Se nossas células estão em permanente evolução, os tumores também seguem as mesmas regras da seleção natural de Darwin.
Assim como as demais formas de vida, os tumores também seguem os princípios da seleção natural que todos nós aprendemos com Charles Darwin, na escola. Essa foi a abordagem central da palestra "Evolução do câncer como alvo terapêutico", no primeiro dia do Next Frontiers to Cure Cancer, dentro do módulo "Insights in Cancer Research".
Premiado biólogo especializado em câncer, que leciona na Universidade de Turim, o autor da palestra, Dr. Alberto Bardelli, chegou a essa conclusão depois de analisar, por biópsia líquida, o perfil de mutações tumorais avaliado antes e depois do uso de terapias-alvo. O cientista percebeu que as terapias funcionavam, mas depois de certo tempo era como se as células tumorais se adaptassem, ficassem resistentes às medicações. "As primeiras células surgiram há quatro bilhões de anos e têm mudado até hoje. Assim como as bactérias têm se transformado até hoje, ocupando nichos, resistindo aos medicamentos, os tumores também o fazem. Já que cada tumor contêm bilhões de células, essa grande quantidade também contém uma importante diversidade e carrega clones que podem ser resistentes a certas terapias", explicou Dr. Bardelli.
Ou seja: tumores não são estáticos. Eles sofrem mutações pelo mesmo princípio de seleção natural que levou à evolução dos seres vivos. Assim, as células de câncer competem entre si, numa "seleção natural": quando as células sensíveis a uma medicação morrem, outras células tumorais que são resistentes ocupam seu lugar e se multiplicam.
Nesse cenário, a solução estaria em aplicar terapias combinadas, que se adaptassem aos próximos passos do tumor. "Não é possível prever o que vai acontecer com o tumor, mas podemos antecipar alguns movimentos das mutações das células", disse o cientista. Usando bioinformática, que permite comparar dados de tumores clonados de amostras de humanos e de tumores crescidos em modelos animais, é possível chegar mais próximo de acompanhar as mutações. Os modelos matemáticos ajudam a rastrear as lesões nas células tumorais para prevermos as terapias com mais eficácia. E, ao mesmo tempo em que as células do tumor se adaptam para resistir a um tipo de terapia, também ficam mais vulneráveis para outros tipos. A visão evolucionista permite pensar as melhores formas de combinar terapias múltiplas para erradicar as células resistentes.