Estudo analisa papel da quimiorradiação neoadjuvante e de proteínas como a Rab5C em pacientes com câncer retal
Estudo analisa papel da quimiorradiação neoadjuvante e de proteínas como a Rab5C em pacientes com câncer retal
Conduzida por cientistas do A.C.Camargo, pesquisa abre caminho para tratar pacientes com câncer retal de forma mais personalizada
No Brasil, para cada ano do biênio 2018-2019, estimam-se 18.980 novos casos de câncer colorretal em mulheres e outros 17.380 em homens, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). E o câncer retal representa um terço disso.
Um protocolo bem estabelecido para o tratamento, que vem reduzindo o risco de recidiva local, é a quimiorradiação neoadjuvante: combinação de radioterapia com quimioterapia comum – as duas ao mesmo tempo – indicada antes da cirurgia em tumores localmente avançados.
Uma resposta patológica completa, no entanto, somente é alcançada em cerca de 20% dos casos, e os mecanismos associados à resistência ainda são pouco compreendidos. Daí surgiu um estudo para identificar potenciais alvos e prevenir a intolerância à quimiorradiação neoadjuvante, um trabalho intitulado Rab5C Enhances Resistance to Ionizing Radiation in Rectal Cancer (Rab5C Melhora Resistência à Radiação Ionizante no Câncer Retal).
Intuitos
Publicado no Journal of Molecular Medicine, o estudo consistiu em analisar amostras de biópsia coletadas de pacientes com adenocarcinoma retal de estágios II e III antes do tratamento neoadjuvante. Esses dados foram comparados com tecidos tumorais residuais removidos por cirurgia após a terapia neoadjuvante. Três proteínas, Ku70, Ku80 e Rab5C, exibiram um aumento significativo na expressão após a quimiorradiação.
“O objetivo do trabalho foi identificar ferramentas moleculares para predição de resposta ao tratamento pré-operatório em câncer de reto”, conta um dos autores, Samuel Aguiar Junior, head do Núcleo de Tumores Colorretais do A.C.Camargo.
“O tratamento pré-operatório, que é a quimiorradioterapia neoadjuvante, pode resultar em destruição completa do tumor, o que chamamos de resposta completa, e acontece em cerca de 20 % dos pacientes. Em casos muito selecionados, poderíamos até evitar a cirurgia. Mas, até o momento, não temos ferramentas com acurácia confiável e segura para determinar a resposta completa sem a cirurgia”, explica o médico, que ressalta que vários centros de referência no mundo tentam identificar essas ferramentas.
Terapia personalizada
Para entender melhor o papel das proteínas Ku70, Ku80 e Rab5C na resistência à terapia, uma linhagem de adenocarcinoma retal foi irradiada para gerar uma linhagem resistente à radioterapia. Essas células superexpressam as mesmas três proteínas identificadas nas amostras de tecido.
Verificou-se, também, que a resistência à radioterapia nesse modelo in vitro envolve a modulação da internalização do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) por Rab5C, em resposta à irradiação. Isso afetou a expressão das proteínas de reparo do DNA, Ku70 e Ku80.
Em conjunto, esses achados indicam que o EGFR e o Rab5C são alvos potenciais para a sensibilização de células de câncer retal e devem ser mais investigados.
De acordo com o doutor Samuel Aguiar, o estudo abre uma nova linha de investigação no tratamento do câncer do reto. “Se conseguirmos validar o resultado em um ensaio clínico, podemos tratar pacientes com essa doença de forma mais personalizada”, analisa o especialista.
Prevenção
A melhor forma de tentar se precaver ante o câncer retal é a colonoscopia. “Para o público geral, é recomendada a partir dos 45 anos”, avisa o doutor Samuel.
Para conferir o estudo (em inglês), clique aqui.
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