Tese de doutorado avalia se deixar de comer e beber pode piorar as condições dos pacientes.
Afinal, é mesmo necessário ficar em jejum para exames de tomografia ou ressonância? A Dra. Paula N. V. Pinto Barbosa, da Radiologia, fez a si mesma essa pergunta depois de constatar, pelo senso comum, que pacientes da Emergência faziam os exames antes de uma cirurgia, sem ninguém perguntar se haviam comido ou bebido algo.
"Pensei assim: se operamos pacientes em estado grave, na Emergência, corremos com os exames e não temos tempo de checar se eles comeram ou beberam algo, por que faria diferença o jejum para pacientes mais saudáveis?"
A dúvida virou sua tese de doutorado, o que ela demonstrou na palestra "Jejum em exames de imagem", apresentada no último dia do evento científico Next Frontiers to Cure Cancer.
Primeiro, a Dra. Paula constatou que quase não havia estudos a respeito e que hospitais pelo mundo optavam por condutas diferentes, com jejum ou sem, ou com horários variados de jejum. Também na prática diária, na Radiologia, ela já via como o jejum afetava o humor e a disposição dos pacientes na sala de espera.
"A maior parte das reclamações dos pacientes é por causa do jejum. Eles ficam irritados, cansados, não se sentem bem. Alguns podem ter hipoglicemia, desidratação (que aumenta o risco de prejuízo à função renal) ou tontura, dor de cabeça", diz ela.
Para a equipe de Atendimento, o jejum também pode atrapalhar. "Às vezes, o paciente chegava sem jejum adequado, o exame era postergado até completar o tempo de jejum, causando atrasos desnecessários na assistência dos pacientes. Tivemos casos de pacientes que faziam muitos exames no mesmo dia e ficavam até 20 horas em jejum", diz ela.
Mesmo exames com contraste apresentaram bons resultados nos pacientes sem jejum. "Eles não vomitavam com o contraste, não havia alteração, então melhor fazer sem jejum." Hoje nosso protocolo aboliu o jejum para a maioria dos exames de imagem, com exceção de exames muito específicos de alguns órgãos.
Até para cirurgias o jejum prolongado já foi abolido em muitas instituições. É uma tendência. Na sua pesquisa, a Dra. Paula constatou que ingerir alimentos sólidos até seis horas antes e líquidos até 2 horas antes da anestesia é bom para o paciente, por reduzir o estresse pós-traumático e melhorar a recuperação pós-operatória. É o que diz, por exemplo, o manual da Sociedade Europeia de Anestesiologia.
No estudo, foram avaliados 3.206 pacientes, divididos em dois grupos: um grupo fez TC (tomografia computadorizada) com contraste com jejum e o outro fez o exame sem jejum preparatório. "Nós encontramos maior incidência de reações adversas no grupo que permaneceu em jejum. Destacamos também que, quanto maior o tempo de jejum, maior a frequência desses sintomas", diz ela.