Tireoide

 

As projeções do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam que em 2020 haverá 13.780 novos casos de câncer de tireoide no Brasil, sendo 1.830 em homens e 11.590 em mulheres. Esses números demonstram com evidência que esse tipo de câncer é muito mais frequente em mulheres do que em homens. 

Nódulos na tireoide são bastante comuns e, por causa de sua localização, os médicos, e muitas vezes os pacientes, conseguem senti-los com uma simples apalpação. Felizmente, entre 90% e 95% desses nódulos são benignos. Além disso, os cânceres de tireoide podem ser detectados precocemente e o sucesso do tratamento pode chegar a 97% dos casos. 

A tireoide é uma glândula que fica na frente do pescoço e tem a forma de uma borboleta, com dois lobos de cada lado da traqueia unidos pelo istmo. Ela produz dois hormônios que contêm iodo, a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3), que controlam a velocidade do metabolismo, influenciam o desenvolvimento do corpo e a atividade do sistema nervoso. Hormônios demais (o hipertireoidismo) tornam a pessoa hiperativa, nervosa, com fome e faz com que perca peso. Hormônio de menos (o hipotireoidismo) faz com que a pessoa fique mais lenta, se sinta cansada e engorde. A produção dos hormônios da tireoide é regulada por outra glândula, a hipófise (ou pituitária), que fica no cérebro e sintetiza o hormônio estimulador da tireoide (TSH). 

A tireoide tem dois tipos principais de células: as dos folículos tireoideanos, que produzem e armazenam hormônios e uma proteína chamada tiroglobulina, e as células C ou parafoliculares tireoideanas, que produzem calcitonina, um dos hormônios que regula o metabolismo de cálcio no organismo. 

Os tipos mais comuns de câncer de tireoide são o carcinoma papilífero e o carcinoma folicular. O carcinoma papilífero representa mais de 80% dos casos, desenvolve-se nas células foliculares e tem crescimento lento. Geralmente atinge um único lobo da tireoide, mas entre 10% e 80% dos casos apresentam múltiplos focos da doença dentro da tireoide. Apesar de se desenvolver lentamente, o carcinoma papilífero pode atingir os gânglios linfáticos do pescoço, mas, ainda assim, o tratamento costuma ser bem-sucedido e esse tipo de câncer raramente é fatal. 

Já o carcinoma folicular é raro no Brasil, porque consumimos sal iodado. É mais comum em países ou regiões em que a população não recebe suprimento de iodo na alimentação. O carcinoma folicular, porém, pode atingir pulmões e ossos.

Várias doenças benignas e outros cânceres de pescoço podem ter os mesmos sintomas que o câncer de tireoide. Por isso, é preciso consultar um médico se você tiver:

  • Nódulo no pescoço, que às vezes cresce muito depressa
  • Dor na parte da frente do pescoço, que pode irradiar para os ouvidos
  • Rouquidão ou mudança no timbre de voz que não passa com o tempo
  • Dificuldade para engolir
  • Dificuldade para respirar, como se você estivesse respirando por um canudinho
  • Tosse que não passa e não é causada por gripe

FATORES DE RISCO

Vale lembrar que fatores de risco aumentam o seu risco de desenvolver câncer de tireoide, mas isso não quer dizer que você vai ter câncer de tireoide.

Idade: pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum na faixa dos 30 aos 50 anos.

Sexo: a incidência em mulheres é três vezes maior que a incidência em homens.

Exposição à radiação: crianças que fizeram tratamento com radiação na região da cabeça e do pescoço ou radioterapia para câncer, como linfoma de Hodgkin, também correm maior risco de ter câncer de tireoide mais tarde. Isso não ocorre com adultos que fazem radioterapia.

Doenças hereditárias: Algumas doenças como síndrome de Gardner e polipose familial aumentam o risco de câncer em vários órgãos, inclusive tireoide. A doença de Cowden, que é rara, também aumenta o risco de câncer de tireoide. Algumas famílias, que representam 5% dos casos, apresentam incidência incomum de carcinoma papilífero.

O câncer de tireoide pode ser diagnosticado antes mesmo de apresentar sintomas, num exame médico de rotina. E, como as mulheres são a maioria dos casos, são os ginecologistas que costumam detectar nódulos suspeitos. O passo seguinte é procurar um especialista em cabeça e pescoço, que vai pedir uma série de exames.

A punção biópsia por aspiração com agulha fina (PAAF) é o método mais simples de diagnóstico e ela geralmente é feita no consultório. Uma agulha fina é introduzida no nódulo três ou quatro vezes para retirar amostras de diferentes áreas, que depois são analisadas pelo patologista. Quando os nódulos são muito pequenos, o exame é guiado por ultrassom. Nos casos em que os resultados não são conclusivos, esse exame é repetido e, se a dúvida persistir, o médico pode optar por uma cirurgia diagnóstica, a remoção de parte ou de toda a glândula e seu posterior exame.

A cintilografia, exame em que uma pequena quantidade de iodo é administrada por via oral ou injetável, é outro exame que pode ser pedido para avaliar o potencial de disseminação do tumor depois de uma cirurgia em que a tireoide tenha sido totalmente removida. Como o iodo se concentra na tireoide, uma câmera especial é usada para registrar onde ele se concentra. O exame é mais preciso se o paciente apresentar altos níveis de hormônio estimulador da tireoide (TSH) e, por isso, atualmente o paciente pode receber este hormônio injetável antes do exame, se necessário.

Tanto a tomografia quanto a ressonância magnética não costumam ser usadas para diagnosticar o câncer de tireoide, mas sim para determinar seu tamanho, se avançou para gânglios linfáticos ou outros órgãos e também para mostrar se há tumores dentro da tireoide. A tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT) é usada nos casos em que o câncer não absorve iodo radiativo e indica se o câncer se espalhou ou não.

Exames de sangue não conseguem detectar câncer, mas os níveis de T4 e de TSH servem para avaliar a atividade da tireoide. Em pessoas que tiveram câncer e removeram a tireoide os níveis de TSH devem ser baixos. Um marcador, a tireoglobulina, deve permanecer em níveis baixos, mas, se estes estiverem altos, pode indicar que o câncer voltou, o que os médicos chamam de recidiva.

ESTADIAMENTO

O estadiamento é uma forma de classificar a extensão do tumor e se, ou quanto, ele afetou os gânglios linfáticos ou outros órgãos. Para isso, é usada uma combinação de letras e números: T de tumor, N de nódulos (ou gânglios linfáticos) e M de metástase, e números que vão de 0 (sem tumor, ou sem gânglios afetados ou sem metástase) a 4, este último indicando maior acometimento.

O tratamento do câncer de tireoide inclui cirurgia, iodoterapia, terapia hormonal, radioterapia e quimioterapia. Geralmente, dois desses métodos são usados.

O tratamento-padrão é a cirurgia, com exceção de uma forma bem rara da doença, o câncer de tireoide anaplástico. Como os carcinomas papilíferos podem aparecer nos dois lobos da glândula e o carcinoma folicular é mais agressivo, a tendência é remover toda a tireoide. Nos casos de carcinomas papilíferos com menos de 1 cm, sem sinais de comprometimento de órgãos próximos, o cirurgião pode retirar apenas o lado comprometido da tireoide, o que os médicos chamam de lobectomia.

Se houver gânglios linfáticos próximos atingidos pela doença, eles também são retirados. Células cancerosas que ainda permaneçam no local são eliminadas posteriormente, com a iodoterapia. Normalmente, o paciente tem alta do hospital em um ou dois dias. Antes da cirurgia, o especialista pode pedir também um exame das cordas vocais, porque, em casos raros, a cirurgia pode causar rouquidão temporária ou permanente. A cirurgia também pode causar dano às paratireoides, glândulas que ficam perto da tireoide e que ajudam a controlar o metabolismo de cálcio. Quando isso acontece, o paciente pode ter queda dos níveis de cálcio no sangue e ter espasmos musculares e sensação de dormência. A melhor maneira de evitar esses riscos é procurar um cirurgião de cabeça e pescoço experiente.

Após a cirurgia, o paciente é tratado com uma pílula de iodo radiativo, que mata células cancerosas que eventualmente não foram removidas na cirurgia ou que já tinham se espalhado para os gânglios linfáticos e outros órgãos. Como a tireoide absorve quase todo o iodo do organismo, esse tratamento não afeta as células saudáveis. Antes da iodoterapia, o paciente pode receber uma injeção de TSH, ou permanecer sem tomar o hormônio T4, situação em que o TSH eleva-se espontaneamente, para estimular o tecido que restou da glândula e as células cancerosas a absorver o iodo radiativo. Depois, o paciente pode ou não ter a necessidade de ser internado para iodoterapia. Nesses casos, ele ingere a cápsula e fica isolado por um ou dois dias por causa da radiatividade. O tratamento pode desregular o ciclo menstrual e as pacientes são aconselhadas a evitar engravidar nos primeiros 6 a 12 meses após o término da terapia.

Sem a tireoide, os pacientes não têm mais como produzir os hormônios dessa glândula e, por causa disso, têm de fazer reposição hormonal pelo resto da vida, com comprimidos. Os hormônios que a tireoide sintetiza inibem a ação do TSH, produzido na pituitária e que estimula o crescimento da tireoide e provavelmente o das células cancerosas também. Por isso, é importante que os níveis de TSH se mantenham baixos, reduzindo o risco da volta do câncer, a recidiva.

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