A identificação dessas mutações pode melhorar estratégias de prevenção desse tipo de câncer
Por Dr. Israel Tojal da Silva, head do grupo de Biologia Computacional e Bioinformática do A.C.Camargo Cancer Center
Já sabemos que o câncer é uma doença multifatorial com forte componente genético. Embora o conhecimento acumulado ao longo dos anos a respeito dos fatores de risco do câncer, como o meio ambiente, alimentação e estilo de vida, ajude a compreender as muitas causas do câncer, as mutações que resultam dessas exposições ambientais e seus processos celulares endógenos não são totalmente entendidas.
Para compreender melhor a relação entre os agentes externos que aumentam o risco do câncer e as mutações celulares, a Dra. Jessica Zucman-Rossi, da Université Paris Descartes, apresentou em palestra no congresso AACR os achados de seu trabalho com amostras de centenas de pacientes com câncer de fígado, um modelo ideal para estudar essas interações. A Dra. Jessica e sua equipe se dedicam a identificar as origens genéticas e ambientais que determinam o desenvolvimento de tumores.
Neste seu projeto ela foi capaz de identificar assinaturas mutacionais que, por sua vez, foram associadas às exposições ambientais específicas, incluindo fumo e exposições alimentares a partir do consumo de microtoxinas produzidas por espécies de fungos e de plantas que contêm ácidos aristolóquicos. Esses ácidos, sintetizados pelas plantas do gênero Aristolochia, são usados em medicamentos tradicionais na Ásia e em outros lugares.
Assinaturas associadas às mutações herdadas em genes de reparo de DNA foram também observadas. Essas descobertas lançam nova luz sobre a história natural dos cânceres de fígado. A identificação de exposições associadas à iniciação de tumores pode melhorar estratégias de prevenção e esclarecer as diferenças observadas no câncer entre as populações que estão expostas aos fatores de riscos específicos, encontrados no ambiente que vivem.