirurgião William B. Coley, em Nova York.
Na época, sem quimioterapia ou radioterapia, o tratamento para o câncer era basicamente cirúrgico. Foi operando tumores que Dr. Coley notou que alguns deles regrediam se infeccionassem depois da cirurgia, também não existia ainda o antibiótico. Por associação, ele começou a tratar os pacientes com extratos de micro-organismos, bactérias, e alguns tumores começaram a ter regressão.
“Essa é a primeira imunoterapia que a gente conhece bem documentada e com taxas de sucesso bem interessantes”, contou Bonamino.
Depois disso, a imunoterapia ficou um longo tempo em segundo plano. Vieram a radioterapia, depois as quimioterapias e, somente na década de 1980, ela renasceu, quando um grupo de pesquisadores estadunidenses passou a tirar células de defesa dos próprios tumores, expandi-las em laboratório e infundi-las no paciente. “É o que chamamos de TIL (sigla do inglês para linfócitos infiltrantes de tumor)”, explicou Bonamino.
No paralelo iniciaram-se os transplantes de medula. Na década de 1990, passada a fase inicial em que se pensava ter de matar até a última célula de leucemia, descobriu-se que parte do sucesso tinha a ver com os linfócitos do doador, que eram transplantados juntos com a medula.
Os estudiosos se deram conta de que tais linfócitos, especialmente os linfócitos T, são capazes de destruir as últimas células de leucemia.
Segundo Bonamino, o estudo veio reforçar que os linfócitos, quando reconhecem o tumor, são capazes de destruir suas células. No entanto, boa parte dos tumores não tem muitos antígenos que possam ser reconhecidos pelo sistema imune, seja porque tem poucas mutações, seja por não ter mutações imunogênicas.
“É exatamente aqui que entra o conceito de CAR-T. Reparem que tanto os linfócitos infundidos com o transplante quanto os infiltrados no tumor contam com uma resposta imune natural. Tumores pobres em mutações podem ser manipulados geneticamente com um gene artificial, o CAR, para fazer o linfócito reconhecer o tumor”, resumiu Bonamino.
Como é feita a terapia
A terapia por células CAR-T é feita a partir da coleta de células T do sistema imunológico, os linfócitos, que são modificadas geneticamente e programadas para reconhecer e combater o tumor.
Há muita ciência por trás do desenho da molécula CAR. “Podemos dizer que as células CAR-T são um grande feito da biotecnologia aplicada ao tratamento do câncer”, completou.
Para o Dr. Jayr Schmidt, do A.C.Camargo Cancer Center, é o maior avanço no tratamento do câncer dos últimos anos e pode se estabelecer como um dos pilares do combate à doença ao lado de quimioterapia, cirurgia e radioterapia.
A terapia por células CAR-T, até o momento capaz de reconhecer e atacar as proteínas CD-19 e BCMA, foi desenvolvida nos Estados Unidos, onde já é oferecida por dois laboratórios farmacêuticos, desde 2017, a um preço próximo de 400 mil dólares.
“No Brasil, ela começa a aparecer somente agora, com quase quatro anos de atraso. Isso porque é um tratamento trabalhoso e de alto custo”, comentou Dr. Schmidt.
Aqui, o processo inclui levar o material a uma central especializada – todas até o momento são fora do país –, fazer ali a modificação genética e trazer de volta, para então infundir no paciente, ou seja, um tratamento de difícil logística e alto custo.
“Assim, para fazer o tratamento no Brasil hoje, estimo que seja preciso investir entorno de 350 a 400 mil dólares”, lamenta o especialista.
Como atuam as células Car-T
A primeira etapa é colher células do sistema imunológico a partir da centrifugação do sangue dos pacientes a serem tratados, procedimento conhecido como leucaférese, parecido com uma hemodiálise.
Em seguida, o especialista isola um tipo de leucócito (célula de defesa) conhecido como linfócito T, um dos principais responsáveis pela defesa do organismo. Esse linfócito consegue reconhecer antígenos existentes na superfície celular de agentes externos ou internos infecciosos e de tumores para combater tais invasores.
O próximo passo é enviar o material coletado a um laboratório que fará a manufatura dessas células, que consiste na modificação genética delas para programar os linfócitos para destruir o tumor.
Isso é feito com auxílio de um vetor viral, um vírus que tem o material genético alterado em laboratório para reconhecer e combater o tumor. Esse vetor entra no linfócito T, modifica o DNA dele e faz com que aquela célula expresse um receptor que reconheça o antígeno da doença e a ataque.
“A modificação faz os linfócitos T atacarem as células tumorais. Antes de introduzir a célula, é feita uma quimioterapia no paciente a fim de imunossuprimi-lo para que o sistema imune não combata as células”, explicou o Dr. Jayr Schmidt.
Dentro de sete dias após a infusão das células CAR-T, pode haver uma reação inflamatória, sinal de que os linfócitos modificados estão se reproduzindo dentro do organismo e induzindo a liberação de substâncias para eliminar o tumor. Nesse momento, além de febre, pode haver queda importante da pressão arterial e eventual necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Estudos brasileiros podem reduzir gargalos e preços da Car-T
A equipe do cientista Martín Bonamino no Instituto Nacional do Câncer (INCA) publicou ano passado dois artigos que apresentam eventuais saídas para uma aplicação mais ampla da terapia com células CAR-T, a fim de expandir a imunoterapia com CAR para um número maior de pacientes, ganhando escala e reduzindo custos, o que tem potencial para favorecer especialmente países de baixa renda.
O estudo Development of CAR-T cell therapy for B-ALL using a point-of-care approach foi publicado no periódico Oncoimmunology. O outro artigo, publicado na revista Gene Therapy, tem com o título Transposon-mediated generation of CAR-T cells shows efficient anti B-cell leukemia response after ex vivo expansion.
Linha Aspas Simples
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A imunoterapia por células CAR-T é o maior avanço no tratamento do câncer dos últimos anos e pode se estabelecer como um dos pilares do combate à doença ao lado de quimioterapia, cirurgia e radioterapia.
Dr. Jayr Schmidt, líder do Centro de Referência em Neoplasias Hematológicas do A.C.Camargo
A leucemia, ainda que bastante conhecida pela população, é cercada de mitos relacionados aos seus fatores de risco.
Veja a seguir os mais frequentes:
A anemia pode se transformar em leucemia?
Mito. A anemia pode ser um sintoma, mas não um fator de risco para o desenvolvimento da leucemia.
As causas mais comuns de anemia na população são relacionadas à ausência de algum elemento no organismo. A mais comum é por deficiência de ferro, que pode estar relacionada à dieta ou por perda crônica de sangue. A anemia hemolítica (doença autoimune onde os anticorpos atacam os glóbulos vermelhos do próprio organismo) também não predispõe à leucemia.
No entanto, a exceção à regra ocorre somente se o paciente tiver uma síndrome mielodisplásica, doença da medula óssea que se inicia como anemia e posteriormente pode se desenvolver em uma leucemia. O ideal é sempre manter seus exames em dia e seguir as recomendações médicas.
O tabagismo aumenta a predisposição para leucemia?
Verdade. Entre as diversas substâncias tóxicas encontradas no cigarro, algumas podem aumentar a incidência de cânceres hematológicos, como a leucemia. Elementos como metais pesados e o benzeno são os principais influenciadores. O tabagismo durante a gravidez pode influenciar no desenvolvimento dessas doenças para os filhos.
A alimentação não interfere no risco de leucemia?
Verdade. Apesar de os hábitos alimentares saudáveis serem importantes para a prevenção de tumores sólidos, como no intestino, na mama e no abdômen, não há estudos que apresentam a ligação da dieta com o risco de desenvolver leucemia. De qualquer modo, a alimentação balanceada colabora para a saúde como um todo e permanece como questão importante no cotidiano.
Medula espinhal e medula óssea é a mesma estrutura?
Mito. Quando se ouve a expressão "doação da medula óssea", costuma-se associar à estrutura localizada na região das costas, por dentro das vértebras. No entanto, essa é a medula espinhal - uma continuação do Sistema Nervoso Central.
A medula óssea está na parte de dentro de todos os ossos, em uma região conhecida como tutano. Atua na fabricação de todos os componentes celulares do sangue e, caso sua produção seja danificada, pode desencadear em doenças como a leucemia. A doação de medula óssea também pode ser importante para o tratamento desse câncer.
Somente quem tem contato com produtos químicos desenvolve leucemia?
Mito. A exposição a produtos químicos, como agrotóxicos, pesticidas e herbicidas, pode ser um fator de risco para o desenvolvimento da leucemia. Outras causas, como síndromes hereditárias e o tabagismo, também podem predispor a esse câncer hematológico, que ainda apresenta muitos casos de origem desconhecida. Mantenha seus exames em dia e siga sempre as orientações médicas.
Leucemia tem cura?
Verdade. Receber o diagnóstico de um câncer nunca é um momento fácil, mas é preciso lembrar que a leucemia tem cura. Atualmente, todos os tipos dessa doença são tratáveis e, em grande parte das vezes, podem ser curados. Porém, para que isso aconteça, é preciso identificar o câncer precocemente e determinar, por meio de exames, qual o tratamento mais adequado.
Crianças são muito suscetíveis à leucemia?
Mito. O câncer em crianças e adolescentes (de 0 a 19 anos) é considerado raro quando comparado com o câncer em adultos, correspondendo entre 2% e 3% de todos os tumores malignos registrados no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Os tipos de câncer que aparecem em crianças e adolescentes são diferentes dos que ocorrem em adultos e costumam responder bem à quimioterapia. Como a quimioterapia, porém, tem efeitos de longo prazo, crianças que passam pelo tratamento precisam ter acompanhamento pelo resto da vida.
Leucemia é o câncer que tem origem na medula óssea, onde são produzidas as células do sangue. Da medula, células leucêmicas atingem o sangue e, a partir dele, podem infiltrar os gânglios linfáticos, o baço, o fígado, o sistema nervoso central, os testículos e outros órgãos. Outras neoplasias malignas da infância, como neuroblastomas, linfomas e sarcomas, têm origem em outros órgãos e podem ter metástases para a medula, mas não são leucemias.
A medula óssea é o tecido que fica no interior dos ossos (o tutano) e onde todas as células do sangue (glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas) são produzidas.
Nas crianças, a medula ativa é encontrada em praticamente todos os ossos, enquanto nos adolescentes ela é encontrada principalmente nos ossos planos ou chatos (crânio, omoplatas, costelas, esterno e pelve) e nas vértebras.
A medula é composta de células-tronco do sangue, também chamadas de células hematopoiéticas, células gordurosas e tecidos que ajudam no crescimento e amadurecimento das células sanguíneas.
Quando as células-tronco do sangue se dividem, elas dão origem a uma nova célula-tronco e a uma célula primitiva que vai dar origem a células maduras como os glóbulos brancos, os glóbulos vermelhos e as plaquetas, que atuam na coagulação do sangue.
Quando uma criança desenvolve leucemia, essas células se tornam anormais, não realizam suas funções e se multiplicam rapidamente, tomando o lugar das células saudáveis na medula e no sangue.
Há dois tipos principais de leucemias, dependendo do tipo de célula-tronco em que têm origem.
As células-tronco linfoides normais produzem diferentes tipos de glóbulos brancos para combater infecções. Na leucemia linfocítica (ou linfoide), elas não apenas proliferam demais, como também não conseguem lutar contra infecções. Já as células-tronco mieloides produzem diferentes células do sangue, tanto glóbulos vermelhos como brancos e plaquetas.
Na leucemia mieloide, um glóbulo branco imaturo, chamado mieloblasto, torna-se canceroso e passa a se multiplicar rapidamente, tomando o lugar das células saudáveis. As formas agudas representam praticamente 95% de todos os tipos de leucemia na infância (aproximadamente 75% são leucemia linfoide aguda e 20% leucemia mieloide aguda).
As formas crônicas representam menos de 5% de todos os casos de leucemia na infância, na maioria, do tipo leucemia mieloide crônica.
É possível retomar as rotinas cotidianas após o tratamento de leucemia?
Verdade. O tratamento para a leucemia mieloide aguda pode durar meses ou anos. Quando o tratamento termina, os médicos irão acompanhar o caso de perto por alguns anos. Por isso é muito importante comparecer a todas as consultas de acompanhamento. Nestas consultas o médico sempre o examinará, conversará com você sobre qualquer sintoma que tenha apresentado, poderá pedir alguns exames de laboratório ou de imagens para acompanhamento, reestadiamento da doença e avaliação dos efeitos colaterais.
Assista ao vídeo com a participação na BandNews TV da Dra. Marta Lemos, hematologista do A.C.Camargo Cancer Center
O Dia Mundial do Doador de Medula Óssea é celebrado, mundialmente, no terceiro sábado de setembro – neste 2021, cai no dia 18.
É uma forma de reafirmar a importância da doação de medula óssea, sobretudo para pacientes com leucemia, que
é o décimo tipo de câncer mais comum entre os homens, com 5.920 novos casos por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Ajuda, ainda, quem foi diagnosticado com linfomas (linfoma de Hodgkin ou linfoma não Hodgkin), mieloma múltiplo, aplasia de medula e imunodeficiências.
Para saber mais sobre o tema, assista ao vídeo com a participação na BandNews TV da Dra. Marta Lemos, hematologista do A.C.Camargo Cancer Center: