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O que o paciente com câncer deve saber sobre interações medicamentosas?

 
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O que o paciente com câncer deve saber sobre interações medicamentosas?

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Chás e alguns medicamentos podem interferir na ação dos quimioterápicos 

Por Daniel Garcia, médico oncologista clínico do A.C.Camargo Cancer Center

Pacientes com câncer têm um risco particularmente alto de interações medicamentosas, que, por definição, são um efeito do uso de duas (ou mais) drogas, ou uma interação entre uma droga e alimentos, bebidas ou suplementos, levando a uma mudança na eficácia ou toxicidade de um fármaco. Por geralmente tomarem muitos medicamentos durante o tratamento, incluindo quimioterapia, terapia-alvo, medicamentos de suporte (para náuseas, diarreia, dor, entre outros) e medicamentos para comorbidades (como hipertensão arterial sistêmica, arritmias, epilepsia), os pacientes com câncer acabam expostos a diversos fármacos. Além disso, os pacientes frequentemente apresentam mudanças do ritmo gastrointestinal, mucosites (inflamação das mucosas), alterações hepáticas e renais, mudanças no peso corporal e retenções de líquidos, que acabam por influenciar ainda mais a forma como os medicamentos são absorvidos, metabolizados e distribuídos pelo corpo.

Quase 1/3 dos pacientes com câncer são suscetíveis a interações medicamentosas

De acordo com artigo publicado na revista eCancer Global Foundation pela Dra. Rachel P. Riechelmann, head do departamento de Oncologia Clínica do A.C. Camargo Cancer Center, quase um terço dos pacientes com câncer em tratamento ficam expostos a interações medicamentosas. Fatores de risco para este tipo de ocorrência são idade avançada, uso de múltiplos medicamentos e ter comorbidades. Pacientes que possuem alguns tipos de câncer são mais propensos, como no caso do câncer de cérebro e câncer ginecológico.

As combinações de maior risco de interação envolvem medicamentos não oncológicos, como corticoides, fenitoína e warfarina. Apesar de parecer simples, diagnosticar uma interação medicamentosa é frequentemente um desafio para o médico, que precisa elucidar se aquele efeito é o esperado pelo medicamento, se é causado por interação, se é uma manifestação da doença subjacente ou eventualmente combinações destes eventos.

Algumas interações medicamentosas no tratamento oncológico

Para se ter uma ideia de como as interações são importantes, o medicamento erlotinibe, utilizado para tratamento de câncer de pulmão, depende do pH ácido do estômago para sua absorção. Quando administrado junto com um protetor gástrico, como o omeprazol, o pH do estômago se torna alcalino, o que resulta numa diminuição em torno de 50% da sua absorção. Um estudo holandês testou administrar o erlotinibe e esomeprazol junto com refrigerante a base de Cola, uma bebida sabidamente de pH ácido. O resultado foi um aumento de 39% na absorção do erlotinibe, quando comparado ao uso dos dois medicamentos tomados com água. De maneira semelhante, o quimioterápico capecitabina também depende de um pH ácido para sua absorção. Se tomado junto com protetores gástricos, pode ter sua eficácia reduzida. 

Outro exemplo de interação é com o medicamento tamoxifeno, muito utilizado para o tratamento do câncer de mama. O tamoxifeno é metabolizado pelo fígado em sua substância ativa, o endoxifeno. Quando utilizado junto com alguns anti-depressivos (como fluoxetina, paroxetina, sertralina), esta conversão para endoxifeno é reduzida em cerca de 60%, podendo interferir na eficácia do tratamento. Algumas vezes, a interação medicamentosa pode ser o efeito desejado e destinado a melhorar a eficácia do tratamento, como o efeito da leucovorina, que potencializa o quimioterápico 5-fluorouracil. A leucovorina também interage com o quimioterápico metotrexate, reduzindo seus efeitos colaterais.

Alimentos e medicamentos alternativos também podem interagir

O grapefruit, por exemplo, pode aumentar os níveis sanguíneos da ciclosporina em 38%, tacrolimo em 110% e oxicodona em 67%. A abiraterona, medicamento para tratar o câncer da próstata, se tomado junto com alimentos pode ter sua absorção aumentada em até 17 vezes, devendo ser ingerido de estômago vazio. A erva de são João, medicamento fitoterápico algumas vezes utilizado como calmante e anti-depressivo, pode reduzir os níveis sanguíneos do quimioterápico irinotecano em 40% e aumentar os níveis de ciclosporina e tacrolimo em mais de 50%. Medicamentos oncológicos como imatinibe, osimertinibe e lapatinibe também podem ter suas concentrações sanguíneas reduzidas por influência da erva de são João. 

Na dúvida, procure o seu médico

Portanto, é importante utilizar medicamentos com o aval do médico, principalmente os pacientes em tratamento de câncer. A mesma recomendação serve para o uso de medicamentos e terapias alternativas, que geralmente são menos estudadas e de eficácia questionável e, no entanto, podem interferir de maneira negativa nos tratamentos convencionais e comprovadamente eficazes.
 

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