Dados apresentados no encontro anual da AACR mostram que variante do gene DARC pode explicar maior agressividade do tumor
Por Dra. Vilma Regina Martins, superintendente de pesquisa no A.C.Camargo Cancer Center
Um estudo apresentado no encontro anual 2019 da American Association for Cancer Research (AACR) em Atlanta, nos Estados Unidos, mostrou que o índice de mortalidade por câncer de mama da população afrodescendente é maior quando comparado com a população branca.
Nas últimas cinco décadas, este índice continuou crescendo, independentemente de fatores como tempo de acesso ao tratamento e suas limitações. Apresentado pela Dra. Melissa Davis, do Weill Cornell Medicine, unidade de pesquisa da Cornell University em Nova Iorque, nos Estados Unidos, o estudo mostra que a biologia do tumor de mama pode ser diferente em afrodescendentes e a mortalidade desta população deve-se a uma incidência maior de tumores denominados triplo-negativos, que apresentam um pior desfecho clínico. Estes dados foram observados na atual população africana e nos seus descendentes em outros continentes.
Um ponto interessante mostrado pela pesquisa é que até mesmo os tumores triplo-negativos apresentam diferenças moleculares quando as duas populações (afrodescendentes e brancas) são comparadas. Em pessoas com ancestralidade na África Subsaariana, uma variante alélica do gene denominado DARC, associada a uma diminuição da resposta imune, é mais frequente e poderia explicar a maior agressividade destes tumores na população afrodescendente. Acredita-se que este alelo possa ter sido selecionado evolutivamente nesta população associado à resistência à malária.
Estudos de ancestralidade genética e a descoberta de variações em genes como o DARC podem ter implicações importantes na população brasileira, que é bastante miscigenada. Trazendo para nossa realidade, a identificação deste tipo de variante genética poderia ajudar a reconhecer pacientes com maior risco e a oferecer um tratamento mais adequado.