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Chegar chegando

 
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A voz do paciente

A voz do paciente

Olá! Estou chegando para conversar um pouco, todas as semanas, sobre as questões do paciente neste vasto mundo do A.C.Camargo. Mereci o convite para assumir esta coluna talvez porque eu sou um tipo muito falante e por demais perguntante, que já deu tantos palpites para a melhoria do nosso hospital que foi parar no Conselho Consultivo de Pacientes. Talvez também porque sou um compulsivo escrevente, com mais de 50 anos no jornalismo e na comunicação, e os meus palpites fiquem melhor por escrito. Seja como for, esta é uma estreia e, assim sendo, vou começar pelo começo, contando um pouco de como foi a minha entrada na atmosfera do hospital e como percebi logo de cara que ele é isso mesmo que eu disse já na primeira frase: um vasto mundo - de ciência médica, de vivências, de aprendizado e de autoconhecimento. 

Se há algo que o câncer faz por você, para o mal mas também para o bem, é mudar a sua vida. Virar tudo de ponta-cabeça, de dentro para fora, virar do avesso. Ele traz os médicos para estudar o seu corpo, tirar o invasor que se alojou nele e ensinar o que fazer para evitar que ele volte. Mas também cria a oportunidade de você repensar como funciona a alma desse corpo, o tipo de vida que você leva, o que está fazendo dela. Comigo foi assim e também é com todo mundo, de algum jeito. E tudo começa naquele momento fatídico, em que a gente nota que algo na carcaça está errado e não é de um jeito comum.

No meu caso, foram os dentes. De repente, do nada, eles ficaram amortecidos. Todo o lado direito da arcada superior anestesiou-se sozinho. Estranhíssimo. Meu dentista radiografou, examinou e não viu nada de dentário na minha queixa. Tudo parecia normal. Como padeço de uma sinusite crônica desde a adolescência, ele mandou que eu procurasse um otorrino e… Bem, para não me estender: passei por três médicos e quatro dentistas em um ano, fiz três cirurgias no nariz e na arcada dentária, e os dentes seguiram anestesiados. Até que finalmente meu rosto começou a inchar e localizou-se um carcinoma espinocelular grau 2 histológico sob a maxila, acima dos dentes. 

"Agende uma consulta no A.C.Camargo", recomendou o otorrino. "Eles vão resolver isso". Assim fiz. E assim, de fato, eles fizeram.

Numa tarde de maio de 2019, entrei no prédio da Antônio Prudente e me encaminharam para o setor de Cabeça e Pescoço. Tomei um susto. O primeiro do dia. A sala de recepção do Ambulatório Jorge Fairbanks parecia a Rodoviária do Tietê às vésperas do Natal. Não cabia mais nenhuma célula aí, sadia que fosse. Ao primeiro olhar, entendi que a consulta ia atrasar e não deu outra. Mas, antes de mofar naquele salão de espera, matutando sobre as horas que ele me tomaria no futuro, veio o segundo susto. Foi quando eu fiz a minha identificação e ganhei o RGH, o registro no hospital. 

"Seu número é 15984510", disse a mocinha, com um lindo sorriso. "Ele vai identificá-lo em tudo que fizer aqui dentro". A despeito daquela simpatia reluzente, eu logo pensei: um número? Já não bastam CPF e RG? Virei apenas mais um número aqui, no meio de tanta gente? Adeus a um atendimento mais personalizado, acolhedor… Deixei de ser eu. Esse é número do meu tumor. 

Pois é, eu não tive como evitar esse pensamento ruim. O astral baixou mesmo e ele já não andava nas alturas. Mas era tolice minha. O RGH identifica cada um, o que facilita a organização do hospital e a vida do paciente. E garanto: a gente não é tratado como um número qualquer. Muito longe disso. Nem as salas de espera são mais a antessala do inferno. Ainda lotam, eventualmente, e a consulta pode atrasar, mas as rotinas do hospital melhoraram muito nos últimos anos. O meu RGH hoje é um número afetivo, que guardo na cabeça e uso para fazer combinações na Mega Sena. Uma hora dessas, a sorte vai me sorrir com aqueles algarismos.

Então, devidamente numerado, aconteceu a consulta. Ou melhor: as consultas. Porque a gente descobre que, no atendimento do A.C.Camargo, sempre tem um médico antes do médico, quando não mais. Médicos ou médicas, claro. De São Paulo e de todas as partes do Brasil, da América Latina, da África. Uma diversidade maravilhosa de faces, de peles, de vozes, de jeitos, unificada pelo avental branco e o propósito de curar o câncer alheio, aliás "lesão", como eles dizem. Cancer Center, sabe? É isso que significa. Prática médica, ensino, pesquisa. Um montão de gente moça e madura trabalhando junta o tempo todo, fazendo, estudando e aprendendo medicina. E você é a razão de ser daquilo tudo. O foco. O alvo.

Primeiro veio uma jovem médica me atender. Residente, complementando a formação, como os demais da sua idade. Eles formam equipes em torno do médico titular, mais experiente, que é ao mesmo tempo o professor deles e o gestor do nosso prontuário. No meu caso é o Dr. Hugo Fontan Kohler. E eu fui recebido antes dele pela Dra. Estefani Albuja Rivadereira, uma elétrica e simpática equatoriana, que depois foi uma presença constante nos meus 17 dias de internação. Na primeira consulta, ela preencheu páginas do sistema com as minhas informações, detalhando em minúcias o meu histórico de saúde. 

Aí veio o Dr. Hugo, acompanhado dela e mais uns dois residentes, e me levou para uma sala mais equipada. Eu já estava com a biópsia feita, a pedido do cirurgião-dentista que identificou o tumor, e ele analisou as imagens e o laudo com os assistentes. Depois me examinou minuciosamente, com uma câmera enfiada no meu nariz e na boca aberta. Mais conversas e ponderações com os assistentes. Eu mal me aguentava de ansiedade, já atacado pela síndrome de jornalista em abstinência de informação. Só esperava o exame acabar, para iniciar a saraivada de perguntas. Dr. Hugo terminou, sentou num banquinho à minha frente, respirou fundo e me olhou. Lá vinha o veredito. O momento X. A hora da verdade. Eu estava tão nervoso que me adiantei. "Doutor, por favor, papo reto. Eu vivo de informação, a verdade me interessa. Vá ao ponto, me dê a real, eu aguento o tranco. Como está o meu tumor? Saio dele vivo?". 

Ele sorriu e respondeu, em três frases curtas. "É grande. Mas tem cura. E nós vamos buscar".

Foi tudo que eu precisei ouvir, para acalmar o medo e focar na meta. Conversamos mais uma tantão sobre o tratamento. Descarreguei meu arsenal de dúvidas e ele me explicou que o tumor era agressivo no local, mas não era expansivo, do tipo que dá metástase. Disse que teria de operar, que a cirurgia deixaria sequelas, mas tudo teria conserto mais à frente. E esse foi o início de uma relação de confiança, com o médico e o hospital, que só se fortaleceu nesses quatro anos.

Resumo da chegada? O começo do câncer é assustador, a gente está muito frágil e qualquer detalhe inquieta. Uma sala de espera cheia, um número de prontuário, um assistente que chega antes do médico, o exame de diagnóstico, a conversa sobre ele, tudo pode ser angustiante, na situação nova que se vive. Mas um atendimento acolhedor, tanto na gentileza com que nos recebem quanto no profissionalismo que demonstram, logo torna as coisas mais normais e o bicho-papão deixa de assustar. Você tem uma coisa perigosa dentro do corpo, mas está seguro, está em boas mãos. Foi buscar ajuda numa das principais instituições oncológicas da América Latina e ela te acolheu, mostrou firmeza. Agora é com você, com a sua força de espírito, com a sua vontade de vencer. Confiando nisso, tudo vai dar certo.

Sobre o autor

Gabriel Priolli é jornalista radicado em São Paulo. Trabalhou nos principais veículos de imprensa do país, dirigiu e criou canais de televisão, e foi professor na PUC, FAAP e FIAM. Hoje atua como consultor de comunicação.

Por que o A.C.Camargo Cancer Center?

Um Cancer Center não é um hospital, é uma plataforma completa de atendimento, incluindo prevenção, investigação, estadiamento, tratamento, cuidados paliativos e reabilitação. Tudo no mesmo local. 

 

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