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A terapia da calma

 
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A terapia da calma

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Foto do Gabriel Priolli, colunista da Voz do Paciente

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Se você está chegando agora à Oncolândia, esse novo mundo que altera totalmente aquele em que vivíamos antes, vou lhe dar um conselho de veterano, mesmo que você não peça: segure a sua onda. Mantenha a calma, controle a angústia e a ansiedade. Isso será fundamental nos próximos tempos, porque os seus nervos serão testados numa intensidade que você nunca experimentou, nem imaginou que pudesse. Oncoleguinhas rodados como eu certamente concordam com essa avaliação e vão lhe sugerir a mesma coisa, porque todos passamos pela situação e comprovamos. O maior desafio na jornada do paciente talvez seja exatamente esse, o de controlar as expectativas e manter a adrenalina em nível baixo.

Vou citar um exemplo que você conhece bem, porque é recente em sua vida: a biópsia. O médico vê alguma coisa estranha num exame, desconfia e julga que é necessário aprofundar a investigação. Com aquela tranquilidade técnica que precisa ter, ele manda: "Vamos fazer uma biópsia". Quem ainda não conhece o sentido exato da palavra, não se assusta. Mas, para quem já fez esse tipo de exame e ele indicou que o tumor não é benigno, ela nunca mais será neutra, isenta de drama. Não será como "vamos fazer uma tomografia", ou "preciso desses exames de sangue". Biópsia é o par ou ímpar do câncer. Você tem ou não tem, chances iguais de 50%. Quem tem, não quer ter mais, em outras partes do corpo. E quem já se livrou, não quer ter de novo. É assim, então, que o vocábulo, pronunciado por um médico, se transforma em alarme. Tocou, assusta. A angústia se instala imediatamente.

Você vai conviver com ela por, no mínimo, uns quinze dias. Se sair da consulta e correr para agendar a coleta do material, com sorte ela será marcada para semana que vem. O resultado da biópsia sai na outra e aí já se foi a Quinzena de Liquidação — da sua tranquilidade. Se você vacilou e não agendou para retornar junto com o resultado, ponha mais uma semana na conta. Serão 20 dias com a cabeça a mil e o coração apertado, à espera de dirimir a dúvida transcendental: "Estou ou não estou com câncer?". Mas é possível que a biópsia não seja conclusiva, que seja necessário fazer uma análise mais profunda do material. Aí o bolero vai para um mês, ou mais. Ótimo se o resultado for negativo, porque, positivamente, você já se desgastou bastante até esse ponto. Senão, terá ainda mais tensão pela frente, por período indeterminado.

Uma agravante para esse problema da angústia é a perspectiva muito particular da Oncologia, na fase de diagnóstico. Ela inverte a lógica de investigação das doenças que as outras especialidades seguem. Se você nunca teve um câncer, os médicos vão primeiro trabalhar com hipóteses de doenças mais simples para a sua queixa, antes de admitir que pode ser câncer. A menos, é claro, que o tumor apareça de cara num exame. Mas, se você é ou foi oncológico, um espirro que você der, uma dorzinha de que reclame, uma unha encravada já levam o oncologista a suspeitar de expansão do câncer, ou de recidiva. E o que isso significa? Biópsia. Mais biópsia. Primeiro ver se tem o maligno, para depois tratar o benigno.

Já viu, né? Todo o processo de novo. Quinze a trinta dias, para concluir a investigação. Quinze a trinta dias de tensão, para se tranquilizar ou não. Eu passei por nada menos que três biópsias no último ano e, felizmente, todas deram negativo, não havia sinal de malignidade no material examinado. Mas só eu sei o quanto penei de angústia, nas muitas semanas de expectativa do resultado. Quando ele vem e é favorável, não sei o que é maior, se o alívio ou a exaustão.

Biópsia, como eu disse, é só um exemplo. Tem uma infinidade de situações no tratamento do câncer que testam a gente no limite, mesmo com todo apoio que temos do corpo clínico — e ele não é pequeno no A.C.Camargo. A radioterapia e a químioterapia podem deixar o freguês bem agoniado, a depender de como o organismo reaja. Idem a preparação da cirurgia e a recuperação depois dela. Para não falar da batalha com o plano de saúde, para a aprovação dos procedimentos. Haja força para encarar todo o estresse.

Então é isso: muita calma nessa hora e em todas. Faça com que baixe um monge budista em você, fique zen. Respire fundo, desencane, relaxe. Solte a musculatura, deixe os nervos em paz. Eu sei, falar é fácil, nem sempre a gente consegue. Mas deve tentar. A situação do câncer já é difícil em si. No que nos couber, vamos simplificá-la.

Sobre o autor

Gabriel Priolli é jornalista radicado em São Paulo. Trabalhou nos principais veículos de imprensa do país, dirigiu e criou canais de televisão, e foi professor na PUC, FAAP e FIAM. Hoje atua como consultor de comunicação.

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